À CNN, senador criticado por Bolsonaro diz que única briga é por vacina no braço
Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder da oposição no Senado e autor do pedido de CPI, diz não se opor à investigação de governadores e prefeitos
Criticado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na conversa divulgada pelo senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO), o líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) afirmou em entrevista exclusiva à CNN que a sua única briga com o presidente é por “vacina no braço”.
Randolfe é autor do pedido de CPI da Covid-19, que deve ser instalada pelo Senado Federal após obter 32 assinaturas e uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).
“O foco de briga que eu vou ter, e que todos os homens públicos devem ter nesse momento, é ter vacina no braço de todos os brasileiros e ter comida no prato daqueles que estão sofrendo com a fome”, disse o senador.
‘Sair na porrada’
Randolfe respondeu ao telefonema vazado pelo senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO) em que o senador por Goiás e o presidente da República conversam sobre a CPI da Covid-19. No diálogo, Bolsonaro pressiona o Senado a mudar o objeto da CPI.
No áudio, o presidente demonstrou irritação com Randolfe e demais parlamentares da oposição, a quem se referiu como “canalhada”. O presidente da República também disse que a CPI iria “encher o saco”, o que o levaria a “sair na porrada” com o senador do Amapá.
“A violência é a arma dos covardes, que não podem intimidar quem sabe que está com a razão”, disse Randolfe à CNN. O senador afirmou já ter sido atacado outras vezes pelo próprio Bolsonaro, quando ele ainda era deputado federal, e também pelos filhos do presidente e seus aliados políticos.
Governadores
Randolfe Rodrigues afirmou que não vê problemas em uma ampliação de escopo da CPI que propôs, para que esta também investigue as possíveis ações e omissões de governadores e prefeitos que possam ter ajudado a agravar a pandemia. O foco do pedido do senador é o governo federal.
O parlamentar afirmou que o colegiado poderia começar a expansão pelo estado do Amazonas, cujo governador, Wilson Lima (PSC), é aliado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Na proposta inicial da CPI, Randolfe Rodrigues cita os casos de falta de oxigênio em Manaus (AM) em janeiro como assunto principal da comissão.
“É importante que o governo do Amazonas nos responda se houve incentivo às aglomerações, se quando eclodiu a pandemia lá e as pessoas morreram asfixiadas por falta de oxigênio, qual foi o apoio que foi prestado pelo governo federal, se as omissões foram responsabilidade do governo estadual ou do governo federal”, argumentou o parlamentar.
Para Randolfe, a estratégia do presidente Jair Bolsonaro e dos senadores que integram a base do governo de trabalhar pela inclusão de governadores e prefeitos no foco da CPI é “uma estratégia dispersiva” e um “falso debate”. De acordo com o senador, “CPIs não investigam pessoas, investigam fatos”, e o que tiver conexão com o objeto da investigação, deve ser apurado.
O senador disse acreditar que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), fará na terça-feira (13) a leitura do requerimento da CPI da Covid-19 e que os blocos partidários farão as respectivas indicações para a composição da investigação. Até a semana seguinte, disse Randolfe, a CPI já deverá estar instalada de forma semi-presencial.
CPI da Covid-19
Randolfe é autor da proposta de criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a condução e eventuais omissões do governo federal relacionadas à pandemia de Covid-19. O pedido já contava com 32 assinaturas de senadores, mais do que as 27 necessárias para que se abra uma investigação do tipo.
No entanto, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), se recusou a instalar a comissão sob o argumento de que este não seria o momento adequado para uma CPI. Em resposta, dois dos senadores que assinaram a proposta de Randolfe, Jorge Kajuru e Alessandro Vieira (Cidadania-SE), recorreram ao Supremo Tribunal Federal (STF), e o ministro Luís Roberto Barroso determinou a instalação da CPI.
Na quarta-feira (14), o plenário do STF vai decidir se a CPI deve ser instalada ou não, conforme estabeleceu o presidente da Corte, Luiz Fux.