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    “Policial me deu um tapa e me chamou de neguinho”, relata jornalista da CNN

    Ação ocorreu em Pinheiros, zona oeste de São Paulo, durante bloquinho de carnaval

    Foliões curtem o Carnaval de rua de São Paulo no bloco Acadêmicos do Baixo Augusta, um dos maiores da cidade.
    Foliões curtem o Carnaval de rua de São Paulo no bloco Acadêmicos do Baixo Augusta, um dos maiores da cidade. TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO CONTEÚDO

    Guilherme Limada CNN

    São Paulo

    “Foda-se, neguinho! Sai daqui!” e um tapa. Essas são as lembranças que guardo do carnaval de rua de São Paulo deste ano. Estava em Pinheiros, no último domingo (19), com alguns amigos. Fiquei em frente a um carro estacionado na rua Francisco Leitão para esperar parte do grupo que tinha ido ao banheiro da Dogma Cervejaria. Foi quando o policial militar identificado na farda como soldado Waldemar Costa me abordou dizendo “você não pode ficar aqui.”

    Questionei e ele gritou “vai se foder! Vai agora pra calçada!”, deu um tapa no braço e andou em minha direção de forma agressiva. Fui para a calçada, perguntei o porquê de ser tratado daquela maneira e me identifiquei como jornalista. Neste momento, ele falou “foda-se, neguinho!”, virou as costas para mim e se dispersou em meio aos outros policiais.

    Alguns deles me cercaram. Perguntaram o que estava acontecendo. Disse para eles o que aconteceu, de novo me apresentei como jornalista e perguntei se é assim que um policial deve tratar um cidadão.

    Nesta hora, as pessoas que eu estava esperando voltaram do banheiro e viram a confusão. Contei para elas que imediatamente questionaram o comportamento dos policiais aos próprios PMs. O policial militar identificado como cabo Rafael disse que ninguém queria confusão, que eles não queriam estar ali naquele domingo e pediu para “deixar quieto.”

    Vi novamente o soldado Waldemar Costa e questionei de novo o porquê dele ter me tratado daquela maneira. Mais uma vez, virou as costas e se afastou. Um terceiro policial, identificado como soldado Caio, gritou com as três garotas que me defendiam, me chamou de folgado, me empurrou e disse a seguinte frase: “Já que ele [Waldemar Costa] te xingou, você vai tomar no cu! Vou te prender por desacato e vai todo mundo para a delegacia”.

    Reagi dizendo que ele que poderia me levar à delegacia para esclarecermos a situação. Nesta hora, o soldado Caio recuou e, assim como o soldado Waldemar Costa fez após me agredir física e verbalmente, se dispersou entre os outros PMs e disse para eu não questionar mais nada.

    Nosso grupo e eu estávamos assustados com aquela situação e saímos de lá o mais rápido possível. Registrei um boletim de ocorrência digital minutos depois e o retorno que recebi após dois dias (21) foi o seguinte:

    “A solicitação foi indeferida e não foi convertida em boletim de ocorrência eletrônico [BOE], com fundamento no Decreto nº 31.318, de 23 de março de 1990. Orienta-se o [a] declarante a comunicar os fatos diretamente à Corregedoria da Polícia Militar (Rua Alfredo Maia, 58 – Luz, São Paulo – SP, telefone: (11) 3322-0190), para a adoção das providências cabíveis. Nada mais”, disse a resposta.

    “Na data seguinte (22), fiz a denúncia pelo canal digital da Corregedoria da Polícia Militar. Enquanto aguardo um posicionamento, me questiono se isso vai dar em algo e se essa é a forma como agentes públicos de segurança são treinados”, concluiu o jornalista.