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    Perfil de agressor em ataques a escolas é aluno, de até 16 anos, que age sozinho, aponta instituto

    Mapeamento realizado pelo Sou da Paz também mostrou que 60% das armas de fogo utilizadas nos ataques eram dos pais ou de parente que vive na mesma casa em que o agressor

    Homenagens em frente à creche onde quatro crianças foram mortas em Blumenau (SC)
    Homenagens em frente à creche onde quatro crianças foram mortas em Blumenau (SC) Taba Benedicto/Estadão Conteúdo

    Naira ZiteiLéo Lopesda CNN

    em São Paulo

    O Brasil tem um histórico de 24 casos registrados de ataques violentos em escolas, nos quais o perfil médio do agressor é de um aluno da instituição, menino de 16 anos, que age sozinho. As informações constam em um mapeamento inédito realizado pelo instituto Sou da Paz, divulgado nesta segunda-feira (22).

    O levantamento ainda apontou que 11 dos 24 ataques foram realizados com armas de fogo, que, na maioria das vezes, o agressor pegou dos pais ou de algum parente que vive na mesma casa.

    O Sou da Paz utilizou reportagens de imprensa, boletins de ocorrência e processos judiciais para a análise.

    Metade dos ataques aconteceu no Sudeste

    O Sou da Paz aponta que o primeiro caso registrado no Brasil de violência nas escolas foi na Escola Sigma, em Salvador, em outubro de 2002, quando um jovem de 17 anos disparou contra e matou duas colegas.

    Desde então, outros 23 ataques ocorreram. No total, foram 137 vítimas – 45 fatais e 92 não fatais. Os ataques aconteceram em 13 estados brasileiros, sendo São Paulo o único a ter registrado mais do que dois episódios.

    Distribuição do histórico de ataques a escolas pelos estados do Brasil.
    Distribuição do histórico de ataques a escolas pelos estados do Brasil. / Sou da Paz

    Em termos de regionais, o Sudeste corresponde a metade dos casos já registrados. O ranking é seguido por Nordeste, Sul, Centro-Oeste e Norte.

    60% das armas de fogo dos agressores eram de parente

    “Revólveres e pistolas foram usados em onze casos, contra dez com armas brancas, e os ataques a tiros geraram três vezes mais vítimas fatais do que as ocorrências com armas cortantes ou perfurantes”, destacou o instituto.

    Em média, os casos com arma branca deixaram um morto e três feridos, já os com arma de fogo resultaram em três fatalidades e cinco não fatais em média.

    Principal tipo de arma utilizada nos ataques a escolas no Brasil, de acordo com levantamento do Sou da Paz.
    Principal tipo de arma utilizada nos ataques a escolas no Brasil, de acordo com levantamento do Sou da Paz. / Sou da Paz

    O Sou da Paz ainda apontou que, em 60% dos casos com armas de fogo (ou seja, 6 dos 11 ataques), as armas já estavam na casa do agressor e pertenciam ao pai, mãe ou a outro parente que residia no mesmo local.

    “Principal tipo de arma utilizada nos ataques a escolas no Brasil, de acordo com levantamento do Sou da Paz”, acrescentou o instituto.

    O perfil dos autores

    Absolutamente todos os ataques violentos já registrados em escolas brasileiras foram cometidos por homens ou meninos.

    “Com relação à idade dos agressores, a média é de 16 anos, sendo o mais novo um menino de 10 anos (São Caetano do Sul-SP) e os mais velhos de 25 anos”, afirmou o Sou da Paz.

    Distribuição por idade dos autores de ataques a escolas registrados na história do Brasil.
    Distribuição por idade dos autores de ataques a escolas registrados na história do Brasil. / Sou da Paz

    De acordo com o levantamento, em 88% dos casos o agressor agiu sozinho – ou seja, em apenas três casos houve ação conjunta, em dupla.

    Os agressores possuem majoritariamente alguma relação com a instituição em que o ataque acontece: 59% eram alunos e 33%, ex-alunos. Em 93% dos casos, o alvo tem algum significado ou vínculo com o agressor.

    O levantamento destaca um estudo realizado pela Unicamp em 2023 que aponta duas características principais semelhantes entre muitos agressores.

    “O sofrimento na escola, como ciúmes, ter sido castigado, ser alvo de bullying e o uso da subcultura extremista na internet (nos últimos anos), com articulação em comunidades, “chans”, fóruns online de incentivo à violência e misoginia, Deep Web (há poucos anos) e atualmente nas redes sociais como Instagram, TikTok, WhatsApp, Telegram, Twitter e Discord, com conversas imersas em discursos de ódio, homofobia, discriminação racial, social, religiosa e de gênero”, escreve o relatório do levantamento.

    Recomendações do estudo

    Na conclusão do mapeamento, o instituto apontou algumas recomendações para prevenir a ocorrência de novos ataques em escolas brasileiras:

    • Corresponsabilização de plataformas digitais;
    • Criação de equipes policiais treinadas em monitoramento de redes sociais com capacidade de realização de análise de risco, para triagem e atuação preventiva;
    • Fortalecimento da ronda escolar, fortalecimento de vínculos entre a direção da escola e batalhões locais;
    • Treinamento e estabelecimento de protocolo de ação para que policiais militares possam responder a estes eventos de modo a eliminar a ameaça mais rapidamente possível, preparar socorro e evacuação das vítimas;
    • Estabelecimento de programas específicos para a saúde mental dos estudantes e de mediação e justiça restaurativa nas escolas para lidar com conflitos e bullying, que devem ser conduzidos por profissionais dedicados a esta atividade, sem sobrecarregar professores com mais estas atribuições;
    • Treinamento de professores e funcionários para que consigam identificar comportamentos que precisam despertar ações da comunidade escolar;
    • Criar ações para instruir as pessoas a evitarem repassar boatos e mensagens sem procedência identificada, para evitar pânico;
    • Endurecimento do controle e fiscalização da compra de armas de fogo e munições para restringir o acesso a instrumentos mais letais por parte dos agressores;
    • Rever facilitações dadas para permissão de adolescentes (a partir de 14 anos) a clubes de tiro, ainda que acompanhados de um responsável.