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    Após pedido de prisão, delegado do caso MEC irrita membros da PF e deve sofrer represálias

    Para delegados da instituição ouvidos pela CNN, Bruno Calandrini pode responder por abuso de autoridade depois de pedir prisão da cúpula da PF

    Basília Rodriguesda CNN

    O pedido de prisão de integrantes da cúpula da Polícia Federal apresentado pelo delegado Bruno Calandrini indignou outros integrantes da corporação, também delegados, e colocou em risco a permanência dele na instituição.

    Para colegas de corporação, Calandrini pode responder por abuso de autoridade, a menos que consiga justificar o pedido de prisão.

    Calandrini é responsável pela investigação que prendeu o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro e vinha denunciando que a PF concedeu tratamento diferenciado ao ex-ministro.

    A informação sobre o pedido de prisão contra o alto escalão da PF foi publicada, neste sábado, pelo site Metrópoles e confirmada pela CNN. A decisão agora cabe à ministra Carmén Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF). O STF informou que o processo é sigiloso e não confirmou informações.

    Em junho, o delegado denunciou que houve tratamento diferenciado da PF ao ex-ministro, que não foi levado de Santos, litoral paulista, para Brasília devido a uma decisão superior. Ele enviou mensagem a colegas em que afirmou que o ex-ministro recebeu da PF “honrarias não existentes na lei”.

    Semanas depois, a Polícia Federal abriu uma sindicância para investigar a conduta do delegado. Calandrini também foi retirado do setor que investiga pessoas com foro privilegiado e transferido para o departamento de crimes cibernéticos.

    Negando se tratar de represália, a PF informou na época que a mudança teria ocorrido a pedido do próprio delegado. Apesar de haver uma expectativa interna de que Calandrini não recuaria da acusação contra a cúpula da PF, o pedido de prisão foi duramente criticado e surpreendeu alguns integrantes da corporação, com que a CNN conversou neste sábado.

    O pedido foi classificado de grave e drástico por fontes em Brasília. Delegados que já trabalharam no mesmo grupo que Calandrini avaliaram, sob reserva para CNN, que a denúncia de interferência é de difícil configuração.

    Para eles, o pedido apenas se justificaria se houvesse elementos como gravações ou mensagens. Caso contrário, estaria mais para um manifesto de insubordinação. Para essas fontes, mesmo que a justiça não acolha, o pedido de prisão deixa estragos na imagem da instituição. Com base nisso, a permanência de Calandrini na corporação é considerada insustentável, e dificilmente ele não sofrerá represálias.

    Procurado, o delegado Bruno Calandrini não respondeu às tentativas de contato por telefone e mensagens. Também a Polícia Federal não se posicionou oficialmente. Já o advogado do ex-ministro Milton Ribeiro, Daniel Bialski, acusou o delegado de cometer “diversos abusos” e “usar a máquina para fazer política contra o governo”, afirmou à CNN.

    Desde que o caso chegou ao Supremo, em junho, o advogado afirma que não consegue ter acesso ao processo porque não recebeu autorização da justiça. Em um telefonema interceptado pela investigação, o ex-ministro afirmou que o presidente Jair Bolsonaro lhe relatou um “pressentimento” de que a PF cumpriria mandado de busca e apreensão sobre supostas fraudes na liberação de verbas do Ministério da Educação (MEC). O ex-ministro chegou a ficar um dia preso. Depois, o governo o demitiu.

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