À PF, Carla Zambelli diz que Bolsonaro perguntou a hacker se urnas eram confiáveis
Deputada prestou depoimento a investigadores na tarde desta terça-feira (14) em Brasília
A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) disse, nesta terça-feira (14), à Polícia Federal (PF) que o então presidente Jair Bolsonaro (PL) perguntou ao hacker Walter Delgatti Neto se as urnas eletrônicas no Brasil eram confiáveis. A deputada reforçou o encontro a jornalistas na porta da PF, em Brasília, ao fim da oitiva.
“Afirmo que houve o encontro com Bolsonaro, pois ele [hacker] disse que poderia provar que as urnas não eram confiáveis. Nesse encontro, o Bolsonaro pergunta para ele se a urna é confiável e o Walter diz que não”, disse a parlamentar.
Carla Zambelli também disse que no encontro, Delgatti Neto informou que “se houvesse testes de integridade feitos no dia da eleição, com urnas aleatórias, seria a melhor forma de verificar se a urna é confiável ou não”.
Segundo a deputada, partiu de Bolsonaro o pedido para que ele falasse ‘com alguém’ do ministério da Defesa para explicar como seria esse teste de integridade. “Não houve mais nenhum encontro com o Bolsonaro, nenhum telefonema intermediado por mim”, emendou.
Sobre a ida à Defesa, a deputada disse que não há confirmação de que o hacker de fato tenha ido, pois não estava junto.
O advogado de Zambelli declarou que as declarações do hacker ‘não têm credibilidade’. “A deputada respondeu todos os questionamentos, mais uma vez evidenciando que as acusações que existem contra ela não têm qualquer amparo ou indício. A palavra de quem a acusava é uma palavra totalmente indigna de fé e de credibilidade. Não à toa a própria PF o denomina como um mitômano”, disse Daniel Bialski.
A oitiva começou às 14h e foi feita na Diretoria de Inteligência da PF (DIP), na PF de Brasília. O depoimento durou uma hora e meia.
À CNN, o advogado de Jair Bolsonaro, Fabio Wajngarten, disse que o assunto não é novidade e que não teve acesso ao depoimento.
Em agosto, a equipe de advogados divulgou nota sobre a declaração do hacker. “A defesa esclarece ainda que, diante de informações prestadas pelo Sr. Walter Delgatti Neto, quando de sua passagem pelo Palácio da Alvorada, acerca de suposta vulnerabilidade no sistema eleitoral, o então Presidente da República, na presença de testemunhas, determinou ao Ministério da Defesa a apuração das alegações, de acordo com os procedimentos legais e em conformidade com os princípios republicanos, seguindo o mesmo padrão de conduta observado em todas as suas ações enquanto chefe de Estado”, dizia nota enviada à imprensa pela equipe do ex-presidente.
Com essas informações repassadas pela deputada à PF, os investigadores darão andamento ao inquérito e não descartam novos depoimentos, mas, segundo fontes, o inquérito caminha para a reta final.
Investigação
O caso passou para a competência do STF após a suspeita de envolvimento da deputada Carla Zambelli com o hacker.
Segundo os investigadores, Delgatti teria invadido os sistemas entre setembro e dezembro de 2022 a pedido de Zambelli, com o objetivo de expor vulnerabilidades do Poder Judiciário pouco antes das eleições.
Na época, o então presidente Jair Bolsonaro (PL) defendia, sem apresentar provas, que o sistema eleitoral brasileiro era inseguro e pedia que fosse alterado, com a inclusão do voto impresso nas urnas eletrônicas. A deputada bolsonarista chegou a criar um site com posicionamentos de deputados a favor do voto impresso.
Além disso, a PF também investiga crimes que ocorreram entre os dias 4 e 6 de janeiro de 2023, quando teriam sido inseridos no sistema do CNJ 11 alvarás de soltura de indivíduos presos por motivos diversos, além de um mandado de prisão falso contra Moraes.
O hacker preso recebeu R$ 13,5 mil da deputada, segundo a PF e ele próprio em depoimento. Os pagamentos feitos são um dos elementos que embasam a operação, além de áudios de negociação.
“Os pagamentos foram sempre relacionados ao site, para ele fazer melhorias no [meu] site, fazer firewall no site e ligar as minhas redes sociais ao site, que ele próprio disse que não conseguiu realizar essa tarefa. Inclusive, deveria ter tido até a devolução [do dinheiro]”, argumentou a deputada em coletiva na Câmara dos Deputados no dia em que foi alvo de busca e apreensão feita por agentes da PF, em 2 de agosto.