Restaurante mais antigo do RS foi tomado por cheia do Guaíba pela 2ª vez: “Será que vale a pena voltar?”, questiona proprietário
Em atividade desde 1889, Gambrinus fica no Mercado Público de Porto Alegre e foi "sobrevivente" do alagamento de 1941; empresário João Melo não garante permanência no local, apesar de estabelecimento ser símbolo histórico
Nem mesmo o mais antigo restaurante do Rio Grande do Sul escapou dos alagamentos devastadores que atingiram o estado desde o início do mês. Localizado no Mercado Público de Porto Alegre, o Restaurante Gambrinus foi tomado pelas águas do Guaíba, que registrou cheia histórica com pico de 5,35 metros.
Em atividade desde 1889, o Gambrinus também foi um “sobrevivente” do alagamento de 1941 em Porto Alegre, quando o Guaíba marcou 4,76 metros, até então o recorde.
O restaurante pertence ao empresário João Melo, que também é o atual presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) do Rio Grande do Sul.
“O Gambrinus é um restaurante centenário, só na nossa família ele tem 60 anos. Ele foi bem prejudicado, alagado totalmente. Faz alguns dias que a água baixou, mas ainda não foi autorizado o nosso acesso, por se tratar de um Mercado Público, para fazer uma vistoria e ver o que vai se aproveitar de equipamentos”, explicou João Melo.
“Estamos ansiosos, como é uma casa muito antiga, centenária, com muita madeira, material que com água se destrói. Talvez as mais antigas resistam, mas as mais novas, os balcões, devem ser todos perdidos”, completou o empresário.
João Melo acredita que conseguirá entrar no mercado nos próximos dias para avaliar os estragos. A expectativa é de que a água tenha atingido a marca de 1,5 metro de altura dentro do restaurante. Em 1941, com a cheia do Guaíba, a água marcou 1,4 metro no centro do mercado.
Mudança de endereço
O Gambrinus é símbolo do Mercado Público. No entanto, João Melo afirmou à CNN que poderá deixar o local. “Tenho uma casa inteira para reconstruir, o momento é de repensar o negócio. Será que vale a pena voltar, para um prédio que a gente não tem segurança de vida, que não vamos sofrer outra enchente ou ter outro problema?”, questionou.
“Claro que passa na cabeça de qualquer empresário. Nem acessamos a loja ainda. O investimento é grande. A gente estima R$ 1 milhão em prejuízo. No cenário atual, da economia nacional, até global, é um cenário que assusta. Vai investir R$ 1 milhão de novo e não sabe se vai alagar novamente daqui um ano, dois anos…”
Funcionários
Atualmente, o Gambrinus tem 18 funcionários, entre eles o garçom Zezinho, que trabalha há mais de 40 anos. O proprietário do local diz que espera por ajuda governamental para conseguir a reconstrução e manter os empregados. “Temos uma equipe de profissionais muito dedicada. Só que precisamos de auxílio para pagar a folha. O setor de restaurante vem endividado desde a pandemia, período que o Gambrinus não demitiu ninguém”, diz João Melo.
“É uma casa centenária, viveu a enchente de 1941, dois incêndios, o último em 2013. Viveu pandemia, morte de sócios…, mas nossa maior preocupação é a cidade que tem cenário de caos. Muitas empresas vão perecer se não tiverem ajuda. Só no Mercado Público, são 1,5 mil pessoas, praticamente 100 bancas, e todo mundo decidindo o que fazer, querendo preservar os empregos, mas numa situação de muita dificuldade”.
A CNN entrou em contato com a assessoria da Prefeitura de Porto Alegre sobre os trabalhos de recuperação do Mercado Público e de quando os proprietários de lojas poderão retornar. O texto será atualizado após a resposta.
(Colaborou Rafael Villarroel, da CNN)