Pandemia causa aumento na população de rua no Rio de Janeiro, aponta prefeitura
Dados indicam uma alta de 34% de idosos acolhidos na capital fluminense
Um levantamento realizado pela Secretaria Municipal de Assistência Social (SMAS), feito a pedido da CNN, aponta que a pandemia do novo coronavírus gerou um aumento no número de moradores em situação de rua na cidade do Rio de Janeiro.
Imagens feitas pela CNN nesse domingo (4) comprovam essa realidade. Ao percorrer a cidade do Rio, é possível observar centenas de pessoas que não possuem habitação.
Na região central da capital fluminense, por exemplo, um grupo de moradores de rua se instalou nas proximidades dos Arcos da Lapa, ponto turístico tradicional da cidade.
A Prefeitura do Rio registrou neste ano, frente a 2020, um aumento de 11% no número de adultos acolhidos em abrigos administrados pela SMAS. A situação dos idosos é ainda pior: alta de 34% quando comparado com o início da pandemia de Covid-19.
“O cenário pandêmico mundial vivenciado no período acirrou os níveis de miséria nas grandes metrópoles do país, considerando o alto grau de fechamento de postos de trabalho e a necessidade de isolamento, principalmente na população idosa e que apresentava comorbidades. Desta forma, no perfil de idoso, observamos um aumento de 34% na média de usuários acolhidos”, informou a prefeitura.
Como é o caso do Luiz Francisco da Silva, que tem 65 anos. Ele trabalhava em construção civil e acabou desempregado na pandemia.
“É muito difícil a rua. A gente tem que ficar aqui e se virar. Eu trabalhava em Macaé, mas acabei vindo pra cá”, contou.
O momento pandêmico também fez com que o número de atendimentos à população vulnerável da Secretaria Municipal de Assistência Social batesse recorde. Nos primeiros cinco meses deste ano, a prefeitura do Rio registrou 444.849 solicitações de auxílio à moradia, 22% a mais do que o visto em 2020.
Perfil da população de rua
Estimativa feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE), em 2020, identificou que existem 7.272 desabrigados na cidade do Rio de Janeiro. Desses, 75,2% estavam nas ruas e 24,8% (1.803) em unidades de acolhimento da prefeitura.
De acordo com a pesquisa, o perfil predominante é de homens, negros, com idade entre 18 e 49 anos. O levantamento mostra ainda que 40% dos moradores de rua não nasceram no município do Rio de Janeiro.
A sanitarista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Bianca Leandro, afirmou à CNN que pessoas de outras cidades costumam vir à capital fluminense em busca de novas oportunidades de emprego. E outras vêm para buscar tratamento médico, após contraírem o novo coronavírus.
“Em geral, é presenciada uma permanência de um público masculino na cidade do Rio nas ruas em busca de trabalho, mesmo que serviço temporário. E a capital também concentra uma grande capacidade instalada de serviços de saúde quando comparada com os outros municípios da região metropolitana e até do estado do Rio, por isso a migração”, explicou Bianca.
O Genesio dos Passos tem 65 anos e veio de Belford Roxo na busca por um emprego. Com tantos postos de trabalho fechados, hoje ele vive nas ruas do Centro do Rio e consegue dinheiro com a venda de material reciclado.
“Cato material reciclado. Era pedreiro. Fiquei desempregado. Muita gente perdeu o emprego”.
Mesma situação vivida pelo o Luiz Carlos Antonio, de 62 anos, que trabalhou a vida inteira como vendedor. Deixou a cidade de Barra do Piraí pra viver na capital Fluminense.
“A parte mais difícil de viver na rua é estar sem emprego”
O índice de pessoas desabrigadas no Rio também está relacionado à dependência química. Entre as 7.272 pessoas pesquisadas, 3.960 admitiram fazer uso de pelo menos um tipo de droga.
Drogas mais utilizadas:
54% da população de rua consome Álcool
36,4% – Maconha
29% – Cocaína
20% – Crack
Em termos de educação, 63,1% não concluíram o ensino fundamental.