8 de janeiro: “Medo era do que não via”, diz Dino à CNN
Ministro da Justiça chegou a ser cogitado para ser o interventor da segurança pública do Distrito Federal; leia trechos da série especial da CNN sobre os ataques contra os Três Poderes
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, afirmou à CNN que no auge dos ataques às sedes dos Três Poderes, a principal preocupação era com possíveis desdobramentos do que estava ocorrendo em Brasília.
“Era um contexto de dificuldade, tensão, nível máximo. Meu medo não era nem tanto com o que eu via, era com o que eu não via, porque eu pensava: se isso aqui vira um efeito dominó daqui a pouco a gente tem dez Palácios invadidos pelo Brasil a fora. Assembleia, tribunais. Como é que nós vamos controlar isso?”
Foi quando, segundo o ministro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu pela intervenção na segurança pública do Distrito Federal.
“Inicialmente seria eu o interventor. A primeira versão do decreto previa que seria uma intervenção em todo o GDF. Ou seja: haveria o afastamento do governador e também da vice, de todo mundo. E eu assumiria na prática o governo do Distrito Federal. Depois houve pelo presidente Lula um desejo de restringir a intervenção na segurança. E depois houve por mim a identificação de um problema jurídico”, disse.
Dino havia sido diplomado senador. E a legislação impõe algumas restrições a parlamentares. Foi quando um outro nome precisou ser escolhido.
“Eu vou até uma janela aqui e vejo o [Ricardo] Cappelli [secretário-executivo do Ministério da Justiça]. Eu nem sabia que ele tinha chegado, porque no início estávamos poucas pessoas. Eu olhei ele lá embaixo e disse: tem experiência, tem coragem, é o número dois do ministério e estava nomeado.”
Ricardo Cappelli foi nomeado para a função. Dino avalia que a intervenção foi o caminho mais rápido, acertado e eficaz.
“O mais importante é que isso permitiu que, de fato, houvesse comando, representado inicialmente por mim e depois, com a intervenção, o Cappelli vai com o secretário Galdino. Os dois descem, vão para a Esplanada e conseguem estabelecer um pouco o comando. E aí a gente mobiliza, reorganiza, aparecem outros policiais vindo não sei sob comando de quem. Foi possível estruturar as linhas na Praça dos 3 Poderes e eu vim acompanhando isso meio que on-line.”
Segundo o ministro, naquele momento, o maior desafio era estancar os atos. “A mensuração disso no meio do calor dos acontecimentos é muito difícil e aí o processo decisório não dependia, claro, de mim e sim do presidente da República e dos demais chefes dos poderes”, avaliou.
Dino avalia que inicialmente houve falhas por parte da Polícia Militar. “Houve óbvias falhas. Não era para ter acontecido aquilo se a primeira linha de contenção lá em cima, lá na perto do Catedral, lá perto da Rodoviária, tivesse funcionado.”
Um ano depois dos acontecimentos, Dino analisa que, apesar de superado, o 8 de janeiro deve servir de lição para a sociedade.
“Faça o bom debate e consiga resolver as contradições por intermédio dos caminhos constitucionais, processo na justiça, eleições, debates parlamentares e nunca por intermédio da violência física”, completou.