Volta às aulas só quando tiver vacina? Especialistas debatem opções de retorno
Priscilla Cruz, da ONG Todos Pela Educação, e Benjamin Ribeiro, representante das escolas particulares, discutiram alternativas de volta às aulas com segurança
A flexibilização de diversos setores evidencia ainda mais a questão: quando será o momento de retonar às aulas presenciais para crianças e jovens brasileiros? Para Priscilla Cruz, presidente da ONG Todos Pela Educação, a decisão não pode esperar a chegada de uma vacina.
Em entrevista à CNN, Priscilla disse que o futuro imunizante é um elemento incontrolável pela sociedade e, por isso, não pode ser o definidor do retorno seguro às salas de aula.
“A vacina é um elemento que a gente não controla. Pode acontecer em alguns meses, ou, como a OMS já disse, somente em 2022 que poderá ser disponibilizada em larga escala. Não dá para imaginarmos que esse elemento é tão fixo na decisão da retomada das aulas presenciais”, ponderou.
Segundo a especialista, a pandemia ainda está em alto patamar no Brasil, o que justifica a insegurança de pais e educadores em voltar às escolas. Por conta disso, Priscilla afirmou que novas modalidades de ensino ajudarão no retorno gradual do ensino, que deve acontecer o quanto antes para não prejudicar os alunos mais vulneráveis.
“O ensino híbrido [misto de presencial e remoto] veio para ficar. Os professores que não estão no grupo de risco podem voltar antes daqueles que são grupo de risco. O que não dá é termos um indicador que está tão longe, tão fora do nosso controle, para uma decisão tão séria para a vida dessas crianças e jovens”, disse.
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Priscilla também defendeu um retorno às aulas regionalizado – reabrir escolas, de forma gradual, nos locais em que os números da pandemia já desaceleraram.
“O Brasil é um país muito grande e desigual, e a situação da pandemia também varia demais. Essa decisão de reabertura tem que ser olhada dentro do contexto regional e, aí sim, fazer uma calibragem dessa reabertura”, afirmou.
Escolas particulares
Já para Benjamin Ribeiro da Silva, presidente do sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo (Sieeesp), as escolas particulares já estão prontas para a reabertura desde julho.
Para ele, é equivocado querer abrir as escolas particulares em conjunto com as públicas, ou priorizar as últimas em dentrimento das primeiras.
“Quando os governantes dizem que não vão deixar as escolas particulares voltarem antes da escola pública porque vai aumentar o distanciamento [educacional] é uma tremenda ignorância”, afirma Ribeiro. “Atualmente, 95% dos alunos da escola particular têm acesso às aulas remotas, enquanto menos de 40% da pública têm”, disse.
Silva alegou que o retorno das aulas presenciais é essencial para a educação básica. Principalmente, porque crianças até 8 anos não conseguem interagir integralmente com as aulas online. “As escolas [em ensino remoto] vão muito bem com os alunos a partir dos 9 anos, mas os menores precisam desse relacionamento pessoal, interlocução com o professor e do contato íntimo com os amiguinhos”, defendeu.
Questionado se as escolas particulares têm meios de garantir que o novo coronavírus não se propague entre as crianças, Silva rebateu: “Quem tem trazido o vírus para casa é a própria família. Abriu praia, shopping, bar, se abriu tudo… onde essas crianças estão pegando [a doença]? Alguém de casa que foi em algum lugar e trouxe pra dentro.”