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    Produtores de gado no Pantanal reclamam de restrições de leis ambientais

    Paulo Franco*

    A grande reclamação dos fazendeiros é o que os órgãos ambientais não permitem a retirada de algumas espécies de vegetação, consideradas invasoras pelos criadores de gado, como o pombeiro.

    “Ela destrói a beleza do campo, ela toma conta do nosso campo, fazendo com que as pastagens diminuam. Nós não queremos desmatar o Pantanal, nós queremos limpar o Pantanal”, garante João Lozano, que tem 2.000 cabeças de gado em uma área de 7.000 hectares.

    Para o presidente da Fundação Ecotrópica, Ilvanio Martins, o manejo sustentável da terra é possível no Pantanal.

    “O que precisa fazer é não dissociar a ciência da cultura, da tradição e do próprio entendimento do pantaneiro”, afirma.

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    A ecóloga Cátia Nunes da Cunha defende a revisão da legislação para contemplar as peculiaridades de cada bioma. “Entender que esse ecossistema, assim como os outros, tem características particulares. Uma lei para o Brasil não é uma lei que dê condições de manejar todos esses sistemas”, defende. 

    A demora em solucionar alguns conflitos no Pantanal já fizeram muitos fazendeiros se mudarem para o Cerrado, bioma com características bem diferentes.

    O acesso é mais fácil, o custo e o tempo de produção do gado são menores e consequentemente o produto final é mais lucrativo.

    “Nossa renda aqui no Pantanal é menor do que a do Cerrado, pois lá o boi engorda mais rápido e não tem essa dificuldade da enchente e da seca”, explica João Lozano.

    Fogo frio

    Segundo os fazendeiros, por ser uma planície sazonalmente inundável, o solo no Pantanal fica cheio de matéria orgânica, tornando praticamente impossível fazer o manejo com máquinas e tratores.

    João Lozano afirma que, há séculos, o povo pantaneiro usa o fogo para limpar o terreno: “O fogo frio é aquele que você põe na hora certa, no final da cheia ou no início das chuvas. Vai lá, põe o fogo, queima essa massa orgânica e a chuva controla”, diz o produtor rural. 

    Especialistas concordam que a utilização do fogo é benéfica em alguns ambientes, mas alertam para a observação do clima antes de usar essa técnica.

    “Nós estamos tendo uma alteração no período de chuvas. Se enchia em março e não se enche mais. Nesse caso, o tempo do fogo, necessariamente, precisa ser revisto”, explica Ivanildo Martins, da Ecotrópica. 

    A imperícia na utilização dessa técnica pode ser uma das causas do incêndio que destruiu 27% do Pantanal em 2020.

    Os fazendeiros alegam que é necessário maior diálogo entre os produtores de gado e as autoridades para definir uma legislação mais clara. “A partir desse incêndio sem controle, precisamos sentar com os órgãos competentes e fazer um meio termo para evitar novas tragédias”, diz João Lozano. 

    Experimentos

    A realização de experimentos também é apontada como uma saída para se chegar a um acordo entre produção e meio ambiente.

    Um projeto piloto com 15 fazendas já está em andamento para testar novas tecnologias sustentáveis e conciliar tradição ao meio ambiente.

    “Para entender exatamente o que causa impacto positivo no Pantanal e o que causa impacto negativo. A partir daí, gente vai poder propor novas políticas públicas baseadas em dados científicos”, explica o diretor do Senar/MT, instituição de ensino rural voltada para educação e assistência técnica. 

    (*Da DOC. Films, especial para a CNN Brasil)

     

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