O Grande Debate: o governo federal demorou para socorrer Manaus?
Os advogados Gisele Soares e Thiago Anastácio também discutiram os limites legais sobre a detenção por descumprimento do isolamento
Com participação dos advogados Gisele Soares e Thiago Anastácio, O Grande Debate desta quarta-feira (22) teve como um dos temas a ajuda em meio ao colapso nos sistemas de saúde e funerário de Manaus por conta da pandemia. “O governo federal demorou para socorrer Manaus?!”. Essa foi uma das perguntas, sobre este assunto, feitas aos debatedores:
Os dois ainda discutiram os limites legais sobre a detenção por descumprimento do isolamento e se é possível reabrir o comércio sem agravar mais a crise de saúde.
Eles falaram, também, a respeito da decisão do presidente, Jair Bolsonaro (sem partido), de buscar apoio entre MDB e DEM, mas manter distanciamento do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Para a advogada Gisele Soares, “o governo federal está estendendo a mão a todos os estados e os municípios”. Ela citou as declarações do prefeito de Manaus, Arthur Virgílio (PSDB), em entrevista à CNN, na terça-feira (21), para embasar argumentos em defesa da União. “Muitos aspectos na fala do prefeito me chamaram atenção, porque, olhando sobre a perspectiva do governo federal, tive muita dificuldade de entender exatamente quais eram os pleitos do prefeito e qual exatamente é o diagnóstico dos problemas que ele identificou”, afirmou ela.
Gisele ainda avaliou que os números apresentados por Virgílio estavam confusos e incluem mortes por pneumonia e insuficiência respiratória como COVID-19. “Ele dá a entender que não há, na certidão de óbito, uma certeza de qual seria a causa mortis, o que já me chamou atenção, porque é um documento formal que não admite esse tipo de dúvida”, acrescentou.
Com isso, a advogada disse que viu um prefeito com discurso “emocionado e inflamado”, mas sem dados técnicos que justifiquem o envio de mais verbas para a capital amazonense e essa ajuda da União. “Então, como o governo federal vai mandar dinheiro para um estado que já tem uma série de problemas, inclusive, anteriores à pandemia com relação a verbas e desvios?”, questionou.
O advogado Thiago Anastácio avaliou que a entrevista de Virgílio “beira ao desespero”. “Nós temos um problema cada vez mais latente no Brasil que é essa incapacidade de comunicação inteligente”, classificou.
Concordando parcialmente com Gisele, o advogado citou também os problemas de gestão pública. “Manaus tem gravíssimos problemas de desvio de verbas e absoluta irresponsabilidade fiscal, e é claro que nós precisamos, a longo prazo, pensar no país que consiga sanar todos esses grandes problemas”, disse. “Pouco importam ‘os dinheiros’ e de onde eles vêm. A questão é que esse dinheiro é do povo”, completou.
Além disso, para ele, as informações passadas pelo prefeito “mais confundem do que auxiliam”. “Uma coisa fazer uma crítica ao governo federal com base em dados, outra coisa é que esse tipo de mensagem ao povo não serve para nada”, considerou.
Considerações finais
Primeiro a fazer os argumentos finais, Thiago Anastácio concluiu dizendo que tem preocupação com o plano de reabertura gradual do comércio, que deve ser anunciado nas próximas horas em São Paulo. Ele pediu que as pessoas se atentem aos fatos e as autoridades tomem as providências necessárias.
Para o advogado, esses são os elementos necessários para que São Paulo não tenha cenas como as de Manaus. “É o que precisa ser feito agora e nos próximos dias para que nós não tenhamos essa cenas tristes espalhadas por todo o Brasil. Valas comuns abertas, que não são só em Manaus, também são em Nova Iorque e ao norte da Itália”, disse. “Nós estamos passando por um dos momentos mais cruciais e tristes da humanidade desde a Segunda Guerra Mundial”, acrescentou.
Gisele Soares encerrou a participação dizendo que gostaria de focar em outro aspecto da discussão desta quarta. “A gente acaba aqui fazendo muitos debates técnicos e eu acho importante pensarmos nas pessoas e na forma como estão sofrendo individualmente e coletivamente com essa pandemia”, afirmou. “Realmente, a comunicação é muito importante. A informação exaustiva, que às vezes deixa a gente um pouco deprimido e cansa, é muito importante”.
Ao citar os planos pós-pandemia, a advogada disse esperar que “São Paulo e também o governo federal estejam pensando em como lidar com essas pessoas que saem traumatizadas dessa crise”, concluiu.