Alas do MDB flertam com Lula e Bolsonaro, mas cúpula não vê debandada contra Tebet
Interlocutores consideram que não ter uma candidatura própria racharia a sigla
Apesar de parte do MDB preferir apoiar o presidente Jair Bolsonaro (PL) ou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa pelo Planalto, a cúpula do partido não acredita que haverá uma debandada contra a pré-candidatura de Simone Tebet (MDB) à Presidência da República.
Conforme membros da Executiva Nacional do MDB ouvidos pela reportagem, a tendência é que Tebet se fortaleça dentro da legenda com a desistência do ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB). Uma das razões para a saída do tucano da disputa foi justamente a falta de apoio interno a ele no PSDB.
No MDB há uma ala lulista, em especial no Nordeste, e outra ala bolsonarista – ou, na verdade, antipetista, nas palavras de um emedebista –, mais concentrada nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, além de parte do Norte. O apoio a um ou outro costuma seguir as conveniências eleitorais locais.
Segundo interlocutores do MDB, sob reserva, há um entendimento de que se o partido não lançasse uma candidatura própria, a sigla iria “se espatifar” no primeiro turno. Isso porque consideram que apoiar explicitamente Lula ou Bolsonaro racharia o partido. Uma ala não toleraria a outra. Portanto, Tebet é quem “une” os emedebistas hoje, afirmaram.
Ex-ministro de Lula e presidente do MDB em Roraima, Romero Jucá declarou apoio público a Tebet nesta segunda-feira (23). “Eu considero muito importante que o MDB possa ter candidatura própria. O MDB precisa ter a condição de colocar para a sociedade brasileira o que pensa e o que defende na economia, na política, nos programas sociais. O partido que não disputa eleição não forma time”, afirmou, em nota.
“Portanto, é importante a candidatura da Simone Tebet para que nós tenhamos a condição de nos posicionarmos bem nesta eleição. A Simone tem todas as qualidades de ser uma grande candidata. O apoio do PSDB e do Cidadania é muito importante. Portanto, temos aí a construção de um caminho alternativo posto pela sociedade brasileira”, acrescentou Jucá.
Nos bastidores, porém, Tebet tem declarado que é ela “quem está segurando o MDB para não ir para o Bolsonaro”, apurou a CNN.
A avaliação do alto escalão do partido é que a ala pró-Lula está enfraquecida, mesmo no Nordeste. Na região, o MDB deve se aliar ao PT em quatro Estados: na Bahia, no Rio Grande do Norte, no Piauí e em Alagoas. Nos demais, ou deve apoiar Tebet ou não deve ter força suficiente para atrapalhar sua nomeação na convenção partidária, apostam os apoiadores da senadora.
Em relação a Bolsonaro, os deputados federais Osmar Terra (MDB-RS), Otoni de Paula (MDB-RJ) e Rogério Peninha (MDB-SC) são apoiadores explícitos do atual presidente. Ambos, porém, são considerados minoria em seus Estados.
Emedebistas que não renunciam a Lula ou Bolsonaro
O senador Renan Calheiros (MDB-AL), que se mostrou um dos principais rivais de Tebet dentro do partido nos últimos anos, afirmou à CNN que vai fazer campanha para Lula e que o “fato de [ela] ser indicada não altera o resultado das pesquisas eleitorais”. Isso porque Tebet ainda não decolou nas últimas pesquisas eleitorais divulgadas e tem ficado abaixo dos 5% das intenções de voto.
Na visão de Calheiros, é melhor não ter candidato do que alguém “apenas para marcar posição”. “O MDB gostaria de ter um candidato competitivo para alavancar os palanques estaduais. Não tendo isso, a candidatura perde sentido.”
O senador avalia que o cenário é semelhante ao de 2018, quando a legenda lançou o nome do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles. “Acredito que as coisas ainda vão decantar e tem que aguardar o que vai acontecer. Nesse momento, sem alteração da fotografia das pesquisas, temos a mera repetição da candidatura Meirelles. Isso não ajuda o partido”, acrescentou.
Já o deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ) declarou à CNN que não deixará de fazer campanha para Bolsonaro. Ele disse, inclusive, que se filiou ao MDB neste ano sob a condição de que poderia continuar a apoiar o presidente.
“Sou Bolsonaro, sempre fui. Isso está muito bem definido e há respeito mútuo partidário. Respeito a Simone, o partido, mas entendo que não temos um caminho para a terceira via. A polarização está muito grande e não há tempo hábil para que todos a conheçam”, expôs Otoni.
Ele, porém, concorda com a avaliação da cúpula partidária de que não haverá uma debandada no partido contra a pré-candidatura de Tebet. “São dissidências mais pontuais.”
Tebet aposta em unidade do MDB até convenção
Nesta segunda-feira, em agenda em Cuiabá, no Mato Grosso, Simone Tebet afirmou ser preciso “respeitar essa regionalidade” de colegas que eventualmente apoiem outro nome que não o dela. Contudo, procurou demonstrar que confia na união do MDB até a convenção partidária, prevista para julho ou agosto.
“É natural que não tenhamos a unanimidade, mas nós vamos ter a unidade do partido na convenção [partidária]. Nós temos pelo menos 80% do diretório conosco. […] O MDB terá candidatura própria, não tenho dúvida.”
Debate
A CNN realizará o primeiro debate presidencial de 2022. O confronto entre os candidatos será transmitido ao vivo em 6 de agosto, pela TV e por nossas plataformas digitais.
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