Bolsonaro conseguiu o que queria com indulto: permanecer no noticiário, diz Lula
Ex-presidente justificou seu silêncio desde decreto em benefício de Daniel Silveira: “Ele [Bolsonaro] abafou o Carnaval. Fez isso na quinta-feira e isso ficou no noticiário na sexta, no sábado, no domingo e na segunda”
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que o indulto individual concedido ao deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) foi uma estratégia do presidente Jair Bolsonaro (PL) para permanecer no noticiário durante o Carnaval e que a crise entre o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal (STF) “não é normal”.
Silveira foi condenado na quarta-feira (20) a oito anos e nove meses de prisão por ataques verbais e ameaças a ministros do STF. No dia seguinte, Bolsonaro publicou um decreto para perdoar a pena por meio da chamada graça constitucional ou indulto individual.
Lula se manteve em silêncio sobre o episódio e vinha sendo cobrado por outros pré-candidatos à Presidência, como Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB), a se manifestar publicamente sobre o assunto.
Nesta terça-feira (26) ele falou pela primeira vez sobre o tema durante uma entrevista a youtubers e jornalistas.
“O Bolsonaro foi estúpido quando fez essa decisão [indulto a Daniel Silveira] que ele tomou, essa graça que ele fez. Ele acha que é uma graça mesmo, não no sentido jurídico, mas do ponto de vista de sorrir. Ele foi medíocre”, disse.
A CNN questionou a assessoria de imprensa do Palácio do Planalto sobre as críticas do ex-presidente a Bolsonaro e aguarda uma resposta.
Lula justificou seu silêncio desde que Bolsonaro editou o decreto em benefício de Daniel Silveira.
“Essa é uma discussão que eu nem comentei nada porque tudo o que ele queria aconteceu. Ele abafou o Carnaval. Fez isso na quinta-feira e isso ficou no noticiário na sexta, no sábado, no domingo e na segunda. Tudo o que ele quer é que ele permaneça no noticiário, o que aconteceu”, afirmou.
O petista ainda criticou a crise entre Bolsonaro e os ministros do Supremo.
Para Lula, “estamos com um problema no Brasil que é reconstruir instituições que estavam funcionando”.
E completou: “Você acha que é normal a briga entre o presidente e a Suprema Corte? Não é normal, algo está errado. O ministro da Suprema Corte e o presidente da República não têm que ficar trocando farpas. Ou seja, a Suprema Corte julga e o presidente governa, e cada um cumpre a sua função”.
Para o ex-presidente, Bolsonaro “tem o direito de fazer o indulto” e disse que não sabe se a condenação de Silveira está certa, por não ser advogado.
“Mas se ele [Silveira] desrespeitou e [Bolsonaro] fez o indulto, quem é que vai julgar? A própria Suprema Corte. O que aconteceu? Ele [Bolsonaro] transformou isso num fato político que a imprensa não fala em outra coisa que não seja isso. De manhã, de tarde, de noite. Se o deputado for candidato, vai ter o triplo de votos da outra vez porque ficou conhecido”, afirmou.
Crítica a pastores bolsonaristas
Durante a entrevista, Lula foi questionado sobre a oposição que enfrenta de pastores evangélicos alinhados a Bolsonaro. Segundo o ex-presidente, não se pode confundir o povo evangélico com os pastores.
“A gente não tem que conversar com pastor, com farofeiros que pregam em nome de Deus, mas que cometem pecados todos os dias. Temos que conversar com o povo evangélico, discutindo os problemas do Brasil”, disse.
Lula afirmou que os evangélicos “nunca foram tão respeitados” como no tempo em que foi presidente da República.
“Por mais que não gostem de mim, eles podem dizer que na minha época se comia mais e se ganhava mais, pois o salário-mínimo era aumentado anualmente com a reposição inflacionária, dando o aumento real do crescimento do PIB. Aumentamos o salário-mínimo em quase 75% e as pessoas sabem disso”, disse o petista.
*Publicado por Estêvão Bertoni, com informações de Carolina Ferraz, da CNN, em São Paulo