O Grande Debate: ministro da Saúde é obrigado a se alinhar com o presidente?
Os debatedores discutiram se a paz poderia ser alcançada entre os dois e se o ministro da Saúde tem obrigação de estar alinhado com o presidente
O Grande Debate desta quarta-feira (15) colocou em pauta a possibilidade de demissão do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido). A pergunta feita para o advogado Thiago Anastácio e para a economista Renata Barreto foi: o ministro da Saúde é obrigado a se alinhar ao presidente?
Além do tema principal, os debatedores ainda discutiram se a paz entre Bolsonaro e Mandetta poderia ser alcançada e se o presidente brasileiro segue o modelo de Donald Trump na disputa travada com os estados.
Em seus argumentos iniciais, Thiago Anastácio falou sobre o quadro geral da crise entre ministro e presidente, e considerou que este é um “momento crucial e já esperado”, mas que “é uma pena que isso esteja ocorrendo em meio a uma grande guerra” contra o novo coronavírus.
“Evidentemente que temos várias questões envolvendo o Ministério da Saúde, mas o que podemos fazer é apenas agradecer ao ministro tudo o que fez, aplaudir e dar bons votos de trabalho excepcional, porque precisamos de um trabalho excepcional para o futuro ministro ou ministra”, afirmou.
O advogado ainda disse que, em meio a tantas mudanças nas pautas nesta crise – que vão da política à saúde e passam pela economia – é necessário “colocar o pé no chão, analisarmos os fatos e apontarmos soluções para que possamos entender esse momento que a gente vive”.
Renata Barreto disse acreditar que a demissão de Mandetta é “o desfecho inevitável” para a crise, mas que encerrar esse capítulo pode ser bom. “Esse é o tipo de discussão e de enrolação que é muito ruim para o país. Acho que isso já deveria ter sido definido lá atrás”, defendeu.
Para ela, Mandetta teve um tom conciliador inicial, mas depois mudou para um tom político. “Ele se capitalizou politicamente, através de várias ações, principalmente com a entrevista que deu no último domingo. Desde então, ficou bastante difícil a relação entre os dois”, avaliou. “Eu só espero que isso não demore muito, para que a gente possa seguir na direção do combate a essa pandemia”, completou.
Para além da eventual demissão de Mandetta, o mediador do quadro, Reinaldo Gottino, levantou a questão do alinhamento com o presidente do ponto de vista das mudança na equipe ministerial, com uma suposta saída de Mandetta.
Renata disse considerar que “aparentemente, o trabalho da pasta é muito bom”, mas que Mandetta parece ter poder e sua saída pode ter um efeito de debandada. Por isso, ela avalia que essa alteração estrutural “vai depender muito de como é que essas pessoas vão se comportar”.
“Eu gostaria que esse trabalho não fosse paralisado, até porque já tem uma linha de pensamento e de ações acontecendo”, afirmou a economista. “As pessoas que já estão trabalhando lá e são familiarizadas com isso, eu espero que fiquem, mas é algo que a gente não tem como saber”.
Ao responder ao questionamento, Thiago seguiu uma linha parecida e defendeu, principalmente, a permanência do secretário-executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo, na pasta. “Seria muito interessante que ele permanecesse. Se você trocar todo o comando agora, nós vamos ficar uma a duas semanas, ou até um mês, até que essas pessoas consigam compreender”.
Para ele, então, “é muito importante que os grandes nomes permaneçam” na pasta a fim de se evitar uma “mudança tão abrupta no meio de um tiroteio tão grave que estamos tendo”.
Considerações finais
Em suas considerações finais, Renata Barreto pediu que a crise com Mandetta sirva de aprendizado para o governo em relação à comunicação. “E que a gente possa seguir a partir daí, seja com quem for a pessoa escolhida, na direção correta, que é de combate à pandemia”, disse.
A economista ainda ressaltou os fatores mais críticos da crise e afirmou esperar que Bolsonaro encontre “uma pessoa a capacitada para fazer esse trabalho e deixe essa pessoa trabalhar”. “E quando tiver animosidade, que [ele converse] diretamente com essa pessoa e comunique de uma maneira muito melhor à população”, concluiu.
Thiago Anastácio finalizou o debate defendendo que Mandetta “está em processo de demissão porque fez um bom trabalho. Me parece que a incompetência é fator fundamental de sobrevivência no seio político”, criticou.
Para concluir, o advogado relacionou ministros de Bolsonaro a Adolf Hitler. “Se vocês acham que a situação está boa, o resultado sentiremos na pele”, afirmou ele, que encerrou dizendo que “a democracia exige vigilância sempre”.