Quem é Ronnie Lessa, apontado como assassino de Marielle Franco
Ex-policial militar foi preso em março de 2019 acusado de disparar contra a vereadora e motorista
Ronnie Lessa é apontado como o assassino da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Ele é sargento reformado da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Em março de 2019, um ano após o crime, os ex-policiais militares Élcio de Queiroz e Ronnie Lessa foram presos acusados de dirigir o veículo usado na noite do crime e efetuar os disparos contra as vítimas, respectivamente.
Lessa é suspeito de ter efetuado os 13 disparos de uma submetralhadora HK MP5 contra o carro onde as vítimas se encontravam. Quatro anos após a morte de Marielle e Anderson, em 2023, a Polícia Militar do Rio de Janeiro expulsou da corporação o sargento reformado Ronnie Lessa.
Em janeiro de 2024, Lessa firmou acordo de delação premiada no inquérito que investiga a morte da vereadora. O acordo foi homologado no dia 19 de março deste ano pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A informação foi passada pelo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, durante uma entrevista coletiva.
Nas investigações, o Ministério Público do Rio levantou que Lessa tinha patrimônio incompatível com a renda de sargento PM e vivia uma vida de luxo, com imóveis e lanchas. As investigações mostram que Ronnie Lessa fez pesquisas sobre o CPF e endereço da vereadora Marielle Franco e sua filha Luyara Franco dois dias antes do crime. Essa pesquisa foi feita de um site privado de pesquisas de crédito.
Cronologia do crime
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Segundo a investigação, às 12h do dia 14 de março de 2018, por meio de aplicativo de mensagens, Ronnie convida Élcio Queiroz para sua residência, no condomínio Vivendas da Barra.
No local, Élcio avista Ronnie com uma bolsa. Em seguida, relata o delegado da PF, Guilhermo Catramby, ambos embarcam no Chevrolet Cobalt prata em direção à Casa das Pretas, no bairro da Lapa, onde Marielle participava de um evento com tema “Mulheres negras movendo estruturas”.
Ao chegar no local, Ronnie Lessa passou para o banco de trás, onde se equipou com as armas. Quando a vereadora deixa o evento em um carro dirigido pelo motorista Anderson Gomes e acompanhada de sua assessora Fernanda Chaves, “ambos seguiram, emparelharam e aí nós sabemos o que aconteceu”, disse Catramby.
Por volta das 21h, o carro de Marielle é alvejado com 13 tiros de uma submetralhadora HK MP5. Marielle foi atingida por quatro tiros na cabeça e Anderson, por três. Os dois morreram no local. Fernanda não foi atingida, mas ficou ferida pelos estilhaços.
Após cometerem o crime, ambos tomaram o acesso à Avenida Brasil e seguiram pela Linha Amarela até o Méier. Interfonaram para o irmão de Ronnie, Denis Lessa, entregaram-lhe a bolsa contendo os equipamentos utilizados no crime e pediram que Denis chamasse um táxi para ambos até a Barra da Tijuca. Na Barra, eles embarcam no carro de Ronnie, religaram seus celulares e seguiram para um bar.
Tentativa anterior de assassinar Marielle
Na delação premiada feita pelo ex-policial militar Élcio Queiroz, o ex-PM afirmou que Ronnie já havia feito uma tentativa frustrada de matar Marielle em 2017. Segundo a delação de Élcio, Ronnie havia dito a ele que estava monitorando Marielle Franco havia alguns meses, e que já havia tentado “chegar até esse alvo” em 2017, mas não havia conseguido.
Nessa tentativa frustrada, Élcio disse que Ronnie afirmou estar acompanhado de dois homens: Edmilson e Maxwell. Em julho de 2023, a Polícia Federal prendeu o ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, conhecido como Suel, que teria ajudado a esconder armas de Ronnie Lessa.
Segundo Élcio, Ronnie disse a ele que a tentativa foi frustrada, pois Maxwell, que dirigia o carro naquele dia, disse que o veículo estava com problemas mecânicos. No entanto, Ronnie acreditava que Maxwell estava apenas hesitando em continuar.
Nesta tentativa, segundo a delação, Maxwell seria o motorista do carro, Ronnie estaria no banco do carona armado, e Edmilson Oliveira da Silva, de vulgo Macalé, no banco de trás, também armado.
De acordo com Élcio, Marielle já estava sendo monitorada por Ronnie desde os últimos meses de 2017, pelo menos. Ronnie ainda teria dito que, nessa tentativa frustrada, a vereadora estava em um táxi.
Outros crimes
A lista de crimes do ex-policial é extensa. Lessa também é acusado de tráfico internacional de armas, venda ilegal de armas, duplo homicídio (caso anterior ao assassinato de Marielle e Anderson), e de ter relações com esquemas de contravenção e com milicianos.
Em maio de 2022, Lessa foi alvo da Operação Calígula, do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), que investigou uma rede de jogos de azar.
Ronnie também foi acusado de tráfico de armas, a sentença foi dada em agosto de 2022, quando ele já cumpria prisão preventiva pelo assassinato de Marielle e Anderson. Ele foi condenado a cinco anos de por tentativa de tráfico internacional de armas.
O ex-policial foi acusado nesse caso após a Receita Federal apreender, em fevereiro de 2017, no Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio de Janeiro, 16 “quebra-chamas” para fuzis AR-15 – esse equipamento permite reduzir o clarão provocado pelos disparos dos fuzis, geralmente utilizado por atiradores profissionais com o intuito de chamar menos atenção no momento em que atiram.
A encomenda dos equipamentos apreendidos estava endereçada a uma academia de ginástica, mas o endereço utilizado era o residencial de Lessa e sua esposa, Elaine Lessa. Ela foi absolvida de participação no crime.
Outro crime para lista do ex-policial é o de venda ilegal de armas. Ronnie Lessa foi condenado pela acusação de comércio de arma de fogo por conta de 117 peças de fuzis apreendidas no dia de sua prisão, em 2019. A pena foi estabelecida em 13 anos e 6 meses de prisão.
Lessa também é acusado de um duplo homicídio que aconteceu em junho de 2014, na Zona Oeste da capital fluminense. Na ocasião, ele teria assassinado o ex-policial André Henrique da Silva Souza, conhecido como André “Zóio”, e a namorada dele, Juliana Sales de Oliveira.
André “Zóio” estaria ameaçando a liderança do ex-vereador do Rio de Janeiro Cristiano Girão, apontado como mandante do crime, na milícia atuante na Gardênia Azul, bairro da Zona Oeste do Rio.
De acordo com uma testemunha do crime ouvida nos autos, no dia 14 de junho de 2014, um carro fechou o veículo onde estavam as vítimas. Lessa desceu do automóvel, caminhou em direção aos alvos e atirou contra o casal. Ele estava acompanhado de um homem encapuzado que efetuou mais disparos.
(Publicado por Duda Cambraia)