À CNN, chanceler diz que Brasil não romperá com Venezuela e defende “grupo de amigos”
Mauro Vieira cita que a criação de um novo grupo de países para dialogar, como ocorreu em 2003, pode ser uma proposta de consenso com Maduro e oposição
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, disse que não se deve esperar “redrudescimento ou rompimento” das relações diplomáticas do Brasil com a Venezuela mesmo se não houver uma solução para o processo eleitoral do país vizinho, que se arrasta desde o fim de julho.
Durante particição no CNN Entrevistas, que vai ao neste domingo (13), o chanceler afirmou que o governo brasileiro seguirá buscando “um consenso social e político dentro da Venezuela”.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), junto com seus colegas da Colômbia e do México, se colocaram como interlocutores para uma saída negociada com o regime Maduro e a oposição.
“Não creio que seja adequado […] o recrudescimento ou o rompimento de relações diplomáticas com um vizinho grande, da importância que é a Venezuela, como aconteceu no governo passado, em que fechamos a embaixada, os três consulados e os 20 e poucos mil brasileiros que residem lá ficaram abandonados. O presidente Lula me instruiu logo no primeiro ou segundo dia do seu governo, a reabrir a embaixada, e assim nós fizemos. Vamos continuar, então, portanto, conversando e contribuindo para um consenso nacional dentro da Venezuela”, disse.
As relações diplomáticas entre os dois países foram suspensas em 2019, quando o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) resolveu reconhecer o então líder opositor Juan Guaidó como “presidente interino” da Venezuela. Ao retornar ao Palácio do Planato em 2023, Lula determinou a retomada das relações.
Para o chanceler, a postura de muitos países — incluindo o Brasil — de ter reconhecido Guaidó como presidente legítimo da Venezuela foi uma atitude “infantil”, sem consequências.
Mauro Vieira afirmou que é preciso pensar numa solução como o Grupo de Amigos da Venezuela, criado em 2003 por sugestão do Brasil, que na ocasião teve o objetivo de propor uma saída para a crise política desencadeada pela movimento opositor ao governo de Hugo Chávez.
“Temos que pensar em algo do gênero, em que esteja presente o governo, a oposição, todos que se possam conversar e saber o que cada um quer, o que cada um espera, o que cada um pode fazer”, defendeu.
O ministro afirmou ainda que adotar um formato como o do Grupo de Amigos de 2003 depende de uma concertação de todas as partes.
“Nós, sozinhos, não devemos fazer nada, porque o que foi feito no passado foi muito contraproducente. Não só pelo governo anterior brasileiro, mas por um número enorme de governos da nossa região que reconheceram um outro presidente da República, numa atitude que não contribuiu para nada”.
“(Foi) uma coisa quase que infantil de reconhecer outra pessoa, uma outra entidade física como presidente da República sem ter um voto popular, que não tinha, foi eleito indiretamente por uma assembleia e que não levou a nada. Só levou ao recrudescimento da situação e só levou justamente à suspensão das relações diplomáticas”, disse.
Vieira disse que a saída do candidato da oposição, Edmundo Gonzaléz, causa “certa perplexidade”.
“Eu não sei por que motivos e se houve pressão ou não (para Gonzaléz sair). Eu sei que o candidato saiu, está exilado. O governo venezuelano deve ter concordado, porque senão ele não poderia ter saído num avião da Força Aérea de um terceiro país. Há um certo clima de perplexidade internacional desde esse momento. Agora, nós estamos prontos a continuar conversando com o governo e com a oposição”, pontuou.