Raio-x mostra dificuldades dos municípios para enfrentar pandemia
4 em cada 10 municípios não tomaram medidas para reposição de profissionais de saúde; só 34,54% das cidades brasileiras fazem levantamento de leitos de UTI
Menos da metade (34,54%) das cidades brasileiras faz levantamento diário da disponibilidade e demanda por leitos de UTI, mostra levantamento obtido pela CNN.
O Conselho Nacional de Presidentes dos Tribunais de Contas produziu um levantamento que mostra um raio-X das ações dos municípios e estados brasileiros no combate ao novo coronavírus.
Foi enviado um questionário com 50 perguntas, divididas em duas partes: uma voltada a ações internas de gestão e outra a políticas públicas de enfrentamento dos efeitos sociais e econômicos da pandemia.
Leia também:
Brasil chega à marca de 100 mil mortes por Covid-19
Ajuda do Brasil ao Líbano terá 300 ventiladores pulmonares e 100 mil máscaras
‘Desafio humano’ da vacina faz 9 mil brasileiros se inscreverem como voluntários
A CNN separou alguns dos principais achados da pesquisa, que teve a participação de 1.768 cidades, que somam 73,7 milhões de pessoas ou 35% da população brasileira.
Uma das principais dificuldades apontadas foi na organização de estrutura física, equipamentos e de pessoal para atender as dificuldades que surgiram com a pandemia. Além dos precários levantamentos da disponibilidade e demanda por leitos de UTI, a pesquisa revela que, entre os estados que responderam (11), 9 confirmam e 2 não fazem esse levantamento.
A maioria das cidades não consegue monitorar a quantidade de ventiladores pulmonares disponíveis na região (69,08%). Os dados também mostram que 4 em cada 10 municípios não tomaram medidas para reposição ou expansão de profissionais de saúde. Também houve dificuldade em reaproveitar profissionais afastados por estarem em grupo de risco — só 46,5% disseram ter tomado medidas do tipo.
Outra dificuldade dos municípios foi em relação às ações de combate e prevenção à doença. Menos da metade (39,96%) das cidades fez monitoramento das regiões mais vulneráveis ao espalhamento do novo coronavírus, com alta concentração de habitantes por domicílio, geralmente nas regiões mais pobres da cidade. Além disso, 29% não fazem o mapeamento de casos suspeitos, confirmados e/ou curados das mortes por bairro, rua e região da cidade, o que pode ajudar a isolar casos e identificar onde a situação está pior.
Em relação aos recursos, 3 em cada 10 cidades não fizeram estudo de impacto na previsão da receita durante a pandemia (28,29%), proporção semelhante a dos municípios que afirmaram não ter recebido transferências de outros entes da federação ou doação privada para ações de combate à Covid-19. A população dessas cidades também não conseguiu apoio financeiro – só 1 em cada 10 conseguiu criar sistema de microcrédito para apoiar pequenos negócios durante a pandemia e 5,48% conseguiram criar programas de complementação de renda para a população jovem desempregada.
Assim como em outros países, o Brasil também viu um crescimento de casos de violência contra a mulher durante a pandemia, possivelmente uma consequência da quarentena e do isolamento social. Mas quase metade das cidades não conseguiu adotar ações efetivas para enfrentar o problema.
Segundo as respostas ao questionário, 42% também não forneceram ferramentas para denúncias desses casos. Dos entrevistados, 46,18% dos municípios não tomaram medidas para dar assistência a essas vítimas. Todos os estados que responderam à pesquisa confirmaram alguma iniciativa de apoio às vítimas.
Veja alguns dos principais pontos respondidos por tópicos:
Aspectos financeiros
– Quase 3 em cada 10 cidades não fizeram estudo de impacto na previsão da receita durante a pandemia (28,29%)
– 3 em cada 10 cidades (33,22%) afirmam não ter recebido transferências de outro ente da federação ou doação privada para ações de combate à Covid-19 e 20% alegam não terem recebido materiais como testes, máscaras, medicamentos, etc.
Ajuda à população
– Só 1 em cada 10 cidades (9,35%) conseguiu criar sistema de microcrédito para apoiar pequenos negócios durante a pandemia;
– Há menos cidades ainda (5,48%) que conseguiram criar programas de complementação da população jovem desempregada
– A maioria das cidades (71,89%) criou ações para monitorar, desmentir, esclarecer rumores, boatos, informações equivocadas e/ou notícias falsas sobre a Covid-19 nas redes sociais
Estrutura e pessoal
– Menos da metade (34,54%) das cidades faz levantamento diário da disponibilidade e demanda por leitos de UTI em sua região; dentre os estados, 9 confirmam e 2 não fazem esse levantamento;
– 7 em cada 10 cidades não monitoram diariamente a quantidade de ventiladores pulmonares disponíveis na região (69,08%);
– 4 em cada 10 (40,4%) municípios não tomaram medidas para reposição ou expansão de profissionais da saúde;
– Quase metade (46,5%) dos municípios diz que não conseguiu reaproveitar profissionais de saúde em grupos de risco
Combate e prevenção
– Menos da metade (39,96%) das cidades fizeram monitoramento de regiões mais vulneráveis ao espalhamento do novo coronavírus, com alta concentração de habitantes por domicílio;
– Quase 3 em cada 10 cidades (29%) não fazem mapeamento de casos suspeitos, confirmados e/ou curados e das mortes por Covid por bairro/rua/região da cidade;
– 15,13% das cidades não têm protocolo para atender pacientes com sintomas leves da doença;
– 1 em cada 4 cidades (25,36%) não tomou medidas para aumentar a quantidade de testes rápidos para a Covid-19
Violência doméstica
– Quase metade das cidades (43,88%) não adotaram medidas de prevenção de casos de violência doméstica; por outro lado, todos os estados que responderam (11) confirmaram medidas nesse sentido;
– 42,02% das cidades não forneceram ferramentas para denúncias desses casos. O levantamento também indica que 46,18% dos municípios não tomaram medidas para dar assistência a essas vítimas.