Operação da PF mira Paulinho da Força em investigação contra crime eleitoral
Investigações apontam a existência de indícios do recebimento, por parte de parlamentar federal, de 'doações eleitorais não contabilizadas'
O deputado federal Paulinho da Força (Solidariedade-SP) é um dos alvos de uma operação da Polícia Federal e do Ministério Público Eleitoral (MPE) na manhã desta terça-feira (14). Os agentes cumprem sete mandados de busca e apreensão em São Paulo (5) e em Brasília (2) – um deles no gabinete do parlamentar -, na Operação Dark Side, a primeira fase da Lava Jato junto à Justiça Eleitoral de SP. Os investigados também são alvo de bloqueio de contas bancárias e imóveis.
Em nota, Paulinho da Força disse que “desconhece os fatos apurados” e não recebeu uma cópia da decisão que autorizou as buscas no gabinete dele. Segundo a equipe de reportagem da CNN, ele está em São Paulo.
Nos endereços alvos de busca em São Paulo e no apartamento funcional do parlamentar em Brasília foram apreendidos documentos, computadores e mídias. Paulinho da Força deve ser ouvido nos próximos dias.
Esquema de lavagem de dinheiro
De acordo com a Polícia Federal e o Ministério Público de SP, as investigações apontam para indícios do recebimento, por parte do deputado, de “doações eleitorais não contabilizadas, de maneira dissimulada”, durante as campanhas eleitorais dos anos de 2010 e 2012, no valor total de R$ 1,7 milhão.
Esses pagamentos teriam ocorrido por meio da simulação de prestação de serviços de advocacia e em espécie, com doleiros contratados pelo grupo para atuar no esquema.
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As autoridades descobriram que o escritório de advocacia em questão tinha como um dos seus sócios o genro do parlamentar. A quebra do sigilo bancário do local mostrou que houve uma transferência de valores perto da eleição de 2012, com origem na entidade sindical relacionada a Paulinho da Força e não declarada em sua campanha.
O delegado da PF Milton Fornazari disse, em entrevista coletiva, que foram encontrados indícios de pagamento de valores em espécie feito por doleiros do grupo JBS para Paulinho da Força. Este recebia o dinheiro por meio de um assessor em um comitê eleitoral no bairro da Aclimação, centro da capital paulista.
Também se constatou a existência de diversas operações financeiras, relativamente atuais, que se enquadram em crimes de lavagem de dinheiro. Essas movimentações, não relacionadas ao deputado, indicam a possibilidade da prática de outros atos de lavagem de dinheiro autônomos e conexos.
Além disso, de acordo com delegados envolvidos, estão sendo analisadas duas transferências feitas para a Força Sindical, cuja sede – na região central de São Paulo – foi alvo de buscas nesta terça, mas nada foi levado. O advogado e assessor jurídico da central disse ela não tem nada tem a ver com o esquema e faz mais de um ano que Paulinho da Força não é mais presidente da Força Sindical.
Os investigados responderão pelos crimes de falsidade ideológica eleitoral e lavagem de dinheiro, com penas de 3 a 10 anos de prisão.
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Por se tratar de um parlamentar no exercício do mandato de deputado federal, as investigações em primeira instância, em relação a ele, se restringem aos fatos apurados nos anos de 2010 e 2012. Em relação ao escritório de advocacia, a ação policial também busca provas da atualidade da prática de crimes conexos.
O inquérito, remetido à Justiça Eleitoral em 2019, teve a colaboração premiada de acionistas e executivos do grupo J&F, e a investigação se baseou em informações obtidas através da quebra de sigilos bancários, do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e testemunhos de pessoas relacionadas aos fatos.
Outro lado
Em nota, Paulinho da Força disse que “desconhece os fatos apurados e está tomando ciência da apuração pela imprensa na medida em que sequer lhe foi fornecida cópia da decisão que autorizou as buscas”.
“Caso os mandados digam de fato respeito a alegado caixa dois dos anos de 2010 e 2012, a partir da delação da JBS, conforme notícias veiculadas, o deputado lamenta o ocorrido na data de hoje tendo em vista que já são passados 10 anos desde os fatos apontados, sendo que suas contas das eleições de 2010 e 2012 foram aprovadas regularmente pela Justiça Eleitoral”, de acordo com o comunicado.
O parlamentar afirma ainda que “confia que a apuração chegará à conclusão de que os fatos trazidos não possuem nenhum fundamento”.
(Com informações de Basília Rodrigues, Tainá Farfan e Natália André, da CNN, em Brasília, e Carolina Abelin, da CNN, em São Paulo)