O Grande Debate: Força Nacional deve ser usada em manifestações?
Thiago Anastácio e Gisele Soares também debateram a possibilidade de criação de uma renda mínima e divergiram sobre a questão
O Grande Debate da manhã desta sexta-feira (5) abordou a informação do analista Caio Junqueira, da CNN, que apurou que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) avalia convocar a Força Nacional de Segurança para controlar as manifestações contra o governo neste domingo (7).
De acordo com o analista, há três possíveis caminhos para que a Força Nacional seja convocada, e os militares já se preparam antes mesmo da convocação oficial.
Na quarta-feira (3), Bolsonaro fez uma publicação no Twitter na qual classificou como terroristas os manifestantes que, nas palavras dele, “promovem o caos, queimam a bandeira nacional e usam da violência como uma forma de ‘protestar'”. “Manifestante, contra ou a favor do governo, é outra coisa”, completou o presidente.
O mediador da edição matinal, Evandro Cini, questionou os advogados Thiago Anastácio e Gisele Soares sobre se eles concordam com a eventual medida.
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Thiago Anastácio avaliou que Bolsonaro “propositadamente usa o termo terrorista para gerar pânico”. “Ele se utiliza das palavras de [Donald] Trump, que queria, também, dar o carimbo de terrorista aos manifestantes americanos que cometeram atos de vandalismo e arruaça. Não é terrorismo. O que temos são delitos”, classificou.
Ele acrescentou que, ao fazer essa classificação, Bolsonaro tenta “justificar, dentro das palavras políticas, a ação da Força Nacional”. “Convenhamos, ele está querendo criminalizar os protestos contrários ao governo – e até a pergunta do Evandro deixa isso bem claro, que é chamar a Força Nacional para os protestos contra o governo. Vejam com há um tratamento distinto, e isso é muito ruim para o país”, defendeu.
Gisele Soares disse “discordar da formulação da pergunta e de Thiago”. “É papel do governo cuidar para que as manifestações sejam contidas e não haja violência. Nesse sentido, ele poderá convocá-las porque há essa preocupação”, defendeu.
“Não podemos confundir possível perseguição do governo contra seus opositores, com organizações criminosas que pretendem ir às ruas para disseminar o medo e o terror, depredar patrimônios, machucar pessoas e fazer valer a sua vontade pela violência. São coisas distintas. O governo não vai perseguir opositores. Ele precisa garantir que os opositores se manifestem de forma pacífica”, encerrou.
Renda mínima
Cini colocou outro tema em pauta para os debatedores e perguntou qual a visão deles sobre a possibilidade de criação de uma renda mínima permanente. A ideia será discutida na Câmara dos Deputados na próxima terça-feira (9), segundo informou o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), nessa quinta-feira (4).
Gisele considerou que trata-se de uma “pergunta de resposta muito difícil, porque a equipe econômica já vem enfrentando muitas dificuldades. Não é possível que destinemos todo o dinheiro do Brasil para o auxílio dessas pessoas, embora essa pudesse ser nossa vontade. É preciso que a equipe econômica faça essa avaliação, mas não acredito que seja possível a implementação de um auxílio dessa monta porque realmente os números do Brasil não mostram que seria sustentável. “, disse.
Ela ainda criticou o que classifica como “assistencialismo”. “Vamos parar de fazer programas tão somente assistencialistas, porque há muitas pessoas que são carentes de outras coisas que não o dinheiro, como educação e capacitação para que possam prover para si e evoluir. Elas não podem viver só da renda mínima e me preocupa muito tirarmos das pessoas essa vontade de evoluir”, pontuou.
Anastácio afirmou que a renda mínima permanente “é um sonho e está na teoria até dos liberais” e que considera “possível chegar a um bom termo”, mas levou em conta a crise econômica atual e pediu que a proposta seja considerada quando possível. “Pode ser uma boa ideia para o futuro, porque ainda temos rincões de grande miséria no Brasil, infelizmente”, analisou.
“Seria muito importante um auxílio governamental para essas pessoas. Que se perpetue essa ideia. Se não for agora, que ela fique perpetuada para o futuro do Brasil até que consigamos equalizar as nossas grandes diferenças sociais”, finalizou.
Considerações finais
Gisele direcionou suas considerações finais para falar do Dia Mundial do Meio Ambiente, que é lembrado nesta sexta (5), e aproveitou para fazer uma defesa da preservação e da conscientização.
“Nós vivemos em um país absolutamente abençoado. Temos uma diversidade de florestas e animais e [temos] essa responsabilidade de tomarmos esse cuidado com nosso meio ambiente natural”, disse ela, que ainda citou como a natureza se restaurou em alguns lugares devido ao isolamento social.
“Que essa pandemia nos traga a importante lição de conscientização ambiental. Que sejamos pessoas que preservam a natureza”, pediu.
Anastácio exaltou as qualidades técnicas de Gisele, que é especialista em direito ambiental, para fazer uma crítica. “Vejam a qualidade da minha debatedora, e aí o ministro do Meio Ambiente é o Ricardo Salles. É isso o que me deixa indignado no país. Vejam quantas pessoas boas existem em espectros de direita e esquerda, e o ministro é Salles. Isso me deixa profundamente chateado porque parece que o mal vai vencendo”, afirmou.
Ele ainda acrescentou que os debates de ideias mostram a “grande do mundo multifacetado” e finalizou com o que classificou como um pedido a Bolsonaro: “Eu espero que a Gisele se torne ministra do Meio Ambiente”.
Ouça a íntegra do debate:
(Edição: Sinara Peixoto)