Abstenção no 1º turno é maior entre menos escolarizados e mais jovens
Em relação à faixa etária com voto obrigatório (18 a 70 anos), proporcionalmente, o grupo entre 21 e 24 anos registrou o maior índice, com 23,39%
O primeiro turno das eleições brasileiras deste ano mostra uma abstenção mais alta entre homens, jovens e menos escolarizados. Em relação à faixa etária com voto obrigatório (18 a 70 anos), proporcionalmente, o grupo entre 21 e 24 anos registrou o maior índice, com 23,39%.
Já em números absolutos, o público entre 25 e 29 anos lidera: 3.544.146 jovens não compareceram às urnas.
No quesito escolaridade, proporcionalmente, o grupo dos que leem e escrevem tem 31,38% de eleitores que não votaram.
A taxa é ainda maior entre analfabetos, de 52,08%, mas o voto é facultativo para essas pessoas. Já em números absolutos, o grupo com ensino fundamental incompleto registrou a maior abstenção: 8.561.877.
Em relação ao gênero, homens registram abstenção de 22%, enquanto mulheres, de 20%. No país, dos 156,4 milhões de eleitores aptos para as eleições deste ano, 20,91% não registraram o voto, ou seja, 32,7 milhões.
O cientista político Antonio Lavareda avalia que a maior abstenção entre os jovens, como aconteceu no Brasil, é um fenômeno mundial, geralmente ligado ao maior desinteresse dessa faixa etária pela política.
No caso da maior proporção de faltosos entre homens, Lavareda indica que há uma discrepância em relação às pesquisas que mostram maior grau de interesse pelo voto entre pessoas do sexo masculino do que do sexo feminino.
Já a questão da escolaridade, para o cientista político, está intimamente ligada à renda.
“Esse segmento alimenta a maior porção dos 32 milhões que se abstiveram. Eu denomino de abstenção compulsória. São pessoas que não têm condições de ir votar por conta do preço do transporte. Para essas pessoas, tirar do bolso R$4, R$ 8 para votar significa tirar comida da mesa. No caso das mulheres chefes de família, ir votar e fazer o quê com os filhos? Não tem creche aberta no domingo”, problematiza o especialista.
Desde a redemocratização, o percentual de abstenção cresce entre o primeiro e o segundo turno. Em 2018, por exemplo, foi de 20,32% para 21,29%. Para Lavareda, esse fenômeno deve se repetir neste ano.
O cientista político ainda destaca que os faltosos preocupam as campanhas de Jair Bolsonaro (PL) e de Luís Inácio Lula da Silva (PT), mas por motivos diferentes.
“A campanha do Lula deve continuar com a preocupação com abstenção porque é concentrada na base da pirâmide, dos mais pobres, ruim para Lula. Já Bolsonaro se preocupa com a abstenção da classe média, por conta do feriadão”, destaca.
O segundo turno acontecerá próximo do Dia do Servidor (28 de outubro) e Finados (2 de novembro), datas que podem ser usadas para viagens por parte dos eleitores.
Para José Álvaro Moises, cientista político e professor da USP, a abstenção aumenta do primeiro para o segundo turno, pois muitos eleitores consideram que a eleição já está definida.
Também pesam fatores como a falta de transporte e a falta de recursos para ir ao local de votação. O professor alerta, no entanto, para a importância do comparecimento às urnas.
“Uma polarização como a que vemos hoje não é boa para o processo democrático brasileiro. Eleitores devem comparecer às urnas se quiserem interferir nos rumos da política brasileira. O eleitor é o mais poderoso para fazer essas mudanças”.