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    Eleições 2022

    Adepto do amor livre, Centrão muda estratégia, banca Bolsonaro e amplia seus objetivos históricos

    Alimentado pelas quase infinitas verbas de um orçamento que o Supremo Tribunal Federal (STF) ajudou a manter secreto, o grupo tomou conta dos recursos oficiais

    Fernando Molicada CNN

    Ao incorporar Jair Bolsonaro (PL) aos seus quadros e bancar sua candidatura à reeleição, o Centrão demonstra uma mudança no seu padrão histórico de comportamento.

    Assim batizado durante a última Assembleia Geral Constituinte, o Centrão reúne partidos movidos por uma ideologia pragmática e pouco original: troca vantagens por votos favoráveis ao governo no Congresso Nacional.

    Uma fórmula simples, resumida pelo lema sequestrado pelo então deputado Roberto Cardoso Alves, espécie de São Tomás de Aquino dessa teologia da conciliação.

    Fórmula que deste então está gravada com verbas e cargos no altar do grupo: “Robertão”, como era conhecido, recorreu à famosa Oração de São Francisco para entronizar o lema que marcaria os anos iniciais do Centrão, o “É dando que se recebe”.

    O Centrão dá e recebe, faz o suposto bem sem olhar a quem. Para facilitar a aplicação de outro mantra de seus integrantes  — “Hay gobierno, yo estoy a favor” —, o grupo evitava o excesso de comprometimento em campanhas para o poder executivo, especialmente para a Presidência. Preferia o amor de ocasião, sem grandes compromissos.

    Como a maioria dos demais partidos, os que formam o Centrão cumpriam o manual básico da política — cediam tempo de TV em troca de verbas para suas próprias campanhas, faziam uma espécie de casamento provisório, de interesses.

    Uma união instável, que seria desfeita caso o apoiado não chegasse ao Planalto: o vencedor estaria pronto para, em troca dos votos, oferecer novos e excitantes prazeres aos indispensáveis aliados.

    Como na antiga canção de Gilberto Gil: “O seu amor/ Ame-o e deixe-o/ Livre para amar”. Doces e bárbaros, os integrantes do Centrão entregam o que prometem e sempre pregaram e praticaram o amor livre.

    A desorientação do mandato Bolsonaro e a incapacidade de o governo encontrar e aplicar soluções politicas e administrativas fizeram com que o Centrão assumisse a chefia da casa.

    Alimentado pelas quase infinitas verbas de um orçamento que o Supremo Tribunal Federal (STF) ajudou a manter secreto, o grupo tomou conta dos recursos oficiais — ou seja, do que realmente importa.

    Sentindo-se confortável na poltrona do poder, o Centrão tratou de absorver Bolsonaro e fazer dele seu representante na eleição.

    Não conseguiu emplacar o candidato a vice — ao indicar um novo general para o cargo, o presidente tenta se vacinar contra eventual pedido de impeachment —, mas continua dono do cofre. Ninguém vai ao orçamento senão por eles.

    E se der errado, se Bolsonaro perder a eleição, se Lula emplacar um terceiro mandato? Sem problemas; antigos aliados, veteranos da política como ela é, o Centrão e o petista não terão dificuldades em forjar uma reconciliação.

    Como em outra antiga canção, esta de Chico Buarque, na manhã do dia 1º de janeiro, Bolsonaro seria então página virada, descartada do folhetim franciscano.

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