Secretário de Saúde do RJ fala sobre investigações contra corrupção na pasta
Fernando Ferry falou sobre as denúncias envolvendo a organização social Iabas, responsável pela construção e gestão dos hospitais de campanha
O secretário de Saúde do Estado do Rio de Janeiro, Fernando Ferry, falou à CNN, nesta sexta-feira (5), sobre as denúncias envolvendo a organização social Iabas, empresa responsável pela construção e gestão dos hospitais de campanha do governo do Rio de Janeiro. Apesar desses problemas, ele afirmou que os equipamentos comprados ficaram como legado para a população.
De acordo com Ferry, a antiga contratada do governo havia informado à pasta que os respiradores comprados para os hospitais temporários não estavam sendo liberados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas depois ele descobriu a verdadeira situação.
“Liguei pro presidente da Anvisa e fui informado que, na verdade, se tratavam de carrinhos de anestesia e não de respiradores”, relatou.
Ferry informou que os carrinhos podem ser usado de forma emergencial, como, segundo ele, fez a Itália no auge da crise da Covid-19, mas que “não conseguem manter a respiração dos pacientes por um período prolongado”. O equipamento também precisa ser operado por anestesistas e não por fisioterapeutas, que são os responsáveis pelos os respiradores.
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Fernando Ferry é o novo secretário da Saúde do Rio de Janeiro
“Então, precisaríamos de anestesistas 24h por dia, sete dias por semana. Ou seja, o custo seria absurdo e nós não conseguiríamos anestesistas suficientes para fazer isso”, concluiu.
“Existe também um parecer da sociedade de anestesistas que condena esse uso. Outros órgãos deram parecer favorável, mas esse – que ainda não tive tempo de ler – indica que podemos usar porque na Itália foi usado”, acrescentou.
Além desse episódio, a Iabas ainda é suspeita de ter usado parte dos R$ 256 milhões que recebeu para as obras para pagar a hospedagem de seus funcionários em hotéis na zona sul do Rio de Janeiro.
A informação consta de uma planilha com subcontratações feitas pela empresa para o hospital de campanha do Maracanã.
Legado para a população
“Espero deixar esses hospitais como um legado para a população. Uma das coisas que a gente vai tomar a decisão é de investir e preparar as unidades intensivas dos hospitais regulares.Todos os equipamentos e tudo o que foi comprado no hospital de campanha é do estado e vai ser empregado para conseguir estruturar os hospitais regulares”, assegurou.
De acordo com ele, essa transferência de equipamentos iria ocorrer ao longos dos próximos anos e de acordo com a capacidade da rede pública. “Essas tendas têm uma duração de três a cinco anos, então teremos esse exercício de tempo para preparar os hospitais regulares e ir desmontando essas tendas à medida que os hospitais regulares tenham a capacidade de oferecer leitos de CTI para a população”, concluiu.
Operação
A pasta da Saúde foi um dos alvos de uma operação da Polícia Federal e do Ministério Público, que investiga suspeita de corrupção em contratos.
Em maio, o ex-subsecretário de Saúde Gabriell Neves foi preso por suposta fraude, junto com outras três pessoas. Além disso, a Polícia Civil do Rio prendeu o empresário Maurício Fontoura, suspeito de participar do esquema criminoso de contratos fraudulentos sem licitação.
Depoimentos de Neves a autoridades foram o ponto de partida da Operação Placebo, que teve o governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), como um dos alvos. Buscas foram realizadas inclusive no Palácio Laranjeiras, residência oficial do governador do estado.
A operação foi autorizada pelo ministro Benedito Gonçalves, do STJ (Superior Tribunal de Justiça). Ele afirmou haver indícios de que Witzel tenha tomado atitudes para facilitar fraudes contra o sistema de saúde do Rio.
A decisão de Gonçalves também diz que a primeira-dama do estado, Helena Witzel, é considerada peça do esquema fraudulento. O texto do ministro diz que o compartilhamento de provas oriundas da Justiça Federal mostra relação entre Helena e pessoas e empresas investigadas.
Witzel afirmou que os elementos usados pela Justiça para a operação Placebo não são contemporâneos à investigação e têm como base “suposições”.
O governador afirmou que se considera vítima de “perseguição política” e disse ver relação com a operação contra si e as investigações que apuram possível interferência política do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na Polícia Federal.
(Edição: Sinara Peixoto)