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    ‘O século 21 começa nesta pandemia’, diz Lilia Schwarcz

    Para a historiadora, a pandemia irá alterar o curso da história da humanidade e, mais do que isso, alterar aquilo que compreendemos sobre o século atual

    Paula Mariane, da CNN, em São Paulo

     
    O programa O Mundo Pós-Pandemia deste sábado (4) teve como tema “Lições da História”. A antropóloga e historiadora Lilia Schwarcz, entrevistada nesta edição, abordou o modo como a pandemia do novo coronavírus irá moldar a história brasileira, trazendo uma série de reflexões sobre o presente e o passado do país. 

    Para Lilia Schwarcz, a pandemia irá alterar o curso da história da humanidade e, mais do que isso, alterar aquilo que compreendemos sobre o século atual. 

    “A pandemia vai alterar os nossos livros de história. Inclusive, ela vai mudar a datação de quando começa o século 21. Na minha opinião, o século 21 começa nesta pandemia”, declara. 

    “Eu acredito que um pequeno microorganismo, que não é visível a olho nu, provou para todo mundo como a nossa tecnologia, a qual nós nos enfadamos muito, não deu conta de combater”, diz a antropóloga em relação à pandemia.

    História do Brasil

    Em relação ao passado, ela acredita que é necessário termos um olhar mais profundo para a história do nosso país, de modo que isso possa trazer aprendizados e, desta forma, evitando que erros se repitam no presente. Schwarcz afirma que “o brasileiro tem um déficit de história muito grave”. 

    “No meu livro, digo que o nosso presente está lotado de passado, mas nós não prestamos atenção. Nós fazemos questão de não ver”, reflete. 

    Para ela, conhecer a história “não é uma espécie de bula de remédio”. No entanto, este processo significa, “de alguma maneira, entrar em contato com as nossas contradições”. 

    O Mundo Pós-Pandemia, Lilia Schwarcz
    Lilia Schwarcz no programa O Mundo Pós-Pandemia
    Foto: CNN Brasil

    Desigualdade social 

    A pandemia tem sido vivida de modo diferente entre as pessoas. Nesta situação, a pior crise sanitária afeta muito mais as pessoas de baixa renda, que já sofriam com a desigualdade social e suas consequências. 

    “A pandemia vai escancarar a grande sociedade desigual que existe no Brasil. A pandemia pode ser democrática em quem ela afeta, mas não é democrática nos números de mortes e nos números de contaminação”, analisa. 

    “Nós sabemos que nas periferias faltam todos os equipamentos urbanos possíveis. A gente fala tanto para lavar as mãos, mas a gente sabe que na periferia falta água. Como poderemos praticar a higiene da forma como deveria?”, questiona. “Elas estão sendo as grandes vítimas dessa pandemia”. 

    Neste contexto, ela faz uma crítica aos representantes da sociedade. “Nós temos um governo que não sabe lidar com a morte. Não sabe falar com as famílias enlutadas, não sabe fazer um gesto coletivo”, aponta. 

    Invisibilidade

    No programa, Lilia Schwarcz contou sobre o projeto “Enciclopédia Negra”, no qual ela e outros estudiosos têm buscado trazer novas narrativas e personagens à história brasileira, sobretudo personagens negros.

    “Nós temos uma história colonial, que não divide protagonismos. Os grandes protagonistas são sempre homens europeus. Isso que estamos pesquisando agora é importante, porque temos histórias de vidas desde o século XVI”, conta. 

    “Estamos lidando com uma enormidade de profissionais que fizeram muito além de lutar pelo conceito de liberdade. Temos casos maravilhosos”. 

    A historiadora acredita que é necessário mudar a imaginação coletiva dos brasileiros a respeito do passado. “A história produz muitas invisibilidades e muita miopia cultural”. 

    “Achamos que podemos enxergar tudo. A gente até enxerga, é uma qualidade biológica. Já ver é uma seleção cultural. Então, o que a gente consegue ver na nossa história?”, pergunta.