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    Hacker à CPMI: Pedido de Bolsonaro para assumir grampo contra Moraes, indulto, código-fonte fake das urnas e mais

    Hacker explicou durante depoimento à CPMI do 8 de janeiro os encontros que teve com a deputada Carla Zambelli (PL-SP)

    Da CNN

    Walter Delgatti Neto, conhecido como hacker da Vaza Jato, explicou durante depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro nesta quinta-feira (17) os encontros que teve com a deputada Carla Zambelli (PL-SP) e disse que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pediu para que ele assumisse a autoria de um grampo que teria sido realizado contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

    Além disso, Delgatti afirmou que a deputada pediu para ele invadir algum site da Justiça para mostrar a fragilidade do sistema e criar uma forma de provar que as urnas eletrônicas não eram confiáveis por meio da criação de um código-fonte próprio.

    As revelações de Delgatti na CPMI

    • Hacker afirmou que aceitou encontro com Zambelli por emprego oferecido
    • Pedido para adulterar urna eletrônica com código-fonte falso
    • Ida ao Ministério da Defesa enviado por Bolsonaro
    • Falso mandado de prisão contra Moraes enviado por Zambelli
    • Pedido de Bolsonaro para assumir grampo contra Moraes
    • Pedido de Zambelli para invadir sistema da Justiça
    • Indulto assegurado por Bolsonaro
    • Senhas inseguras do Conselho Nacional de Justiça (CNJ)
    • Bolsonaro, Zambelli e Duda Lima: hacker dá nomes de quem deu ordens para cometer ilícitos
    • Bolsonaro disse que mandaria prender juiz, caso eu fosse preso, afirma hacker
    • Ameaça de morte de advogado

    Encontro com Bolsonaro e Zambelli

    Delgatti detalhou um encontro que teve com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), o ex-ajudante de ordens Mauro Cid, e o general Marcelo Câmara.

    “A ideia era falar sobre as urnas, e a conversa foi técnica até que o presidente me disse: ‘A parte técnica eu não entendo. Então, eu irei enviá-lo ao Ministério da Defesa e com os técnicos você explica tudo isso’. A conversa se resumiu a isso. E ele pediu que eu fizesse o que o Duda [Lima] havia dito sobre o 7 de setembro.”

    Conforme Delgatti explicou anteriormente, interlocutores do Partido Liberal (PL) lhe propuseram utilizar um aplicativo em uma urna eletrônica (possivelmente emprestada pela Ordem dos Advogados do Brasil) mostrando que era possível o eleitor selecionar um candidato e o dispositivo contabilizar voto para outro.

    O hacker afirmou ter aceitado o encontro com a parlamentar por ela ter lhe oferecido um emprego.

    “Nisso, apareceu a oportunidade da deputada Carla Zambelli de um encontro com o Bolsonaro. Ele queria que eu autenticasse a lisura das eleições e, por ser o presidente da República, eu fui ao encontro. Eu estava desamparado, sem emprego, e ofereceram um emprego a mim. Por isso que fui até eles”, declarou Delgatti.

    Ao ser questionando pela relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), o hacker Walter Delgatti Neto declarou que seu encontro com membros do Partido Liberal (PL), em agosto de 2022, teve como objetivo discutir a “fragilidade das urnas eletrônicas”.

    “A segunda ideia era, no dia 7 de setembro, eles pegarem uma urna, colocar um aplicativo meu lá e mostrar à população que é possível apertar um voto e sair outro. Eu faria o código-fonte da urna, não o do TSE. E nesse código meu eu inseria essas linhas, de códigos maliciosos. Feita para mostrar que a urna, se manipulada, sairia outro resultado. Um código-fonte fake.”

    Grampo contra Moraes

    Delgatti Neto disse que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pediu que ele assumisse a autoria de um grampo que teria sido realizado contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

    Ele relatou que esse pedido teria sido feito por Bolsonaro por telefone quando ele encontrou a deputada Carla Zambelli em um posto de combustível na rodovia Bandeirantes, em São Paulo. Segundo Delgatti, Zambelli pegou um celular novo, inseriu um chip que ele acredita nunca ter sido utilizado, e o então presidente Jair Bolsonaro entrou em contato.

    “Nisso eu falei com o presidente da República e, segundo ele, eles haviam conseguido um grampo – que era tão esperado à época – que era do ministro Alexandre de Moraes. Segundo ele, esse grampo foi realizado já, teria conversas comprometedoras do ministro e ele precisava que eu assumisse a autoria desse grampo”, disse o hacker.

    Ele explicou que à época sua imagem estava atrelado às mensagens que ele obteve de promotores da Lava Jato: “Então seria difícil a esquerda questionar essa autoria, porque lá atrás eu havia assumido a Vaza Jato e eles apoiaram.”

    “Então a ideia seria o garoto da esquerda assumir esse grampo”, continuou Delgatti.

    “Ele disse no telefonema que esse grampo foi realizado por agentes de outro país. Não sei se é verdade, se realmente aconteceu o grampo porque não tive acesso a ele. E disse que em troca eu teria o prometido indulto e ele ainda disse assim: “Se caso alguém te prender, eu mando prender o juiz” e deu risada”, completou.

    Delgatti disse que entendeu que esse grampo seria suficiente “pra alguma ação contra o ministro” e para fazer com que as eleições fossem realizadas com a urna que imprimisse o voto. Ele afirmou que concordou porque era uma proposta do presidente da República: “Ficaria até difícil falar não.”

    Indulto garantido por Bolsonaro

    Ao ser questionado pelo deputado federal Duarte Junior (PSB-MA), o hacker Walter Delgatti Neto afirmou à CPMI do 8 de janeiro, nesta quinta-feira (17), que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) lhe deu “carta branca” para que ele fizesse “o que quisesse” com relação às urnas eletrônicas.

    “Ele [Bolsonaro] me deu carta branca para fazer o que eu quisesse relacionado às urnas. Eu poderia, segundo ele, cometer um ilícito que seria anistiado, perdoado, indultado no caso”, declarou Delgatti.

    Zambelli pediu invasão do sistema da Justiça, diz Delgatti

    “A deputada me disse que eu precisava invadir algum sistema de Justiça, ou o TSE em si, ou alguma invasão que mostrasse a fragilidade do sistema de Justiça, dizendo que seria uma ordem também do presidente [Jair Bolsonaro]”, disse.

    O hacker, no entanto, destacou que não ouviu isso de Bolsonaro.

    “Me comprometi e fiz a invasão do CNJ [Conselho Nacional de Justiça]. A partir do CNJ, [tive acesso a] todos os tribunais do país. Eu tive acesso a todos os processos, senhas de juízes e servidores e fiquei por quatro meses na intranet da Justiça brasileira – de todos os tribunais, inclusive do TSE”, acrescentou.

    Visitas ao Ministério da Defesa para discutir urnas eletrônicas

    “[Estive lá] cinco vezes. Eu conversei com o ministro [Ciro] Nogueira e também com o pessoal da TI. A ideia inicial era que eu inspecionasse o código-fonte, mas eles explicaram que ele só ficava no TSE e apenas servidores do Ministério da Defesa teriam acesso. Tudo que expliquei a eles consta no relatório que foi entregue ao TSE. Eu posso dizer que aquele relatório, de forma integral, foi exatamente o que eu disse. Eu apenas não digitei, mas eu que fiz ele porque tudo o que consta nele foi indicado por mim.”

    “Nem eu, nem ninguém conseguiria mudar código-fonte da urna após lacre”, diz hacker

    “Eu não tive acesso ao código-fonte, porque ele fica em um computador offline. Seria impossível acessá-lo. Se não tem acesso à internet, logo impossível eu ter acesso a ele. Nem eu, nem ninguém [conseguiria acessá-lo].”

    Senha mais segura era “123mudar”

    A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), durante seus questionamentos ao hacker Walter Delgatti Neto na CPMI do 8 de janeiro, relembrou o mandado de prisão falso inserido ilegalmente nos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) por Delgatti.

    Ela questionou o hacker sobre as senhas “simples e idiotas” do sistema.

    “A senha root, que é a senha master, que tem acesso a tudo, era “123mudar”. A segunda senha mais segura era “cnj123”, e a terceira “12345””, disse Delgatti.

    Nomes de quem fez pedidos para execução de ilícitos

    O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) e o marqueteiro Duda Lima foram citados após questionamentos do deputado federal Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ)

    Bolsonaro disse que mandaria prender juiz, caso eu fosse preso, afirma hacker

    Delgatti Neto afirmou aos parlamentares da CPMI do 8 de janeiro que, além de prometer um indulto, o ex-presidente Jair Bolsonaro disse: “Caso alguém te prenda, eu mando prender o juiz” e deu risada.

    A declaração de Bolsonaro teria sido feita em conversa telefônica com o hacker, na qual o ex-presidente teria pedido que Delgatti assumisse a autoria de um grampo que teria sido realizado contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

    Meu advogado recebeu ameaça de morte, diz hacker

    Ao ser questionado pela deputada federal Duda Salabert (PDT-MG), o hacker Walter Delgatti Neto afirmou à CPMI do 8 de janeiro, nesta quinta-feira (17), que seu advogado recebeu ameaças de morte.

    “Eu não recebi [ameaças de morte], mas meu advogado recebeu. Ele fez boletim de ocorrência e tem mensagens e áudios das ameaças”, declarou Delgatti.

    Outro lado

    À CNN, Valdemar Costa Neto rebateu acusações feitas pelo hacker nesta quinta-feira (17), na CPMI do 8 de janeiro.

    “Tudo conversa mole. Não tinha motivo para grampear celular de Moraes. Só bobagem. Em agosto, eu me dava muito bem com o Alexandre de Moraes, fui até tomar café da manhã na casa dele aqui em Brasília. Nossa briga começou na campanha, depois do primeiro turno das eleições”, disse o presidente do PL.

    O advogado do ex-presidente de Jair Bolsonaro (PL), Fabio Wajngarten, usou as redes sociais para rebater as falas do hacker Walter Delgatti. Na publicação, ele diz que desconhece quem tenha feito uma reunião individual com Bolsonaro de 1h30min e acusa Delgatti de mentir em seu depoimento.

    Wajngarten também escreveu que “em nenhum momento sequer cogitaram a entrada técnicos de informática, muito menos alpinistas tecnológicos na campanha” de Bolsonaro. O advogado negou a realização de um grampo contra “qualquer ente político do Brasil por parte do entorno primário do presidente [Bolsonaro]”.

    Em nota, o marqueteiro Duda Lima – responsável pela campanha à reeleição de Bolsonaro – declarou nunca ter participado de reunião com Delgatti.

    “Encontrei com esse rapaz na escada do partido, não sabia quem ele era e nem quem estava com ele”, disse Duda Lima.

    Também em nota, a defesa de Carla Zambelli “reitera que somente se manifestará após integral conhecimento do conteúdo dos autos – o que ainda não aconteceu, inclusive de referido depoimento, porém reforça e rechaça qualquer acusação de prática de conduta ilícita e imoral pela parlamentar, inclusive, negando qualquer tipo de pagamento ao mencionado hacker”.

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