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    O que é ‘blackface’ e por que é uma prática racista

    O assunto veio à tona após um professor de medicina fazer "blackface" durante uma aula on-line; ele será investigado

    A pesquisadora, advogada e doutoranda em direito político Waleska Miguel Batista explicou à CNN, nesta sexta-feira (9), por que o “blackface” é uma prática racista e que precisa deixar de existir na sociedade. O assunto veio à tona após um professor de medicina fazer “blackface” durante uma aula on-line.

    Usando uma máscara preta, ele simula o que seria um paciente do SUS. “Eu não como estas comidas de fraco do SUS, não. Eu como comida de macho, está entendendo?”, disse o professor Ronald Pallotta Filho, na aula registrada na última terça-feira (6).

    A faculdade informou que vai investigar o caso. Em nota enviada à CNN, o professor lamentou o ocorrido, disse que fez uma “inocente e infeliz escolha” e que não tinha intenção de expor conteúdo racista.

    A pesquisadora defende que a sociedade faça uma reflexão sobre o que representa o blackface. “Um dos pontos que ele colocou é que era para representar as pessoas pobres, como se todos se fossem negros e estivessem sujeitos a essa condição. Isso tinha que ser refletido”, afirma, lembrando as origens racistas da prática.

    “O blackface é caracterizado como uma prática reconhecidamente racista porque, no final do século 19, nós tínhamos uma sociedade norte-americana racista e segregacionista em que os negros eram impedidos a acesso a teatros e shows”, pontuou. 

    Se os negros não podiam assistir, tampouco tinham oportunidade de atuar nos espetáculos, sendo encenados por artistas brancos com rostos pitados com tinta preta.

    “Somente os brancos tinham esses espaços e começaram a fazer espetáculos utilizando-se de características que eles atribuiam a pessoas negras”. 

    “Não é só pintar a pele, mas também colocar cabelos crespos e peruca, fazer maquiagens para evidenciar o que entendem como lábios mais grossos e o nariz maior, além de roupas e comportamentos considerados piadas para o entretenimento dessas pessoas brancas que iam nesses espaços”, explica.

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    Professor de medicina 'black face' durante aula online; faculdade investigará ca
    Professor de medicina ‘black face’ durante aula online; faculdade investigará caso
    Foto: Reprodução/CNN

    A pesquisadora ainda aponta que “a atribuição de características negativas à população negra foi colocada como uma forma normal para inferiorização desse grupo”.

    “Não só com uso de palavras jocosas, mas também com erros – como se a população negra não tivesse conhecimento da língua culta, mas fosse sempre marginal”, exemplificou.

    “Colocam como malandros e preguiçosos. Então, usar blackface evidenciando esses aspectos para a inferiorização de um grupo com fundamento na raça é reconhecido cientificamente como uma prática racista”, frisa.

    A prática foi além dos teatros do final do século 19 e invadiu a programação televisiva no século seguinte. Waleska explica que a intenção era tornar o racismo como um entretenimento para brancos. O cenário começou a mudar com a intervenção de ativistas do movimento negro.

    “O movimento antirracista apontou isso como uma forma de manutenção do racismo. Com esse fundamento, foi colocado que as pessoas não deveriam fazer essa prática, sendo classificada como vergonhosa e desprezível”, classificou.

    Waleska ainda destacou que outros tipos de comportamentos e atitudes também podem ser reconhecidamente racistas quando retiram a humanidade da pessoa negra.

    “Piadas ou frases sobre não serem capazes ou serem incompetentes, além de fazer estilos como se fossem caracterizados como animais, tirando a humanidade da população negra e sua subjetividade humana, como se somente os brancos tivessem humanidade. Isso também é uma prática racista, ainda que inconsciente”, define.

    Por fim, ela destaca que a não intencionalidade não muda o racismo. “Não precisa nem de intenção, porque o racismo é a prática consciente ou inconsciente da discriminação com fundamento na raça”.

    Nota do professor

    Agradeço a oportunidade e a possibilidade de contraditório.

    Antes de mais nada, gostaria de esclarecer todo o ocorrido, deixando claro desde já que, embora não tenha sido minha intenção, alguém interpretou minha conduta como ofensiva e por isso peço desculpas.

    Sou médico formando pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa desde 1989, professor e médico de diversos hospitais, inclusive públicos.

    No que diz respeito à aula por mim ministrada, a qual é objeto de questionamento, jamais tive a intenção de desrespeitar quem quer que fosse em razão da raça, nível social ou por qualquer outra característica com utilização da máscara na representação que tentei fazer. 

    A aula que estava sendo exposta aos alunos deveria ser presencial e prática, diretamente com pacientes; por este motivo devido as impossibilidades que nos impõe o momento atual me posicionei como ‘ator’ para melhor entendimento dos alunos, apenas tentando acrescer conteúdo pedagógico à explanação.

    Em nenhuma hipótese tive a intenção de expor qualquer conteúdo de índole racista e sequer era familiarizado com o conceito de “blackface”, sobre o qual fui procurar me informar após a repercussão negativa.

    Ao compreender o que isso representa hoje, me sinto constrangido, mas ao mesmo tempo reafirmo que jamais tive a intenção de ofender. Trata-se de inocente e infeliz escolha a colocação da máscara que poderia ser de qualquer cor utilizei a disponível.

    A utilização da máscara tinha por finalidade apenas demonstrar que se tratava de uma encenação, sem qualquer referência à raça do personagem que tentei no meu amadorismo representar.

    Tenho 30 anos de medicina, boa parte deles prestando atendimento aos menos favorecidos financeiramente e em situação de vulnerabilidade social em hospitais públicos, onde sempre escolhi exercer minha profissão por convicção sobre o papel do médico na vida das pessoas.

    Nunca medi esforços para dar o melhor atendimento que estava ao meu alcance, inclusive durante a pandemia do COVID 19. Peço que não me julguem baseados apenas neste triste episódio. Com a expectativa de q aceitem minhas desculpas me despeço subscrevo-me, Ronald Pallotta

    (Com informações de Julyanne Jucá. Edição: Sinara Peixoto)

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