Após 2 meses, CPI abre novas linhas de investigação; conheça
A cúpula da CPI avalia que esteja diante de um caso de prevaricação, quando um agente público deixa de denunciar situação sabidamente irregular
“Foi aberto inquérito para apurar alguma irregularidade na compra da Covaxin?” A partir dessa pergunta, a CPI da Pandemia inaugura o capítulo mais rumoroso da investigação, já que coloca sob suspeita o Palácio do Planalto.
O objetivo é saber se o presidente Jair Bolsonaro — ou algum de seus ministros — mobilizou a
a Polícia Federal para dar andamento à denúncia de suposto desvio na compra da vacina Covaxin, negociada com o Brasil por intermediação com a empresa Precisa Medicamentos.
Se nada for identificado, a cúpula da CPI avalia que esteja diante de um caso de prevaricação, quando um agente público deixa de denunciar situação sabidamente irregular.
Em entrevista à CNN ontem (23), o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) afirmou que comunicou Bolsonaro da suposta irregularidade em contratos do Ministério da Saúde com a Covaxin, no dia 20 de março. O irmão dele, Luis Ricardo Miranda, contou ao Ministério Público Federal que recebeu pressão anormal para agilizar a compra de vacinas.
A Covaxin se destaca das demais vacinas não somente pelo ritmo de negociação mais rápido como também pelo preço mais caro — o governo nega.
A Polícia Federal já foi formalmente consultada pela CPI. Antes das revelações do deputado, a comissão havia recusado convidar o diretor-geral da PF, Paulo Maiurino, para depor sobre ações de investigação na pandemia. Essa peça, no entanto, pode voltar ao tabuleiro.
Na avaliação da cúpula da CPI, tudo vai depender da sessão desta sexta-feira com os irmãos Miranda marcada para começar às 14h e sem hora para acabar.
Próximos depoimentos
O cronograma de depoimentos revisado nesta quinta-feira, divulgado pela comissão para a CNN, mostra também que a comissão vai ouvir o deputado estadual, Fausto Júnior (PRTB), do Amazonas, na próxima terça-feira (29). Fausto é relator da CPI da Saúde, em funcionamento na Assembleia Legislativa do Amazonas.
Já na quarta-feira (30), a CPI fará novo esforço para ouvir o empresário Carlos Wizard, que faltou ao primeiro depoimento. A CPI mantém firme a linha de investigação de que o governo se alimentou de um gabinete paralelo na pandemia.
“É a CPI do fim do mundo, que vai catando pelo caminho qualquer motivo, mesmo que sem a menor razoabilidade, para atrapalhar o governo”, afirma o vice líder de governo, Marcos Rogério (DEM-RO).
A comissão, que até então apurava a influência de opiniões e decisões erráticas no combate ao coronavírus, agora também investiga se houve interesse econômico indevido na compra de vacinas.
“Agora é follow the money [Siga o dinheiro, em inglês]”, afirmou o vice presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) à CNN, citando a frase eternizada no filme “Todos os homens do presidente” (1976), que mostra a queda do presidente americano Richard Nixon.
O interesse nessa nova linha de investigação resultou até mesmo no adiamento da audiência com o assessor especial de assuntos internacionais do Palácio do Planalto, Felipe Martins, que faria parte de um gabinete paralelo do governo. Há senadores interessados em incluir Martins na lista de investigados nesta sexta, ainda que ele não tenha sido ouvido.
Inicialmente, Martins foi chamado na condição de testemunha. Mas pediu ao Supremo Tribunal Federal para ter as mesmas garantias de um investigado na comissão, o que permitiria ficar calado.
Na semana em que a comissão completa dois meses, a CPI também decidiu investigar a organização das chamadas ‘motociatas’, as manifestações pró-governo que geraram aglomerações nas últimas semanas; além de pedir para ouvir representantes do Facebook e do YouTube sobre a circulação de fake news, ou conteúdo sem comprovação científica, em transmissões de vídeos por Bolsonaro.
A partir de agora também tanto senadores quanto técnicos da comissão vão mergulhar no resultado das quebras de sigilo. Antes delas, a CPI já acumulava mais de 1 terabyte em documentos. Com as quebras, a comissão se vê diante de um novelo, que vai de mensagens de celular do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello ao acesso das movimentações bancárias de empresas que promoveram divulgação do tratamento precoce. A análise dessa enorme quantidade de material é um desafio para a comissão, que pode ser prorrogada por mais 90 dias.