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    Ao desistir de coronel de SC na Segurança Pública, governo se desgasta com PMs

    Araújo Gomes deixou o comando da PM em seu estado natal para poder assumir o cargo no lugar do general do Exército Guilherme Theophilo

    Iuri Pittada CNN

    O cálculo político e a pressão ideológica falaram mais alto e o governo Jair Bolsonaro desistiu de nomear o coronel Carlos Alberto Araújo Gomes, ex-comandante geral da Polícia Militar em Santa Catarina, como secretário nacional de Segurança Pública (Senasp). A decisão repercutiu mal em um dos setores mais caros ao presidente e soou como perder a chance de marcar um “gol de placa” do ponto de vista institucional e técnico. 

    Araújo Gomes deixou o comando da PM em seu estado natal para poder assumir o cargo no lugar do general do Exército Guilherme Theophilo, exonerado após a saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça e Segurança Pública e alvo de críticas nas polícias estaduais. Ex-presidente do Conselho Nacional dos Comandantes Gerais das Polícias Militares e Corpo de Bombeiros (CNCG), o catarinense era considerado praticamente uma unanimidade, não só pela capacidade técnica e resultados obtidos em seu estado natal, mas pelo respaldo e trânsito entre as corporações estaduais. 

    Pesou contra a nomeação do coronel a proximidade com o governador Carlos Moisés (PSL), que virou alvo dos aliados mais ideológicos de Bolsonaro. Pessoas próximas a Araújo Gomes dizem que o oficial foi alvo de fake news e postagens inverídicas, difundidas em Santa Catarina. 

    Além disso, se confirmada a efetivação do secretário interino, Carlos Renato Machado Paim, o governo sinaliza a opção por um aliado fiel, mas de menos trânsito e articulação entre as 27 PMs pelas unidades federativas. Oriundo da corporação do Distrito Federal, Paim é da mesma turma de formação do ministro Jorge Oliveira, titular da Secretaria-Geral da Presidência e major reformado da Polícia Militar.

    Oficiais lamentam desistência

    Em um comunicado duro, o presidente da Federação Nacional de Entidades de Oficiais Militares Estaduais (Feneme), coronel Marlon Tezza, disse que Araújo Gomes “foi convidado para Senasp pessoalmente pelo Ministro da Justiça e por isso deixou o Cmdo Geral da PMSC, conforme orientação, interrompendo sua carreira”. “Perde o Brasil que teria à frente da SENASP um excelente gestor técnico”, escreveu o oficial. 

    “Araújo Gomes representava uma escolha não só por critérios técnicos e por um respaldo corporativo nas PMs pelo país, mas vislumbrando avanços institucionais na relação do governo federal com os estados nas políticas de segurança pública”, avalia o presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima. “A adesão ao projeto político do presidente falou mais alto.” 

    Para o senador Major Olímpio (PSL-SP), “foi como chutar para fora um pênalti com o goleiro amarrado na trave”, do ponto de vista técnico. Na perspectiva política e na relação com as PMs, tratou-se de uma “crocodilagem” com quem foi aliado de primeira hora do ainda candidato Bolsonaro, na campanha eleitoral de 2018. “Levar rasteira de adversário é do jogo, mas não de quem se ajudou tanto. Isso não se faz.” 

    O coronel da reserva da PM-SP José Vicente da Silva também lamenta a perda do “melhor nome” para a Senasp. “Ainda no começo do mandato o governo fez uma escolha equivocada em relação à segurança pública e perdeu praticamente um ano e meio. Abrir mão do coronel Araújo é jogar mais uma chance fora e dar margem para ressentimento nos comandos das PMs.” 

    Presidente da Frente Parlamentar da Segurança Pública, o deputado Capitão Augusto (PL-SP) afirma que a desistência de se nomear Araújo Gomes é uma “perda” para o governo, motivada por “coisas bobas”. O parlamentar, porém, pondera que, em se confirmando o nome de um oficial da PM na Senasp, “não haverá problema”.

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