À PF, Weintraub mantém críticas à China e se diz ofendido por investigação
A CNN teve acesso à manifestação entregue, por escrito, pelo ministro aos policiais; ele é acusado de racismo contra chineses
Em declaração entregue à Polícia Federal nesta quinta-feira (4), o ministro da Educação, Abraham Weintraub, manteve argumentos contra a China presentes em sua postagem no Twitter que deu origem à investigação. Ele usou falas de Donald Trump contra o país asiático para reforçar sua defesa de que as insinuações contra a China são válidas e afirmou que imputar um crime à publicação nas redes sociais fere a liberdade de expressão.
Weintraub optou por não responder às perguntas dos investigadores. Ele entregou somente um posicionamento por escrito, trazendo suas considerações sobre o caso.
No documento, ele sustenta que a participação do Partido Comunista da China na pandemia não é “mera ilação”. “Trata-se de tema discutido por diversos líderes mundiais (vide comentário do presidente Donald Trump)”, afirma no documento. Ele indicou um link para uma fala do presidente dos Estados Unidos de maio, na qual o líder americano disse que a China tentava “desesperadamente se desviar da dor e carnificina que se espalhou pelo mundo” com a pandemia.
Trump chegou a se referir ao novo coronavírus como “vírus chinês” e recebeu críticas nos Estados Unidos, inclusive, de o termo ser racista, o que ele refutou.
Como na postagem no Twitter, Weintraub voltou a afirmar então que a China se beneficiou da pandemia do novo coronavírus.
“Hoje há fortíssimas evidências que o vírus foi criado em laboratório, que o PCC (Partido Comunista da China) escondeu o início da pandemia e informou à Organização Mundial da Saúde que não havia contágio entre humanos e, depois de tudo, vendeu produtos necessários para o tratamento para todo o mundo”, diz o documento. Ele não elencou no documento quais evidências são essas.
Segundo ele, a postagem trouxe “elementos de humor” como forma de se referir ao Partido Comunista chinês e que usou o “sotaque” do personagem em quadrinhos Cebolinha, pois este “costuma ser associado à fala de povos orientais em geral”.
O ministro argumenta no documento que sua postagem no Twitter teve tema “único e exclusivamente geopolítico”. E ele buscou “quem se beneficia de uma crise para ajudar a indicar um possível causador, mesmo que indireto”.
A postagem na rede social, feita no dia 4 de abril, trazia uma ilustração da Turma da Mônica, com referências à China, como a bandeira do país e um urso panda. O texto publicado pelo ministro na ocasião dizia que: “Geopolíticamente, quem podeLá saiL foLtalecido, em teLmos Lelativos, dessa cLise mundial? PodeLia seL o Cebolinha? Quem são os aliados no BLasil do plano infalível do Cebolinha paLa dominaL o mundo? SeLia o Cascão ou há mais amiguinhos?”, escreveu o ministro.
Leia também:
Para negar nazismo, irmão de ministro da Educação usa palavra racista
Weintraub nega racismo e diz que tem amigos chineses
Segundo Weintraub, a publicação recebeu “centenas de milhares de interações positivas e negativas” e que ele não identificou “uma única que versasse sobre o tema racismo”. Segundo ele, a imputação de um crime neste caso se deve à interpretação de “determinados grupos sociais”.
“Não se pode imputar um crime nessas circunstâncias, sob pena de revogar um princípio e direito maior constitucional, que é a liberdade de expressão”, diz a manifestação.
De acordo com Weintraub, a publicação feita no Twitter que resultou na investigação por racismo foi pensada como forma de abordar “um tema da maior seriedade, sem ser enfadonho, na dinâmica própria das redes sociais”.
Ele sustentou que usa conta no Twitter para “manifestar ideias” e se “expressar livremente”. “Algumas manifestações expressam sentimentos, outras buscam informar, e outras levantam questões para debate”.
Weintraub afirmou ainda se sentir ofendido por ser investigado por racismo, já que tem “orgulho de descender de “judeus, negros, cristãos, índios e uma profusão de etnias”.
A investigação foi iniciada com autorização do Supremo Tribunal Federal. O ministro Celso de Mello autorizou a instauração do inquérito, atendendo pedido da Procuradoria-Geral da República, e deu 90 dias à Polícia Federal para realizar as diligências.
Weintraub pleiteou o direito de escolher o horário e o local do depoimento. Mas o pedido foi negado por Celso de Mello.