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    População brasileira cresceu 50 vezes desde 1822, diz especialista

    Demógrafo José Eustáquio Diniz Alves afirma que economia brasileira cresceu mais de 700 vezes, mas que a desigualdade ainda é um desafio nos dias atuais

    Monumento à Independência do Brasil no Parque da Independência, no Ipiranga, em São Paulo.
    Monumento à Independência do Brasil no Parque da Independência, no Ipiranga, em São Paulo. Rovena Rosa/Agência Brasil

    Léo Lopesda CNN

    em São Paulo

    O Brasil comemora nesta quarta-feira (7) o Bicentenário da Independência. Desde 1822, quando o país se tornou independente de Portugal, a população brasileira cresceu 46 vezes, segundo o demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, autor do livro “Demografia e economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século XXI”.

    “O Brasil tinha uma população menor do que o México, a Irlanda. É difícil ter números exatos, mas estava em torno de 4,5 e 4,7 milhões”, explica. Hoje em dia, a cidade do Rio de Janeiro sozinha tem cerca de 7 milhões de habitantes.

    Diniz Alves destaca que a população brasileira foi majoritariamente jovem na maior parte de sua história. “Só tinha 5% da população com mais de 60 anos, mas começou a crescer nos anos 1970. Agora é 15% e vai chegar a 40% até o final do século”, disse.

    Em relação à educação, o demógrafo destaca que o Brasil só foi ter universidades a partir de 1920. “Tem países na América Latina que tem universidades do século 16. No Brasil, você não tinha trabalho livre por causa da escravatura, você não tinha acesso à educação, acesso à saúde”, completou.

    A expectativa de vida na época, por exemplo, não ultrapassava a casa dos 30 anos de idade.

    “Essa média era puxada para baixo pela escravatura, mas não afetava só os escravizados. Os filhos de Dom Pedro, por exemplo, que eram as pessoas mais ricas do país, tiveram uma média de 25 anos”, contou.

    “Em 1822, o Brasil era um país pobre, rural, agrário, ainda escravocrata e desigual”, relata, em entrevista à CNN.

    Avanços e Desafios no Bicentenário da Independência, segundo o demógrafo José Eustáquio Diniz Alves. / CNN

    O professor aposentado da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) conta, por exemplo, que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 704 vezes nestes 200 anos.

    “Na época da Independência, o Brasil representava 0,4% do PIB mundial. Em 1980, segundo dados do FMI [Fundo Monetário Internacional], passamos para 4% da economia internacional. Multiplicou por 10 o tamanho do Brasil. A partir de 1981, o país começou a crescer menos, a participação diminuiu e chegamos a 2,5%”, disse.

    Nesse processo, a economia brasileira também se diversificou. “O agronegócio ainda é importante na balança comercial brasileira, mas já muito diferente do Brasil agrícola da Independência, em que o açúcar e o café eram os principais setores”, afirmou. “Viramos um país urbano, com maior peso da indústria, dos serviços”, acrescentou.

    A renda per capita também deu um salto. Ele conta que ao longo do século 19, no pós-Independência, o crescimento da renda per capita brasileira ficou abaixo da média mundial, mas o cenário se inverteu no século 20 até meados de 1980.

    Desafios para o futuro

    Ao falar de um país que só colocou um fim na escravidão mais de 60 anos após sua Independência, o especialista destaca a desigualdade como um dos maiores desafios para o resto do século no Brasil.

    Ele relembra a lentidão na conquista de direitos e participação política no país.

    “No Brasil Império e mesmo na República Velha, apenas 5% da população tinha participação no processo eleitoral. As mulheres só conseguiram direito ao voto em 1932 e analfabetos não podiam votar. Também tinha uma população muito jovem: 50% eram excluídos por ter menos de 18 anos”, conta.

    “A grande transformação política brasileira só veio com a Constituição de 1988. Hoje você tem até 70% da população cadastrada para votar”, acrescenta.

    Estudioso do tema há mais de 30 anos, o livro de Diniz Alves está disponível gratuitamente no site da Escola de Negócios e Seguro (ENS).