Prime Time

seg - sex

Apresentação

Ao vivo

A seguir

    Eleições 2022

    A exclusão que vem de cima

    Reivindicar que parte dos secretariados ou ministérios seja ocupada por negros é estratégia para pôr fim à máquina de reprodução da desigualdade racial

    Plenário do Senado Federal durante sessão deliberativa
    Plenário do Senado Federal durante sessão deliberativa Pedro França/Agência Senado/10.mar.2022

    Maurício Pestanada CNN

    Como chegar a uma cadeira no Executivo ou Legislativo numa democracia? Obviamente por meio do voto! Mas existem processos que vão além da presença partidária e podem levar de forma mais rápida e assertiva a essa conquista.

    Falo da experiência pública, por meio de processos muito conhecidos como a participação em cargos executivos, como secretários e ministros na gestão pública.

    Baseio-me no fato de quem já pertenceu ao time de secretário da administração pública na maior cidade do país que é São Paulo e quando se chega a essa instância de secretário, o que mais se espera do ocupante do cargo é que ao final do mandato ele concorra a uma eleição no Legislativo ou Executivo.

    Olhando para o histórico de uma boa parte dos nossos dirigentes, conseguimos compreender a quase naturalidade desta obviedade. Se analisarmos o nosso parlamento hoje, veremos que uma parcela significativa dele é formada por ex-secretários ou pessoas que passaram pela gestão pública.

    É aí que começa o problema sério da exclusão de negros na política brasileira. É só observarmos esse período de desincompatibilização na gestão pública para a disputa eleitoral, conseguimos ver o tamanho do abismo político administrativo que separa negros e brancos em nosso país.

    Dos secretários estaduais a ministros de estado no Brasil, que saíram agora da gestão para disputarem uma vaga no Legislativo e até mesmo a governos de alguns estados, a maioria esmagadora é composta de pessoas brancas, que foram alçadas, indicadas ou pinçadas pelos seus antigos chefes, sejam eles prefeitos, governadores e até o presidente da República, todos brancos brancos se realimentando de um sistema branco de exclusão.

    Exemplo: dos ministros que se desincompatibilizaram para concorrer às eleições, que participaram do governo Bolsonaro, todos são brancos; de São Paulo, também verá o mesmo fenômeno se repetir, todos que saíram para concorrer às eleições este ano são brancos.

    Traduzindo, os auxiliares de governadores, prefeitos e até presidente da República com grandes chances de vitória, até porque gozam do know-how da gestão e máquina pública para os ajudar em suas eleições, todos, sem exceção, são brancos! E, assim, a branquitude vai se utilizando dos mecanismos que têm para se perpetuar no poder no maior país negro fora da África no mundo.

    Uma coisa óbvia pouco debatida e nunca pensada ou reivindicada como estratégia de avanço na participação negra na política é reivindicar que parte dos secretariados ou ministérios seja ocupada por negros para pôr fim a essa máquina de reprodução de desigualdade racial.

    Olhar com atenção nesses processos, mas também lutar contra essas desigualdades no seu nascedouro, ou seja, na composição de ministérios e secretariados, é requisito básico na agenda política antes, durante e depois dos períodos eleitorais. A democracia agradece.