Vídeo edita fala de Lula para afirmar que ele chamou apoiadores de vagabundos
É falso o vídeo que circula na plataforma Kwai mostrando, de forma editada, o discurso em que Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ex-presidente e candidato à Presidência da República, supostamente xinga apoiadores
Falso: É falso o vídeo que circula na plataforma Kwai mostrando, de forma editada, o discurso em que Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ex-presidente e candidato à Presidência da República, supostamente xinga apoiadores. No vídeo original, gravado em área ocupada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), em outubro de 2017, Lula fala o contrário do que sugere a versão manipulada e diz que no local não existem traficantes, vagabundos e bandidos.
Conteúdo investigado: Postagem com conteúdo falso no Kwai mostra Lula chamando apoiadores de “vagabundos”, “traficantes” e “bandidos”. Após o discurso do petista, é inserido à montagem outro vídeo, em que o deputado estadual Conte Lopes (PL-SP) afirma que o ex-presidente “não fala coisa com coisa”.
Onde foi publicado: Kwai, Twitter, Instagram, Facebook e TikTok.
Conclusão do Comprova: É falso vídeo no Kwai que mostra Lula chamando apoiadores de “vagabundos”; “traficantes” e “bandidos”. A gravação é editada para suprimir o termo “não” antes das palavras. A postagem também tem outro vídeo inserido, em que o deputado Conte Lopes faz críticas ao petista.
Durante uma ocupação em São Bernardo do Campo (SP), organizada pelo MTST, o ex-presidente discursou para as pessoas presentes, em outubro de 2017. No vídeo original, Lula afirma: “A primeira coisa é que eles têm que saber que aqui não tem vagabundo. Aqui não tem traficante. Aqui não tem bandido”.
No último dia 3 de setembro, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determinou que redes sociais retirassem do ar publicações contendo o mesmo vídeo com falas editadas de Lula, sob a justificativa de manipulação do discurso do ex-presidente com a finalidade de atingir a integridade do processo eleitoral.
O Comprova considera falso qualquer conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.
Alcance da publicação: Até o dia 15 de setembro, a postagem no Kwai teve 273 curtidas, 132 comentários, 415 compartilhamentos e 11,2 mil visualizações. A decisão do TSE pela retirada do mesmo vídeo cita publicações em outras redes sociais. Até 1º de setembro, uma postagem do Twitter teve mais de 18 mil visualizações. Outro post teve mais de 1,1 milhão de visualizações no TikTok. No Facebook, foi visto mais de 130 mil vezes.
O que diz o autor da publicação: O Comprova entrou em contato com o autor da publicação por meio do recurso de troca de mensagens no Kwai. O perfil, identificado como Aladir Leite Albuquerque, não respondeu até a publicação desta checagem. Aladir foi candidato em várias eleições e concorreu ao senado em 2018 no Mato Grosso pelo PPL. Ele não se elegeu.
Como verificamos: Em pesquisa no Google pela frase “Lula xinga apoiadores”, identificamos outras checagens sobre o mesmo vídeo (AFP, Reuters, Estadão, Uol) e decisão do TSE em relação ao vídeo. Por meio de pesquisa reversa da imagem, verificamos que as cenas finais são de Conte Lopes, deputado estadual por São Paulo e candidato à reeleição, em um podcast compartilhado em seu canal no YouTube. Também entramos em contato com o autor da publicação no Kwai.
Discurso MTST
Conforme verificado pelo Comprova, em reportagens na internet (AFP) e no próprio site do MTST, Lula foi à ocupação Povo Sem Medo, organizada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto, no dia 21 de outubro de 2017. Ele discursou para uma multidão em São Bernardo do Campo.
O vídeo do discurso pode ser visualizado no canal Mídia Ninja, no YouTube. O conteúdo mostra, a partir de 1:19:54, o momento da fala de Lula que foi manipulado na edição para gerar um sentido contrário ao que ele disse de fato.
“É importante que eles saibam quem são vocês. A primeira coisa é que eles têm que saber que aqui não tem vagabundo. Aqui não tem traficante. Aqui não tem bandido. E muito menos bandida. Aqui tem homens, mulheres, mães e pais, que certamente ou ainda estão trabalhando ou já trabalharam e foram mandados embora. E que eles não querem confusão”, discursou Lula.
Decisão TSE
No dia 3 de setembro deste ano, o ministro do TSE Paulo de Tarso Vieira Sanseverino determinou que redes sociais retirassem do ar publicações contendo o mesmo vídeo checado pelo Comprova, com falas editadas do ex-presidente Lula.
A decisão abrangeu plataformas como o Twitter, Instagram, Facebook e TikTok. Na ocasião, o Kwai não foi citado como uma das redes sociais em que o conteúdo foi publicado. O ministro determinou a suspensão da divulgação do material em 24 horas, sob pena de multa de R$ 10 mil. O tribunal atendeu em parte o pedido da federação que apoia a candidatura do petista à Presidência, a Coligação Brasil da Esperança, formada pelos partidos PT, PV, PCdoB, PSOL, REDE, PSB, Solidariedade, Avante, Agir e Pros.
“Infere-se, pois, serem plausíveis as alegações de que as publicações impugnadas na inicial foram, de fato, manipuladas e editadas no intuito de alterar o sentido da fala do candidato e a verdade sobre os fatos e, com isso, repercutir e interferir negativa e irregularmente no pleito, o que deve ser reprimido pela Justiça Eleitoral”, diz trecho da decisão do ministro.
Sobre o vídeo
O Comprova apurou que o vídeo aqui verificado apresenta uma montagem com duas partes. Na primeira, com as falas editadas do ex-presidente Lula; e, na segunda, com um trecho de 9 segundos de um outro vídeo publicado na página do YouTube de Conte Lopes.
Nessa segunda parte, a partir da afirmação sobre o ex-presidente, “não fala coisa com coisa”, entende-se que o deputado se refere às falas manipuladas da primeira parte do vídeo, que distorcem o sentido das declarações de Lula. Na realidade, as alegações de Conte Lopes estão relacionadas a outro assunto.
Elas são copiadas de um vídeo em que Lula aparece criticando Bolsonaro por ter concedido graça ao ex-deputado federal Daniel Silveira, condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 8 anos e 9 meses em regime fechado. Depois de ver as falas do ex-presidente sobre o assunto, Conte Lopes reage afirmando que o petista está “caducando” e que “não fala nada com nada”.
Quem é Conte Lopes?
O político identificado no vídeo, que tem as falas dizendo que Lula “não diz coisa com coisa”, é Roberval Conte Lopes Lima (PL), mais conhecido como Capitão Conte Lopes. De acordo com o site oficial da Assembleia Legislativa de São Paulo (ALESP), ele foi eleito em 2018 para o quinto mandato consecutivo com cerca de 207 mil votos.
Em 1998, foi o segundo deputado mais votado no estado. Atuou como membro das Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) do Crime Organizado, em 1997, e do Narcotráfico, em 1999. Em 2001, foi escolhido líder do PPB (hoje PP) na Alesp e membro da CPI do Sistema Prisional. Em março de 2003, foi reconduzido à liderança do partido. Atualmente, filiado ao Partido Liberal, é candidato a deputado estadual nas eleições de 2022.
Por que investigamos: O Comprova checa conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. Nesta verificação, o conteúdo editado induz o eleitor a um entendimento equivocado em relação ao que disse o candidato Lula, há cinco anos. Material de desinformação como este atrapalha o processo eleitoral, pois engana a população, que deve fazer sua escolha a partir de dados verdadeiros e confiáveis.
Outras checagens sobre o tema: O mesmo conteúdo já foi checado em outras oportunidades por veículos como AFP, Reuters, Estadão e Uol.
Também envolvendo o candidato Lula, o Comprova realizou recentemente algumas checagens. Uma delas foi sobre vídeo manipulado para inserir ofensa a Lula em discurso de apoiadora em Pernambuco. Em outra checagem, foi concluído que Lula não disse que vai implantar ditadura no Brasil em entrevista a canal chinês. Também recentemente, o Comprova checou vídeo falso que fazia montagem de Lula declarando voto em Bolsonaro.
Investigado por: portal Norte de Notícias, Alma Preta e Metrópoles; Investigado por: GaúchaZH, Imirante.com, Plural Curitiba, O Dia, Piauí, A Gazeta, CBN Cuiabá e Grupo Sinos