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    Após queda e brigas, PSDB vê retorno da força de Aécio e busca por reunificação com Perillo

    Partido escolheu ex-governador de Goiás para ser o novo presidente do partido

    Douglas Portoda CNN , São Paulo

    A chegada de Marconi Perillo ao comando PSDB tem como desafio a retomada do protagonismo político do partido, visto até as eleições de 2014, e a reunificação dos tucanos.

    A legenda passa por uma diminuição das bancadas no Congresso Nacional e perda de quadros históricos.

    As eleições municipais em 2024 serão o primeiro desafio do novo líder tucano, que deseja ter candidaturas próprias em todas as capitais e grandes cidades. “O partido que quer voltar a ser grande, que ter uma participação efetiva e que quer ser protagonista nas eleições de 2026, precisa dessa capilaridade no país inteiro”, disse Perillo à CNN.

    No entanto, no caminho até o pleito, o partido precisará passar por uma reorganização interna.

    “O que você tem no PSDB hoje? Uma tentativa de reconstrução liderada pelo Eduardo Leite, mas uma cisão ainda muito grande”, diz Marco Teixeira, professor do Departamento de Gestão Pública da Fundação Getúlio Vargas (FGV), referindo-se ao antecessor de Perillo no cargo.

    Para José Alves Trigo, analista político e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, a legenda perdeu sua identidade social-democrata com tendências à esquerda, vistas principalmente durante o governo de Fernando Henrique Cardoso.

    “Defendendo uma independência, recentemente ficou isolado na disputa entre petistas e bolsonaristas”, explica.

    Um reflexo da crise tucana é o Congresso Nacional. No último pleito em que rivalizou com o PT no cenário nacional, em 2014, os tucanos conseguiram manter uma base de 54 deputados na Câmara e 10 senadores.

    Em 2018, perdeu quase a metade de sua bancada, restando 29 deputados. No Senado, ficaram oito parlamentares.

    Quatro anos depois, uma nova queda de impacto, caindo de 29 para 13 deputados, e de oito para quatro senadores — número que já caiu para dois, com a desfiliação de Mara Gabrilli, agora no PSD, e Alessandro Vieira, hoje no MDB.

    Veja o panorama:

    “O tiro de morte do PSDB pensando aqui no eixo São Paulo-Minas vem sobretudo com a perda do governo do estado de São Paulo no ano passado pelo Rodrigo Garcia, que é que era um ‘neo-tucano'”, analisa Teixeira, em referência ao fato de, depois de sete mandatos seguidos, os tucanos ficarem sem o comando do território paulista.

    O cientista político Henrique Curi, autor do livro “Ninho dos Tucanos: o PSDB em São Paulo”, cita que a perda de São Paulo é fundamental para entender não apenas o contexto atual do partido, mas para entender o partido.

    “Você não ver hoje dentro do partido, dentro dessa disputa do Diretório Nacional, alguém forte em São Paulo é algo muito simbólico por um partido que se construiu de São Paulo e nasceu ali com os principais quadros paulistas”, comentou.

    A perda do governo do estado de São Paulo mostrou para o PSDB nacional que os quadros paulistas Já não são mais necessariamente os principais, como acontecia anos atrás

    Henrique Curi

    Brigas regionais e o futuro tucano

    Segundo Marconi Perillo, um de seus desejos frente à legenda é reunificar o diretório de São Paulo. Em outubro, durante sua presidência, Eduardo Leite fez uma intervenção no diretório paulistano da sigla e entregou a presidência do partido para um desafeto do grupo próximo ao prefeito Ricardo Nunes (MDB), que foi vice de Bruno Covas, tucano histórico que morreu em 2021.

    “Eu não serei um presidente centralizador e muitos menos que se mistura nessas questões que são da alçada municipal ou estadual”, disse Perillo à CNN, ressaltando que novas eleições serão realizadas nos diretórios municipal e estadual de São Paulo.

    “Não sei quando, mas também faremos a convenção municipal na cidade de São Paulo e eu tenho certeza que tanto o Diretório Estadual, quanto o municipal, se debruçarão em relação a esse tema, de forma apropriada”, prosseguiu.

    “Novo horizonte”

    Em entrevista à CNN, Fernando Alfredo, que foi retirado da presidência do diretório paulistano, diz que Perillo estar no comando do PSDB representa um “novo horizonte de oportunidades” para um “partido que, de fato, ficou devassado”.

    “Entre as condições que ele colocou para assumir esse desafio, foi ter liberdade e autonomia para resolver essa questão política de São Paulo. Acho que ele com muita maturidade, com a experiência que ele tem, de ter sido governador quatro vezes, vai resolver isso olhando a militância, olhando a base do partido”, finaliza.

    Na avaliação de Marco Teixeira, o partido está em um processo de recomposição de prestígio, tentando lançar novas lideranças, como Leite e Raquel Lyra, governadora de Pernambuco, que chegou até a ver seu nome envolvido numa possível saída do partido. Mas não se sabe “o quanto esses nomes vão ganhar projeção nacional”.

    O retorno da força partidária de Aécio

    A chegada de Perillo ao comando do PSDB teve a influência de Aécio Neves (MG). Durante a eleição, o deputado federal disse que estava “extremamente feliz com o desfecho da nossa convenção”.

    Na ocasião, Aécio cita que Leite será a grande aposta do partido para a eleição presidencial em 2026, o que foi ratificado por Perillo em entrevista à CNN.

    “O presidente Eduardo Leite é nossa grande aposta para 2026 e vai ser sucedido por um tucano raiz. Conseguimos chegar em harmonia com uma só chapa do diretório e uma só chapa da Executiva. Isso por si só é a demonstração de que o PSDB tem responsabilidades com o país”, prosseguiu Aécio.

    Segundo o ex-governador de Minas Gerais, a meta do PSDB hoje é “construir um projeto de centro em oposição ao atual governo, mas que permita que o Brasil tenha uma opção entre os dois extremos que hoje polarizam a disputa política no Brasil”.

    Henrique Curi observa que essa nova configuração tucana “está mostrando uma volta da força do Aécio Neves”, principalmente após o STF rejeitar por unanimidade a denúncia da Operação Lava Jato por corrupção e lavagem de dinheiro quando ele foi governador de Minas Gerais e senador.

    “Na minha concepção, tem uma disputa inerente entre os grupos intrapartidários pelas principais decisões do partido”, diz Curi, “mas mostra muito que de fato as cadeiras estão girando dentro do PSDB e você não necessariamente tem mais o grupo do Eduardo Leite como o mais forte”.

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