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    O Grande Debate: Exoneração na PF é movimento correto no meio de uma pandemia?

    Saída de Maurício Valeixo instaurou uma nova crise do governo e criou atrito entre o ministro Sergio Moro e o presidente Jair Bolsonaro

    Com participação dos advogados Thiago Anastácio e Gisele Soares, O Grande Debate desta sexta-feira (24) abordou a exoneração do diretor-geral da Polícia Federal (PF), Maurício Valeixo, que pode levar a saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça e Segurança Pública, conforme apurado pela CNN. Com isso, os debatedores foram instigados a responderem: exoneração na PF é movimento correto no meio de uma pandemia?  

    Abrindo a discussão, Thiago disse ver a nova crise como “gravíssima” ainda mais por constar como “a pedido”, apesar das indicações de que Valeixo não pediu para deixar o cargo. “Certamente ele foi tirado do cargo pelo presidente e à revelia do ministro da Justiça”, avaliou. “Estamos hoje com dois superministros na corda bamba e é um mau sinal para o governo”, acrescentou.

    Gisele citou o Diário Oficial da União (DOU) e informações de que “Valeixo já manifestava exaustão com o cargo”, por isso pediu “cautela nesses exercícios de futurologia muito drásticos e dramáticos”. “Vamos esperar para ver qual será a manifestação do ministro da Justiça, que é um juiz muito experiente, uma pessoa muito ponderada, além de protagonista e condutor da maior operação de combate à corrupção do mundo”, afirmou. “Até porque precisamos entender quais foram as razões dessa substituição”, completou.

    O advogado disse que, de fato, é preciso aguardar, mas criticou os elogios feitos pela colega. “Não estou aqui para elogiar ou criticar o ministro Moro. Não estamos falando sobre a conduta dele na PF e nem mesmo da sua história, então ficar louvando ele não faz parte do debate”, defendeu. 

    Thiago retornou ao tema da discussão para relacioná-lo ao inquérito aberto para apurar participação de deputados nos atos antidemocráticos do último domingo (19): “A questão é que é grave se os motivos que a imprensa têm passado ao público são reais, pois nós temos um inquérito que ousa quebrar a institucionalidade e poderia ja ter identificado um dos filhos do presidente da República como um dos cabeças dessa organização criminosa”, pontuou. “É uma investigação, mas é um fato gravíssimo e não podemos instigar a hipocrisia, pois não é tão simples o que está acontecendo”.

    Gisele Soares citou que a saída de Valeixo poderia ser por uma preferência de Bolsonaro por “mais rigidez e celeridade” da PF nas operações. “Então é importante que se identifique as razões, porque existem notícias de que a vontade do presidente seria essa. É importante fazer a análise, mas sem trazer para a catástrofe”, disse. “A substituição de pessoas de confiança faz parte tanto do jogo político quanto de atos de gestão”, acrescentou.

    Thiago Anastácio contestou a “flexibilização de análise do argumento de Gisele” e questionou como Bolsonaro pode querer isso. “Ele sempre disse que nunca entendeu nada de Justiça nem de economia, tanto que mandava perguntar ao Moro ou ao Guedes”, argumentou. A advogada rebateu: “Mas ele não pode querer combater a corrupção?”. 

    Com isso, o advogado avaliou que a eventual saída de Moro irá afetar a imagem de Bolsonaro, mas que não acredita que ele deixa o cargo. “Grande parte do apoio a Bolsonaro nasce da figura do juiz Moro, então esse rompimento de corda não pode acontecer agora. Bolsonaro precisa segurar Moro por razões políticas e futuramente eleitorais”, avaliou. “Nós sabemos o jogo, então vamos debater o jogo”, cobrou.

    Gisele voltou a defender o governo e disse avaliar que há transparência por parte das autoridades. “O presidente vai às ruas e conversa com as pessoas. Acho difícil que algum brasileiro diga que não saiba o que pensa o presidente”, declarou. Thiago interrompeu a argumentação para questioná-la: “Então ir à rua é transparência de governo?”. A advogada disse que “é uma forma” de ser transparente.

    Eles foram questionados pelo mediador, Reinaldo Gottino, sobre o impacto dessas mudanças estarem acontecendo no meio da pandemia e como têm afetado, para além das medidas de saúde, também o mercado financeiro. 

    Thiago respondeu com outro questionamento: “Você acha que, nas últimas semanas, está havendo mais reuniões de esforços [contra o novo coronavírus] ou cada vez mais problemas políticos? É a coisa mais óbvia do mundo”, disse.

    Para Gisele, a crise de saúde e econômica não impede que as mudanças estruturais do governo ocorram. “Estamos enfrentando uma pandemia, mas outros aspectos do governo continuam funcionando. Essa substituição de cargos é comum no poder público. A alteração de lideranças é positiva porque traz novas visões”, defendeu. 

    Considerações finais

    O Grande Debate: os advogados Thiago Anastácio e Gisele Soares
    O Grande Debate: os advogados Thiago Anastácio e Gisele Soares
    Foto: CNN (24.abr.2020)

    Em suas considerações finais, Thiago disse que quer ver o posicionamento de Moro, mas que não concorda com a “passagem de pano em tudo o que o governo faz”. “Me desculpem, sou absolutamente contrário porque isso é terrível na ideia republicana”, afirmou. “É uma forma caolha e perigossísima de ver o Brasil. Eu pensei que haveria uma mudança, mas o governo está cada vez mais opaco”, acrescentou.

    Gisele usou o espaço para rebater o advogado. “Não se trata de uma visão caolha nem mitigado, mas acho que temos que olhar todos os aspectos do que acontece e fazer isso com atenção, porque as notícias são múltiplas”, avaliou. “Vamos aguardar o que irá dizer Moro e sem previsões trágicas. Acho que esse momento de pandemia deixa as pessoas muito abaladas e cansadas, então é preciso uma análise serena, mas a gente também precisa de uma dose de otimismo para que possamos enfrentar esses momentos tão difíceis e essa imprevisibilidade que nos traz tanta angústia. Espero que as mudanças sejam para melhor”, finalizou. 

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