Bolsonaro parte para sua décima eleição com muito a perder — e isso pode ser decisivo
Presidentes anteriores disputaram e levaram a reeleição; mas na comparação com antecessores, atual governante chega em pior situação nos meses que antecedem a eleição



Jair Bolsonaro é um político vencedor. Disputou e venceu nove eleições seguidas. Uma para vereador, sete para deputado federal e a última para presidente da República. Mas a disputa que se avizinha é inédita. Nunca tanto esteve em jogo para o capitão da reserva — e ele nunca teve tanto a perder.
A história agora já é das mais conhecidas: deputado do baixo clero, Bolsonaro decidiu se lançar ao Planalto sem muitas chances e sem muita convicção.
Não achava que venceria, mas sabia que a exposição traria visibilidade para o clã Bolsonaro.
Rareavam aliados, não havia partido disposto a apoiá-lo na empreitada e, até aos 47 do segundo tempo, custou para conseguir alguém disposto a ser seu vice.
A onda bolsonarista, no entanto, bateu e pegou demais. O baixo clero então subiu a rampa e, com ele, a família Bolsonaro ganhou notoriedade, influência e poder que jamais imaginaria.
Mas a história agora já é outra: Bolsonaro tem trajetória a defender, um projeto de poder a confirmar — e uma legião de neoaliados a agradar.
O presidente tem partido grande bancando a candidatura, tempo de TV, fila de candidatos a vice e um rival a desbancar. Afinal, Bolsonaro derrotou o PT na última eleição, mas não venceu Lula — na ocasião, o ex-presidente estava preso em Curitiba e proibido de disputar o pleito.
Nenhum presidente perdeu a chance de ser reeleito desde que a possibilidade de segundo mandato passou a valer.
Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e os petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff: todos disputaram e levaram a reeleição. O problema é que Bolsonaro chega em desvantagem. Na comparação com os antecessores, ele entra nos meses que antecedem a eleição em pior situação.
Enquanto todos os anteriores já apareciam liderando pesquisas de intenção de voto a esta altura, Bolsonaro segue remando muitos pontos atrás de Lula.
Esse cenário por si só já nos indicaria que Bolsonaro vai entrar pesado e jogar tudo o que tem para tentar se aproximar de Lula.
Mas há ainda um fato que não pode ser ignorado. O retrospecto vitorioso de FHC, Lula e Dilma nos lembra que quem está na cadeira e com a caneta na mão tem muitas armas a usar.
“Ter a máquina na mão”, como se fala no jargão da política, significa usar a exposição do cargo e a força do estado a seu favor.
Os petistas sabem disso e, nos bastidores, costumam lembrar do poder presidencial. Se é do jogo da política, o risco está no custo para o país.
Com problemas em série na economia — inflação, alta da gasolina, crescimento titubeante, desemprego resiliente — Bolsonaro volta e meia flerta com medidas populistas ou, no mínimo, de alto custo fiscal.
A estratégia a ser empenhada na campanha em si também inspira preocupação da Justiça Eleitoral, que andou mandando recados à militância e ao “QG” bolsonarista de que é preciso respeitar as leis.
Bolsonaro tem pouco mais de sete meses para a eleição mais decisiva de sua vida. Serão meses cruciais para o país.
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