O Grande Debate: São Paulo está preparada para flexibilizar a quarentena?
Augusto de Arruda Botelho e Caio Coppolla debatem o plano de reabertura da capital paulista, que ainda tem números elevados de novos infectados
No Grande Debate da noite desta quarta-feira (3), Caio Coppolla e Augusto de Arruda Botelho abordaram o plano de reabertura da cidade de São Paulo, que mesmo com números elevados de novos contágios diários e mortes pela Covid-19, ensaia retomar as atividades de diversos setores da economia.
“Para muitos, a pandemia meio que já passou. Matou muita gente, mas está aí, como um móvel velho no canto da sala”, disse Augusto, ao argumentar contra a reabertura econômica neste momento. “O governo municipal atualmente erra em suas ações contra a pandemia. O plano do governo do estado merece aplausos, pois apresenta estratégia completa, em fases e com cronologia, mas pressupõe a única coisa que não temos no momento: trajetória descendente da curva de contágio.”
Já para Caio, os números superlativos da pandemia em São Paulo mostram o fracasso na condução da crise pelo governador do estado, João Doria (PSDB), e diz que o discurso atual do governador contradiz aquilo que ele vinha defendendo desde o início da pandemia, ao colocar a disponibilidade de leitos de UTI como fator determinante para a reabertura econômica.
“Se ele está propondo a reabertura, é porque já passou da hora de fazermos isso. A quarentena horizontal é uma política pública burra, que nivela o estado no pior estágio possível. A variável que realmente interessa na pandemia é a capacidade da rede médica, que está a favor de São Paulo.”
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Augusto então trouxe dados do grupo de pesquisadores do Observatório Covid Brasil. “Mais de 50 pesquisadores de dentro e fora do Brasil afirmaram em carta aberta que é temerário o relaxamento do isolamento sem que a epidemia esteja diminuindo. Dizem ainda que, para um plano de reabertura ter sucesso, é preciso que o número de novos casos esteja em queda por mais de duas semanas e que este critério está ligado a taxa de contágio, que deve ser menor que 1 por 15 dias. Porém a taxa atual é de 1,13 na cidade de São Paulo.”
“Em situação de recursos financeiros escassos, o ponto que deveria ser levado mais em conta é a disponibilidade de leitos de UTI”, disse Caio, que entende que o isolamento horizontal não deveria ter sido feito no Brasil por conta das desigualdades do país e da impossibilidade de algumas famílias em viver apenas com o dinheiro do auxílio emergencial.
“O diretor da OMS diz que em países pobres, ficar em casa pode ser prejudicial também. Desde que o sistema de saúde comporte o atendimento de pessoas, é plausível fazer a reabertura econômica”, afirmou.
Caio elogiou o Plano São Paulo e sua estratégia regionalizada de reaberturas e protocolos de retomada por setores, mas criticou a postura de Bruno Covas de ignorar estes protocolos já redigidos.
“Na cidade de São Paulo, se determinou que os segmentos que desejam reabrir devem entrar em contato com a prefeitura para apresentar seu próprio plano de reabertura. Parece que Covas está forçando a se encontrar com grandes lideranças de setores produtivos em ano eleitoral.”
(Edição: Bernardo Barbosa)