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    Bloco na rua; preto e dourado: registros mostram vazamentos de ações da PF no RJ

    As frases, cifradas, foram disparadas por um dos homens que é acusado de integrar o esquema de desvio de verbas no Estado

    Carro da Polícia Federal (PF) deixa o Palácio Laranjeiras, no Rio, durante operação que teve como alvo o governador Wilson Witzel
    Carro da Polícia Federal (PF) deixa o Palácio Laranjeiras, no Rio, durante operação que teve como alvo o governador Wilson Witzel Foto: Pilar Olivares - 26.mai.2020/Reuters

    Daniel AdjutoDaniela LimaRenata Agostinida CNN

    “Bloco na rua amanhã. Fica esperto. Preto e dourado”. Três mensagens recuperadas pelos investigadores que atuam na apuração que levou ao afastamento do governador Wilson Witzel expõem  de maneira cristalina a dificuldade que autoridades do Estado têm para manter operações em sigilo. 

    As frases, cifradas, foram disparadas por um dos homens que é acusado de integrar o esquema de desvio de verbas no Estado. Alessandro Duarte aparece nas apurações como membro do grupo que municiava pessoas ligadas ao empresário Mário Peixoto, hoje preso, com informações. 

    Ele disparou as três mensagens na véspera da deflagração da Operação Favorito, uma das que abriu caminho para as acusações que hoje pesam sobre o governador Wilson Witzel; seu vice, Claudio Castro; o presidente do partido do governador, Pastor Everaldo; o presidente da Assembleia Legislativa, André Ceciliano; integrantes de secretarias, empresários e uma série de outros políticos do Estado. 

    A expressão “Bloco na rua amanhã” indicava a ação da Polícia Federal –preto e dourado são as cores dos carros oficiais utilizados pelos agentes do órgão. 

    “Tu é da onde? Operação amanhã”

    Este não foi o único sinal disparado por Alessandro. Depois de comunicar um primeiro interlocutor, ele escreveu texto semelhante para Ramon Neves, subsecretário de Agricultura do Rio. 

    Às 22h42 do dia 13 de maio, Alessandro enviou ao subsecretário a mensagem: “Cor preta e dourada”. Só que Ramon Neves não decifrou o código e aí Alessandro se viu obrigado a ser mais explícito: “Caralhoooooooooo [sic]. Tu é da onde[?]. Operação amanhã”.

    “Ai, caramba. Vai pegar quem?”, respondeu o subsecretário, segundo cópia das mensagens anexadas ao processo que tramina no Superior Tribunal de Justiça.

    Contatos na Polícia Federal

    Os autos da ação que levaram ao afastamento de Witzel e abriram novo capítulo na crise política do Rio estão recheados de citações a vazamentos de operações.

    Edmar Santos, ex-secretário de Saúde do Estado que se tornou delator e peça-chave para as investigações, relatou alguns desses episódios. Segundo disse aos investigadores, ele chegou a ser alertado por integrantes do grupo chefiado pelo Pastor Everaldo de que deveria procurar um advogado, antes da deflagração da Operação Favorito, que prendeu o empresário Mário Peixoto e avançou sobre o suposto esquema de fraudes liderado por Witzel. 

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    De acordo com Santos, na véspera da operação, ele recebeu uma ligação na qual um integrante do esquema o alertou sobre a iminente prisão de Peixoto. Na manhã seguinte, em 14 de maio, a operação e a prisão se concretizaram.

    O delator contou que já havia sido informado anteriormente sobre os “muitos contatos” desse interlocutor, José Carlos de Melo, na Polícia Federal.

    Santos disse aos investigadores que, ainda em abril, recebeu uma ligação de José Carlos com uma consulta sobre se ele gostaria de auxílio para contratar um advogado. 

    A Favorito só estourou em maio, mas foi autorizada pela Justiça do Rio em fevereiro. A pandemia do novo coronavírus obrigou os investigadores a adiarem a operação.

    Grampos telefônicos autorizados pela Justiça mostram que, àquela altura, integrantes do grupo já sabiam que estavam sendo monitorados. No relato feito aos investigadores, Santos disse que chegou a ser avisado de uma operação que acabou não ocorrendo.

    Ele foi alvo de uma busca e apreensão na Operação Placebo, que sucedeu a Favorito. Nesse dia, não recebeu, segundo disse na delação, qualquer alerta.

    Edmar Santos também delatou supostas entregas de dinheiro em espécie que teriam sido preciptadas por “temor” de buscas e apreensões no Palácio das Laranjeiras, onde mora o governador do Rio. 

    Segundo o relato do delator, o Pastor Everaldo, acusado de liderar um braço do esquema, contou ter recebido R$ 15 mil em dinheiro vivo das mãos de Witzel, que queria se desvenciliar das notas. Isso antes da Operação Placebo, que ocorreu no fim de maio. 

    Segundo o Ministério Público Federal, o pastor Everaldo comandava contratações e o destino de parte do Orçamento do Rio. Os investigadores cruzaram elementos colhidos com a delação de Edmar Santos e relatórios de inteligência do COAF e identificaram que o pastor utiliza os filhos no esquema. 

    O governador Wilson Witzel nega todas as acusações e diz que não há provas de que tenha se envolvido em qualquer esquema ilegal. Em nota, o Pastor Everaldo disse que estava à disposição para prestar depoimentos e que foi surpreendido com a operação que levou à sua prisão, nesta sexta (28). Ele também afirmou confiar na Justiça.