Procurador do STJD diz que não há chance de anular jogos por manipulação
"O envolvimento é de jogadores, diferente por exemplo daquele caso de 2005 em que envolvia arbitragem", explicou Ronaldo Botelho Piacente
A procuradoria do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) descarta a possibilidade de anular jogos em que haja suspeitas de manipulação de resultados. Confrontos da Série A do Campeonato Brasileiro de 2022 e de estaduais deste ano são alvos da nova fase da Operação Penalidade Máxima II, que teve início nesta terça-feira (18), ação coordenada pelo Ministério Público de Goiás.
De acordo com o órgão, nos jogos da Série A, as ofertas para jogadores participarem do esquema que envolve apostas giraram em torno de R$ 50 mil por atleta. Já nos Campeonatos Estaduais, os valores foram cerca de R$ 70 mil a R$ 100 mil por jogador.
“A princípio não há hipótese [de anulação]. Não se tem o que fazer com relação a isso, a Série A, por exemplo, já terminou. O envolvimento é de jogadores, diferente, por exemplo, daquele caso de 2005 em que envolvia arbitragem [caso conhecido como Máfia do Apito e que gerou anulação de 11 partidas do Brasileiro daquele ano]”, disse a Itatiaia o procurador-geral do STJD, Ronaldo Botelho Piacente.
Suspensão pode chegar a 720 dias
Ele aguarda o envio por parte do Ministério Público de Goiás da denúncia que apura a suspeita e, com base nesses documentos, a Justiça vai determinar possíveis denunciados no aspecto desportivo. Jogadores condenados podem ser suspensos por até 720 dias.
Piacente disse que o Ministério Público já colabora com informações enviadas à Justiça desportiva. Entre os pontos que já são de conhecimento da procuradoria, no momento não há dirigentes de clubes investigados, somente jogadores.
Com base no que temos, a investigação apura o envolvimento de jogadores, não de clubes. Dependemos das informações para poder analisar se haverá indiciamentos na esfera desportiva
Ronaldo Botelho Piacente, procurador-geral do STJD
Os jogos da Série A do Campeonato Brasileiros de 2022 investigados pelo Ministério Público são:
- 05/11/2022 – 36ª rodada – Santos 1 x 1 Avaí: tentativa de cooptação de cartão amarelo a jogador do Santos
- 05/11/2022 – 36ª rodada – Red Bull Bragantino 1 x 4 América-MG: aliciamento de jogador para ser punido com cartão amarelo
- 05/11/2022 – 36ª rodada – Goiás 1 x 0 Juventude: aliciamento de dois jogadores para punições com cartão amarelo
- 06/11/2022 – 36ª rodada – Cuiabá 1 x 1 Palmeiras: aliciamento de jogador do Cuiabá para ser punido com cartão amarelo
- 10/11/2022 – 37ª rodada – Botafogo 3 x 0 Santos: atleta cooptado para punição com cartão vermelho
- 10/09/2022 – 26ª rodada – Palmeiras 2 x 1 Juventude: aliciamento de jogador para punição com cartão amarelo
Lista de jogos investigados nos Estaduais de 2023:
- 08/02/2023 – Campeonato Paulista – Guarani x Portuguesa: tentativa de aliciamento de atleta para ser punido com cartão amarelo
- 11/02/2023 – Campeonato Gaúcho – Esportivo Bento Gonçalves x Novo Hamburgo: tentativa de aliciamento de atleta do Novo Hamburgo para cometer pênalti
- 11/02/2023 – Campeonato Matogrossense – Luverdense x Operário: tentativa de manipulação no número de escanteios da partida
- 12/02/2023 – Campeonato Goiano – Goiás x Goiânia: jogadores aliciados para que o Goiânia tivesse derrota parcial por determinado número de gols
- 12/02/2023 – Campeonato Gaúcho – Caxias x São Luiz: tentativa de aliciamento de atleta do São Luiz para cometer pênalti
O que está apurado
Na primeira fase da operação, o MP conseguiu apurar que um grupo criminoso atuou junto a jogadores profissionais ofertando valores de R$ 50 mil a R$ 100 mil para que eles participassem de determinados eventos. As apostas envolviam número de escanteios no jogo, cartões, pênaltis e até placar de derrota de determinado time no intervalo do jogo.
“Há indícios de que as condutas previamente solicitadas aos jogadores visam possibilitar que os investigados consigam grandes lucros em apostas realizadas em sites de casas esportivas, utilizando, ainda, contas cadastradas em nome de terceiros para aumentar os lucros”, diz o MP em comunicado.
A operação chefiada pelo MPGO teve início em fevereiro. O órgão investiga manipulação de resultado em três jogos da Série B da 2022. Na primeira fase da operação, nove mandados foram cumpridos em Goiânia, Minas Gerais, Mato Grosso, São Paulo e Rio de Janeiro.
As partidas investigadas inicialmente foram: Criciúma 2 x 0 Tombense, Vila Nova 0 x 0 Sport e Sampaio Corrêa 2 x 1 Londrina.
Os apostadores teriam oferecido cerca de R$ 150 mil para que jogadores cometessem pênalti no primeiro tempo da partida. Só no jogo entre Vila Nova e Sport que a penalidade máxima não aconteceu.
A ação teve início após o Vila Nova-GO acionar as autoridades ao saber que o jogador Romário estaria envolvido no esquema de manipulação. O MP investiga crimes de associação criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção no esporte.
CBF se manifesta
Por meio de nota, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) defendeu as investigações do Ministério Público. A entidade máxima do futebol nacional é responsável pela organização da Série A.
“A CBF apoia toda e qualquer ação legal que traga transparência e lisura aos campeonatos que organiza e a todo o esporte brasileiro”, pontuou o órgão nesta terça-feira (18).
Na nota, a entidade ainda citou que investe “no rastreamento e monitoramento de partidas” por meio de uma empresa que atua também para a FIFA e Conmebol.
“Isso não acontece somente nas competições que a CBF realiza. A entidade também custeia o mesmo serviço para todas as federações do Brasil. Interferências externas em resultados ou em situações de jogo são uma epidemia global que, para ser solucionada, precisa punir de forma exemplar e urgente, os responsáveis por essa prática nefasta”, completou.