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    Alexandre Baldy, secretário de Transportes de Doria, é preso

    A polícia encontrou R$ 245 mil em endereços ligados ao secretário

    Jéssica Otoboni,

    da CNN, em São Paulo

    Ex-ministro e atual secretário estadual de Transportes de São Paulo, Alexandre Baldy (PP) foi preso nesta quinta-feira (6). Ele é alvo de uma operação da Polícia Federal realizada nesta manhã que mira desvios na Saúde em três estados e no Distrito Federal.

    A investigação se baseia em uma denúncia não relacionada ao trabalho de Baldy na secretaria. A prisão dele é temporária, ou seja, vale por cinco dias e pode ser prorrogada por mais cinco. Nesta semana, Baldy foi afastado do cargo por dois dias (terça e quarta-feira) para “tratar de assuntos de interesse particular”.

    Baldy é acusado de fazer parte de um esquema que desviava recursos na Saúde envolvendo órgãos federais, entre eles a organização social Fiocruz. De acordo com informações da PF e do Ministério Público Federal (MPF), os agentes investigam o “pagamento de vantagens indevidas a organização criminosa que negociava e intermediava contratos em diversas áreas”. 

    O ex-ministro utilizava sua influência política para nomear pessoas em órgãos públicos. Uma vez lá, elas eram usadas por ele como intermediários para a contratação de empresas que participavam do esquema, como a Pró-Saúde. Baldy é suspeito de ter recebido percentuais desses contratos, sob a forma de propina.

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    A polícia encontrou R$ 245 mil em endereços ligados ao secretário.

    Segundo informações do analista Igor Gadelha, a PF também esteve no gabinete do Baldy na Secretaria de Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo, no centro da capital paulista. 

    Em nota, a assessoria de comunicação de Baldy afirmou que ele “tem sua vida pautada pelo trabalho, correção e retidão”. “Foi desnecessário e exagerado determinar uma prisão por supostos fatos de 2013, ocorridos em Goiás, dos quais Alexandre sequer participou”, diz o comunicado.

    “Alexandre sempre esteve à disposição para esclarecer qualquer questão, jamais havendo sido questionado ou interrogado, com todos os seus bens declarados, inclusive os que são mencionados nesta situação. A medida é descabida e as providências para a sua revogação serão tomadas.”

    Policiais apreenderam R$ 50 mil na residência que Baldy mantém em Brasília
    Policiais apreenderam R$ 50 mil em um cofre na residência que Baldy mantém em Brasília
    Foto: Divulgação – 06.ago.2020 / Polícia Federal

    Na operação de hoje, os agentes cumprem 6 mandados de prisão temporária e 11 de busca e apreensão em 3 estados e no Distrito Federal. Os mandados são cumpridos em Petrópolis (RJ), São Paulo (SP), São José do Rio Preto (SP), Goiânia (GO) e Brasília (DF). Além disso, após solicitação do MPF, determinou-se o bloqueio de bens e valores de mais de R$ 12 milhões.

    Além de Baldy, outras duas pessoas já foram presas. Uma delas é Guilherme Franco Netto, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), preso em Petrópolis, região serrana do RJ. De 2007 a 2013, ele ocupou o cargo de diretor do Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde. 

    A outra é Rafael Lousa, ex-presidente da Junta Comercial do Estado de Goiás (Juceg), preso em Goiás. Os outros três alvos ainda não foram localizados.

    Em nota, a Secretaria de Transportes Metropolitanos de SP disse que “a operação não tem relação com a atual gestão do Governo de São Paulo”. “A STM colaborou junto à PF enquanto estiveram no prédio. Após as buscas, nenhum documento ou equipamento foi levado pela Polícia Federal.”

    O governador de São Paulo, João Doria, também afirmou, em nota, que os fatos “não têm relação com a atual gestão no Governo de São Paulo” e “nenhuma implicação na sua atuação na Secretaria de Transportes Metropolitanos”. “Na condição de Governador de São Paulo, tenho convicção de que Baldy saberá esclarecer os acontecimentos e colaborar com a Justiça”, acrescentou. 

    Investigações

    Carro da PF em edifício no bairro de Jardins, na região nobre de São Paulo
    Carro da PF em edifício no bairro de Jardins, região nobre de São Paulo
    Foto: Reprodução – 06.ago.2020 / CNN

    A ação desta quinta é um desdobramento das investigações realizadas no âmbito das operações Fatura Exposta e SOS, que apuram desvios de recursos do RJ repassados para a organizac¸a~o social Pró-Saúde, que administrou diversos hospitais no estado e em outros locais do pai´s.  

    A investigação contra Baldy começou a partir de uma delação premiada de ex-diretores da Pró-Saúde. Com isso, descobriu-se o pagamento de vantagens indevidas para que determinadas pessoas pudessem interceder em favor do grupo, em relação aos pagamentos do contrato de gestão do Hospital de Urgência da Região Sudoeste (Hurso), em Goiânia, administrado pela organização entre 2010 e 2017. 

    Para possibilitar o pagamento, os envolvidos utilizaram um esquema de geração de “caixa 2” na sede da PróSaúde, com o superfaturamento de contratos, custeados em sua maioria por repasses feitos pelo estado do Rio de Janeiro. De acordo com o MPF, eles constituíam cerca de 50% do faturamento nacional da organização – valor que saltou de R$ 750 milhões em 2013 para R$ 1 bilhão em 2014 e R$ 1,5 bilhão em 2015.

    Os investigados podem responder pelos crimes de corrupção, peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Baldy foi deputado federal por Goiás de 2015 a 2019 e ocupou o cargo de ministro das Cidades de 2017 a 2018, durante o governo de Michel Temer (MDB).

    A Fiocruz manifestou-se por meio de nota: “A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) foi surpreendida na manhã desta quinta-feira (6/08) com a informação veiculada pela imprensa sobre a prisão do pesquisador Guilherme Franco Neto. A Fiocruz é rigorosa em seus mecanismos de controle e transparência inerentes ao sistema de integridade pública. O pesquisador Guilherme Franco é concursado e é um especialista de referência das áreas de saúde e ambiente, com extensa lista de contribuições à Fiocruz e à saúde pública. Diante das circunstâncias e como procedimento regulamentar, a instituição instaurou procedimento apuratório interno. A Fiocruz defende o princípio constitucional de presunção de inocência, tem convicção de que os fatos serão devidamente esclarecidos e está dando todo apoio necessário ao seu servidor, em contato direto com a família.”

    (Com informações de Paula Martini, Diego Sarza, Maria Mazzei, Leandro Resende e Giovanna Bronze, da CNN, no Rio de Janeiro, Teo Cury e Vianey Bentes, da CNN, em Brasília, e Julyanne Jucá, da CNN, em São Paulo)