Ataque ao STF é manifestação extremamente agressiva, diz ex-ministro Rezek
"As posições mais agressivas e virulentas de alguns extratos da população se inspiram no exemplo e na própria exortação do governante", diz o ex-ministro do STF
Ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Francisco Rezek disse à CNN, nesta segunda-feira (15), que o ataque ao prédio da Corte, na noite do último sábado (13), foi uma “manifestação extremamente agressiva”.
“Em geral, fogos de artifício significam festa e celebração, mas foi exatamente o contrário. Eles estavam sendo usados como uma forma estilizada de se bombardear o tribunal como ele foi, de fato, bombardeado com palavras, como é normal, nos dias atuais, na Praça do Três Poderes”, avaliou.
“[São] palavras de baixo calão, de grosseria e caráter extremamente rasteiro. E é essa agressividade que põe em risco a paz coletiva e a própria segurança pública”, acrescentou.
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Rezek refletiu sobre os limites da liberdade de expressão, que é garantida pela Constituição, e disse que a validade vai até a linha dos “limites da civilidade”.
“Ninguém será preso neste país por defender, por exemplo, a restauração do Império ou a volta às capitanias hereditárias, mas na medida em que qualquer proposta extravagante se vocaliza com agressividade e quebra do padrão mínimo de civilidade e respeito recíproco, a autoridade pública tem que intervir”, defendeu.
Para o ex-ministro, “essa agressividade não nasce espontaneamente de um bando de 30 ou 300 elementos do povo”, referindo-se ao “300 do Brasil”, movimento da ativista Sara Winter, que foi presa hoje.
“Toda essa virulência é inspirada a partir de alguns escaninhos do poder público, destacadamente do governo que se estabeleceu no começo do ano passado e que, a partir do começo deste ano, atingiu proporções que ninguém esperava que alcançássemos”, considerou.
“A célebre reunião palaciana, de 22 de abril, que foi levada a público a pedido de Sergio Moro, diz tudo sobre o clima que estamos vivendo e sobre o nível de debate a que chegou o governo da República, e isso na medida em que as posições mais agressivas e virulentas de alguns extratos da população se inspiram no exemplo e na própria exortação do governante”, criticou.
E concluiu: “Dá para considerar que vivemos em uma situação exótica, indesejável sob qualquer ponto de vista e que certos titulares de função pública deveriam se empenhar em salvar a própria face perante a história ao não deixar que isso acontecesse”.
(Edição: Marina Motomura)