Apoio de irmãos Gomes é trunfo de Sarto para segundo turno em Fortaleza
Deputado estadual desde 1995, político do PDT tem acompanhado mudanças políticas do grupo liderado por Ciro Gomes e Cid Gomes
A disputa pela prefeitura de Fortaleza no segundo turno, no próximo domingo (29), terá o candidato Sarto (PDT) buscando consolidar a vantagem apontada pelas pesquisas enquanto Capitão Wagner (Pros) tentará reverter o quadro.
Apesar de ainda não ser possível dizer que Sarto tem uma margem suficiente para ser considerado eventual vencedor, o apoio dos irmãos Ciro Gomes e Cid Gomes, também filiados aos PDT, colaborou para ele abrir uma vantagem relativamente estável na corrida eleitoral.
De acordo com pesquisa Ibope realizada entre os dias 21 e 22 de novembro, Sarto aparece com 53% das intenções de voto no segundo turno contra 35% de Wagner. Ainda há 9% dos entrevistados que disseram votar branco ou nulo e 4% que não sabem em quem votarão ou não responderam.
Como a margem de erro é de 3 pontos percentuais, para mais ou para menos, o cenário mais favorável ao político do Pros o colocaria com 38% dos votos contra 50% do pedetista, uma diferença que ainda poderia ser recuperada nas urnas.
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Os números desse levantamento são similares ao da pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha nos dias 18 e 19 de novembro e que mostraram o candidato do PDT com 50% das intenções de votos contra 36% do candidato do Pros.
De acordo com o Datafolha, 10% dos entrevistados que disseram que pretendem anular ou votar em branco e 4% que estão indecisos. A margem de erro também é de 3 pontos para mais ou para menos.
Apoios de peso
Sarto já contava com um amplo leque de alianças em sua coligação, e ainda angariou apoios importantes depois do primeiro turno. Além do atual prefeito, Roberto Cláudio (PDT), o governador Camilo Santana (PT), que pertence ao mesmo grupo político de Ciro e Cid, ambos do PDT, também declarou seu apoio.
E o candidato do PDT, atual presidente da Assembleia Legislativa do Ceará, também obteve mensagens de apoio de outros candidatos que participaram do primeiro turno, como Renato Roseno (PSOL), e até do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que esteve em Fortaleza na semana passada.
Outra liderança nacional que apoia Sarto é o senador Tasso Jereissati (PSDB), cujo partido integra a coligação. Essa adesão concretiza a reaproximação entre o tucano e os irmãos Ferreira Gomes, em um processo que teve início após a posse de Cid como senador, em 2019.
Essa aliança de nomes de peso na política local e nacional ajudou o candidato, que é deputado estadual há sete mandatos, a crescer durante a campanha e vencer o primeiro turno – nas primeiras pesquisas de intenção de voto ele aparecia apenas na terceira posição, atrás de Wagner e de Luizianne Lins (PT), que acabou na 3ª posição.
Enredo político repetido
Essa é a primeira vez que Sarto disputa um cargo no Poder Executivo. Ele foi escolhido como candidato do PDT, partido liderado no estado pelos irmãos Ferreira Gomes, porque o atual prefeito de Fortaleza está encerrando seu segundo mandato consecutivo e não pode concorrer novamente ao cargo.
José Sarto Nogueira Moreira tem 61 anos, é médico e, desde 1995, ocupa uma vaga na Assembleia Legislativa cearense. Antes, foi vereador de Fortaleza entre 1988 e 1994.
O candidato à prefeitura da capital cearense tem acompanhado as mudanças de partidos do grupo político liderado por Ciro e Cid Gomes, tendo passado pelo PPS, PSB e Pros. Desde 2016, está com eles no PDT.
O favoritismo do político apoiado pelos irmãos Cid e Ciro repete o “enredo político” de 2012, quando Claúdio, então presidente da Assembleia Legislativa, foi lançado à prefeitura pelo PSB, partido dos irmãos Ferreira Gomes à época.
Quatro anos depois, em 2016, já filiados ao PDT, Cláudio foi reeleito – novamente com apoio político de Cid e Ciro – ao derrotar no segundo turno Capitão Wagner, então candidato pelo PR.
Ao contrário dessas duas eleições, no entanto, neste ano os dois irmãos não apareceram tanto na campanha de seu aliado – também não havia imagens ou menções aos nomes deles no material de campanha do pedetista.
“No primeiro turno o Sarto se apresentou como o candidato do atual prefeito, Roberto Cláudio, e do governador Camilo Santana, aproveitando as boas taxas de aprovação de ambos pela população”, afirmou à CNN Monalisa Soares, professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará (UFC) e pesquisadora do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem) da UFC.
“Tanto que o nome dos Ferreira Gomes era acionado, principalmente, pelos opositores que tentavam colocar em Sarto a pecha de ser o candidato deles e não ter autonomia. Agora, no segundo turno, os dois apareceram mais porque entre as rejeições de Ciro e Bolsonaro em Fortaleza, a do presidente é maior”, completou.
Ela destacou ainda o trabalho de Cid e Ciro nos bastidores, que foi fundamental para construir a ampla aliaça que deu a Santo uma posição muito confortável durante o primeiro turno.
“Ele tinha um latifúndio de tempo de TV, sempre teve conforto e um amplo número de vereadores. [Cid e Ciro] atuaram muito e são muito eficazes nesse trabalho político”, indicou.
Eleição-chave para projeto de Ciro em 2022
Monalisa diz ainda que a provável vitória de Sarto é muito importante para fortalecer a imagem que Ciro, ex-governador do Ceará, está construindo para uma eventual disputa à presidência em 2022, considerando especialmente a projeção dele no cenário nacional.
“O Ceará é o lugar de onde ele parte, de onde ele se alça. O PDT aumentou o número de prefeituras que controla no estado, o que mostra a força do grupo dos irmãos Ferreira Gomes”, afirmou.
“[Esse grupo político] ganhou Sobral, cidade natal deles, então manter o domínio em Fortaleza e em cima do Wagner, um opositor de longa data e agora com esse peso do bolsonarismo, dá um fôlego para fortalecer essa imagem do Ciro”, completou a analista.
Essa avaliação é compartilhada também por aliados de Ciro, que consideram fundamental a manutenção de Fortaleza sob comando de seu grupo político – em 2018, por exemplo, ele derrotou tanto Bolsonaro quanto o petista Fernando Haddad na capital, além de ter sido o mais votado no estado.
Caminho difícil para Capitão Wagner
Por sua vez, Wagner ainda não conseguiu descolar sua imagem da repercussão negativa do movimento grevista de PMs que atingiu o estado, no início do ano, nem da proximidade com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), cuja aprovação na capital cearense está em baixa.
O candidato chegou a dizer que não é apadrinhado do presidente – no primeiro turno, porém, Bolsonaro pediu votos para Wagner.
“Eu não diria nem que é um segundo turno de cirismo contra bolsonarismo, mas sim um segundo turno anti-bolsonarista. Sarto sabe que vários partidos aglutinados a ele nesse momento o fizeram para evitar o que consideram o ‘mal maior'”, disse a professora.
Considerando os números das últimas pesquisas, Monalisa diz que apenas uma “revolução muito profunda” poderia mudar o resultado da votação, no domingo (29). Ela destacou, porém, que no segundo turno houve um aumento dos ataques e da disseminação de notícias falsas na cidade, fenômeno que não havia tido importância no primeiro turno.
“A competitividade acionou de novo esse repertório de ataques que vimos em 2018 e sabemos o que isso pode surtir de efeito, mas a vantagem [de Sarto] é mesmo muito significativa”, disse.
Apesar de ainda haver um debate a ser realizado entre os candidatos, na sexta-feira (27), ela disse achar improvável que o candidato do Pros reverta o quadro.
“Principalmente porque o Wagner se moveu muito lentamente e com uma margem muito pequena de crescimento”, concluiu.