O que é ser mulher negra no Brasil? Vamos falar sobre isso!
Dia 25 de julho é o dia internacional da mulher negra latino-america e caribenha. Data celebra a luta e resistência de mulheres negras contra o racismo, sexismo e desigualdade de gênero.
Hoje, 25 de julho, é o dia internacional da mulher negra latino-americana e caribenha. Uma data que celebra a luta e a resistência das mulheres negras. Mas talvez ainda tenha quem pergunte: mas por que um dia para celebrar mulheres negras? E te devolvo com uma pergunta também – um pouco mais geolocalizada: você sabe o que é ser mulher negra no Brasil?
Num país de maioria negra – 56% da população brasileira é preta e parda –, quase um terço (27,8%) desta mesma população é composta de mulheres negras. Milhões de mulheres que ainda seguem no topo da base da pirâmide. Isso porque, se ser mulher já não é tarefa fácil no nosso país, ser mulher negra exige muito mais.
Ainda são elas as responsáveis pelo trabalho do cuidado do outro, da casa do outro: 65% das trabalhadoras domésticas do país são negras. Como disse a filósofa Silvia Federici, “isso que chamam de amor, nós chamamos de trabalho não pago”. E, muitas vezes, é também não reconhecido e, por mais que tentem, “não, não somos da família”. A ocupação do trabalho do cuidado, de ser vista para servir e cuidar, é uma herança ancestral que mulheres negras carregam desde os tempos da escravidão, onde estavam sempre desempenhando a tarefa de cuidar do outro – sejam como cozinheiras, lavadeiras, bordadeiras, amas de leite… mas quem cuida de quem cuida?
Em quase 7 milhões de lares, quem segura a bronca são elas mesmas. Hoje, no país, 11,8 milhões de lares são chefiados por mulheres com filhos e sem um parceiro. Destes, 62% dos lares tem no comando uma mulher negra equilibrando os pratinhos e trabalhando na “sevirologia” de dar conta de tudo: da casa, dos filhos, das contas, dos perrengues da vida, de colocar comida na casa, de dar bronca nos meninos, de garantir o hoje e ter fé no amanhã. Carregando o pesadíssimo fardo de ainda serem vistas como guerreiras. Pausa importante: sim, é um fardo e não um elogio. Essa adjetivação só faz com que mulheres negras sejam sempre vista como alguém que dá conta de tudo, carrega o peso do mundo, se vira sozinha e não precisa de nada.
Nessa lógica do ‘ela dá conta’, é aí que também se desvia o amor e o afeto que merecem receber. Nos últimos dez anos, aumentou o número de mães solo no país e adivinhem a cor da pele delas? Negras! Não é por acaso que a solidão da mulher negra é algo tão falado e nada tem a ver com “mimimi”. Mulheres negras são herança de corpos que, além de escravizados, foram estereotipados na figura de quem “não foi feita pra casar” ou “é ótima para servir, mas não para amar” ou “a que não é ou demora a ser escolhida para dançar o baile dos namorados” ou “tem que dançar sozinha mesmo porque a vassoura da dança parou nela”.
E, nessa dança da vassoura, é preciso se virar nos trinta também para se inserirem no mercado de trabalho. E, quando inseridas, batalhar por uma igualdade salarial, já que nesta fila, seguem atrás dos homens negros, que já estão atrás das mulheres brancas que estão atrás dos homens brancos, que seguem no topo. Mulheres negras com diploma de ensino superior ainda ganham 55% menos que homens com o mesmo grau de escolaridade, segundo pesquisa do Instituto Locomotiva.
Mas falando em topo – porque, sim, elas querem e merecem – e em como a educação é a mola propulsora e a grande virada: um quarto dos universitários do país (26,3%) são mulheres negras e já lideram entre os grupos mais representativos nos bancos das universidades. Reflexo dos últimos dez anos de políticas afirmativas, como as cotas raciais, mas também um grito silencioso de mulheres negras que desejam e merecem um futuro melhor. Mulheres que não querem mais ser apenas as que cuidam do outro, “as que vendem o almoço para garantir o jantar”, que querem, através da universidade não mais voltar ao barracão, não querem mais ser as que estão na fila do desemprego e as que não chegam aos cargos de liderança. Hoje, só 0,4% dos altos cargos tem mulheres negras na liderança nas 500 maiores empresas do país, segundo pesquisa do Instituto Ethos. É, essa roda tem que mudar.
Ainda é muita luta, muita resistência e muito a conquistar. Mas agora você entende agora o que é ser mulher negra no Brasil?