Oficina que modificou BMW em que jovens morreram em Balneário Camboriu é investigada
Defesa alega que serviço foi terceirizado; laudos da perícia, divulgados na última sexta-feira (12), apontaram que o vazamento de monóxido de carbono que matou os jovens foi causado por uma ruptura na solda de um equipamento
A Polícia Civil de Santa Catarina investiga o dono de uma oficina mecânica em Aparecida de Goiânia, na região metropolitana da capital, por suspeita de ter modificado a BMW em que quatro jovens morreram de asfixia por monóxido de carbono (CO) em Balneário Camboriú (SC), no dia 1º de janeiro.
Segundo os laudos periciais divulgados pelas forças de segurança catarinenses em coletiva de imprensa na última sexta-feira (12), o vazamento de CO foi causado em função de uma ruptura na solda de um equipamento conhecido como ‘downpipe’. O gás tóxico, que não tem cheiro nem cor, foi levado para dentro do veículo através do ar-condicionado.
O item foi instalado no lugar do catalisador, equipamento obrigatório para a redução de poluentes. O downpipe proporciona maior vazão do fluxo de gases e intensifica a rotação da turbina a fim de aumentar a potência do carro, especialmente entre veículos mais modernos.
Procurado pela CNN, o advogado do dono da oficina informou que a modificação feita na BMW não foi realizada por mecânicos do estabelecimento. Segundo ele, o serviço foi terceirizado.
“É importante explicar que a empresa é uma empresa de estética automotiva. Então ela trabalha com diversos tipos de serviços, desde uma lavagem especializada até micro pinturas”, afirmou o advogado David Soares.
“Agora, quando o serviço exige ou o cliente exige um serviço ainda mais especializado, como a troca de escapamento, aí são usados serviços terceirizados, os quais são realmente preparados para isso”, concluiu.
Ainda conforme o defensor, o dono da oficina foi intimado para uma oitiva a ser realizada na tarde desta segunda-feira, às 14h. Um pedido de cancelamento do depoimento também foi feito pelo advogado, que alega não ter tido acesso aos autos do inquérito e da perícia, mas a solicitação não foi atendida pelo delegado Vicente Soares.
Na coletiva de imprensa realizada na última sexta, o delegado afirmou que o dono da oficina e os mecânicos responsáveis pelo serviço podem ser indiciados por homicídio culposo, quando não há intenção de matar.
Na oitiva agendada para esta segunda, o proprietário está na condição de interrogado, não tendo sido indiciado por nenhum crime.
Entenda o caso
Gustavo Pereira Silveira Elias, de 24 anos, Karla Aparecida dos Santos, de 19, Tiago de Lima Ribeiro, de 21, e Nicolas Kovaleski, de 16, morreram em um carro importado na manhã do dia 1º de janeiro, em Balneário Camboriú, no litoral norte de Santa Catarina. Eles foram encontrados desacordados pela namorada de um dos rapazes, por volta das 7h30.
O SAMU e o Corpo de Bombeiros chegaram a prestar atendimento, mas as vítimas não resistiram. Segundo os socorristas, eles tiveram uma parada cardiorrespiratória. Não foram identificados sinais de violência em nenhum deles, e nenhuma substância ilícita foi encontrada no automóvel. Uma mulher, que também estava no carro, sobreviveu.
No dia 23 de dezembro, as vítimas saíram de Paracatu, no interior de Minas Gerais, rumo a Florianópolis, onde chegaram no dia 25. Segundo testemunhas, nenhum problema foi relatado durante todo o trajeto.
No dia 31, ao irem para Balneário Camboriú, um engasgo teria sido sentido no veículo, mas os ocupantes seguiram viagem. Já na madrugada do dia 1º, os jovens começaram a relatar mal-estar, e decidiram descansar no carro antes de iniciar o trajeto de volta.
Além da troca do escapamento, o veículo também sofreu modificações em uma oficina de Minas Gerais. Segundo a perícia, no entanto, tais serviços não têm relação com a morte dos jovens.