Após investidores estrangeiros, Mourão vai debater Amazônia com CEOs do Brasil
A expectativa é de que a conversa ocorra na sexta-feira (10), um dia após videoconferência semelhante com representantes de fundos globais de investimentos
O vice-presidente Hamilton Mourão, que está à frente do Conselho Nacional da Amazônia Legal, pretende fazer uma reunião com os empresários brasileiros que assinaram um documento pedindo rigor na fiscalização do desmatamento ilegal na Amazônia.
A expectativa é de que a conversa ocorra na sexta-feira (10), um dia após videoconferência semelhante com representantes de fundos globais de investimentos, que também questionaram as políticas do governo Jair Bolsonaro para a região.
No mês passado, uma carta assinada por 29 gestores de investimentos internacionais, que somam US$ 3,7 trilhões, apontou “incerteza generalizada sobre as condições para investir ou oferecer serviços financeiros no Brasil” em consequência do aumento dos índices de desmatamento na Amazônia.
Nesta semana, um novo documento manifestou preocupação com as políticas ambientais. Assinado por 38 CEOs de grandes companhias brasileiras e 4 instituições dos setores industrial, agrícola e de serviços, o comunicado direcionado a Mourão reafirma “compromisso público com a agenda do desenvolvimento sustentável”.
“Particularmente, esse grupo acompanha com maior atenção e preocupação o impacto nos negócios da atual percepção negativa da imagem do Brasil no exterior em relação às questões socioambientais na Amazônia. Essa percepção negativa tem um enorme potencial de prejuízo para o Brasil, não apenas do ponto de vista reputacional, mas de forma efetiva para o desenvolvimento de negócios e projetos fundamentais para o país”, diz o documento, revelado pelo jornal Valor Econômico.
Articulação
A carta dos CEOs e instituições brasileiras foi elaborada e discutida nas últimas semanas. Além de defenderem o “combate inflexível e abrangente ao desmatamento ilegal na Amazônia e demais biomas brasileiros”, o documento pede a inclusão socioeconômica das comunidades locais e a “adoção de mecanismos de negociação de créditos de carbono”, assim como incentivos à economia de baixo carbono. O mercado de descarbonização ligado à Amazônia tem potencial estimado em US$ 10 bilhões ao ano.
“É um olhar para o futuro, a partir de ações que as empresas já colocam em prática, conciliando produção e preservação”, afirma Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), que reúne 60 grandes empresas atuantes no país.
Outro articulador do documento, o presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Marcello Brito, compara a receptividade este ano à agenda ambiental em comparação a setembro do ano passado, quando as políticas ambientais do governo Bolsonaro também foram debatidas na Semana do Clima, paralelamente à Assembleia Geral da ONU, em Nova York (EUA).
“Já havia um olhar de atenção à questão da Amazônia, mas é perceptível que isso cresceu. Tanto os clientes quanto os financiadores das empresas estão mais atentas à preservação ambiental”, diz Brito.
Além de Mourão, o comunicado dos empresários será apresentado aos presidentes do Congresso Nacional, senador Davi Alcolumbre (DEM-AP); da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ); e do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, além do procurador-geral da República, Augusto Aras.
Congresso
No Congresso Nacional, também há preocupação com a repercussão internacionais das políticas ambientais do governo e o desgaste do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Com a designação de Mourão para o comando do Conselho da Amazônia, o ministro deixou de ser o principal interlocutor do setor privado, mas goza da confiança do presidente Jair Bolsonaro e responde pela elaboração de políticas para a área, como o programa de parceria com empresas para conservação de áreas protegidas na floresta.
Na Câmara, está em pauta a ratificação do Protocolo de Nagoya, documento assinado pelo Brasil em 2010 e desde 2012 à espera de deliberação do Legislativo. O texto se refere a políticas de biodiversidade e teve relatoria do deputado Alceu Moreira (MDB-RS), presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, e apoio do deputado Rodrigo Agostinho (PSB-SP), que ocupa a mesma função na Frente Parlamentar Ambiental.
Agostinho levou ao presidente da Casa uma lista de projetos pertinentes ao setor para deliberação nas próximas semanas. No mês passado, o deputado também esteve com Mourão, que se colocou como interlocutor entre governo e Congresso na agenda relacionada à Amazônia.
Em entrevista nesta terça-feira à CNN, o líder do Governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO), reconheceu a importância do tema, mas apontou a necessidade de ser ter “cuidado” com o viés de países “que não tem a mesma autoridade para falar em preservação ambiental e fazem críticas às nossas políticas”. “Não temos notícia de nenhum mercado que efetivamente fechou as portas aos produtos brasileiros por esse motivo.”