Queimadas no Pantanal: 5 respostas para as perguntas mais comuns
Números expressivos ganharam destaque nacional e internacional e têm gerado dúvidas com relação à área; a CNN explica as mais comuns em buscas na internet
Segundo dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisa Espacial), mais de 2,3 milhões de hectares do Pantanal já foram consumidos pelo fogo em 2020.
A área corresponde a quase três vezes a região metropolitana de São Paulo — ou dez vezes a área dos municípios de São Paulo e Rio Janeiro somados.
O Inpe calcula que aproximadamente 15% da área do Pantanal foi consumida pelas chamas.
Os números expressivos ganharam destaque nacional e internacional e têm gerado dúvidas com relação à área. A CNN explica as mais comuns em buscas na internet:
Onde fica o Pantanal?
Ele se estende pelos estados brasileiros de Mato Grosso e principalmente Mato Grosso do Sul, que acolhe 60% da área da vegetação.
O bioma não ocupa somente territórios brasileiros, se estendendo também para Paraguai e Bolívia.
O Pantanal é um pântano?
Não, o Pantanal não é um pântano. Ele é uma planície inundável.
Entretanto, uma das principais características dessa região é a época de inundação, quando o Rio Paraguai e outros invadem regiões de vegetação — de dezembro a fevereiro —, tornando o local extremamente úmido em meio a um ambiente tradicionalmente mais seco.
Em outras estações, as chuvas são menos intensas, e as inundações mais raras, mas ainda assim, a área continua sendo úmida.
O Pantanal sofre influência principalmente de três outros biomas brasileiros: a Amazônia, o Cerrado e a Caatinga, segundo dados do Ministério do Meio Ambiente. Além disso, também é afetado pelo Chaco, encontrado em outras regiões da América do Sul — como na Bolívia e no Paraguai.
Segundo o professor do Instituto de Biologia da UFMS (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul) Geraldo Alves Damasceno Junior, “o Pantanal é uma vegetação mais recente, que acabou recebendo um conjunto de espécies que ocorrem também na Amazônia. O Rio Paraguai nasce quase na divisão entre a Bacia do Paraguai e a Bacia Amazônica. Então, ali criou-se corredor por onde espécies amazônicas também adentram o bioma”.
Ele também explica que uma outra relação importante entre as duas áreas de vegetação é que as chuvas que causam as inundações pantaneiras são formadas a partir da umidade da Amazônia.
Se há focos de incêndios todos os anos, por que as queimadas de 2020 estão em destaque?
Segundo o biólogo, incêndios são comuns e naturais na época de seca do Pantanal, que geralmente acontece entre junho e setembro.
O que acontece agora, que difere do normal, é que o clima está excepcionalmente seco, fazendo com que locais que são cobertos pela água mesmo em períodos de pouca chuva, estejam secos e descobertos.
“O que aconteceu, é que algumas áreas não permaneceram inundadas durante a seca, então há uma biomassa muito grande acumulada e exposta, que ficou disponível para a queima”, afirmou Damasceno.
Com pouca umidade, fica difícil controlar e combater as queimadas, que batem recordes.
Entre janeiro e agosto desse ano, o número de focos de incêndio registrado no Pantanal equivale a tudo o que queimou no bioma nos seis anos anteriores, de 2014 a 2019.
Por que os incêndios são preocupantes?
A região do Pantanal possui uma fauna e uma flora exuberante, que podem ser intensamente prejudicadas pelo fogo.
Segundo a Embrapa Pantanal, mais de 2.000 espécies de plantas já foram registradas na área, muitas com potencial medicinal.
O bioma também abriga, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente, mais de 1.000 espécies animais, das quais algumas são endêmicas, ou seja, só ocorrem naquela região.
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“Animais de muitas espécies vão perecer, vão morrer. Inegavelmente há um prejuízo grande para a fauna, principalmente nesses incêndios muito extensos, em que você tem enormes áreas sendo devastadas, e o bicho não tem para onde correr”, diz o professor da UFMS.
Além disso, o Pantanal, por ser uma área úmida em meio a uma região predominantemente de clima mais seco, torna-se uma fonte importante de água potável e umidade — para os humanos e outras espécies.
De acordo com Damasceno Junior, a região também tem uma enorme capacidade de absorção de carbono, fato que se torna cada vez mais relevante no contexto de mudanças climáticas. Ao ajudar a absorver a grande quantidade de carbono — por veículos, uso de combustíveis fósseis, fábricas, entre outras formas —, o Pantanal pode mitigar os efeitos do gás na atmosfera.
O bioma tem também o seu papel na economia da região, principalmente por sua vocação turística. “Em função da fisionomia aberta do Pantanal, é muito mais fácil você observar a paisagem quando você está dentro dele, diferentemente da Floresta Amazônica, onde a vegetação é fechada”, explica Damasceno.
A pesca é uma outra atividade que sustenta muitos moradores da região. De acordo com a Embrapa Pantanal, existem por volta de 263 espécies de peixes no bioma, que alimentam e garantem a subsistência de diversas cidades do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul.
O fogo pode afetar a sobrevivência desses animais, que já estão sendo prejudicados pela seca atípica.
Podem existir consequências dessas queimadas no futuro?
Segundo o biólogo da UFMS, é difícil entender agora quais serão todas as consequências dessas queimadas para o bioma futuramente.
Ele explica que a vegetação do bioma possui uma alta capacidade de regeneração e eventualmente voltará a prosperar — se houver cuidado e proteção da região.
Para os animais, entretanto, o golpe pode ser pior. Muitos morrem em decorrência do fogo, seja diretamente, pela destruição de seus habitats ou pela falta de água.
A recuperação da fauna é mais penosa, extensa e exige muita preservação para se curar.
“O Pantanal tem uma exuberância muito grande em termos de beleza. Nós temos um conjunto único de flora e fauna ali”, diz o professor, que alerta para os perigos, mas não perde as esperanças: “O Pantanal é muito resiliente”.
*sob supervisão de Leandro Nomura