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    O Grande Debate: Executivo governa sem o Legislativo?

    O Grande Debate desta quarta-feira (8) questiona os recentes movimentos de Bolsonaro em direção ao centrão e discute a necessidade de coalização para governar

    Da CNN, em São Paulo

    O Grande Debate da noite desta quarta-feira (8) debateu o relacionamento do presidente Jair Bolsonaro com o Congresso. A pergunta que Caio Coppola e Augusto de Arruda Botelho tiveram que responder sobre o assunto foi: Executivo governa sem o Legislativo?

    Na abertura de sua exposição, Caio disse que a articulação pedida por muitos no Congresso na verdade é a reedição da política de “toma lá, dá cá”, que marcou governos anteriores. “A falta de articulação é um eufemismo. Por que caciques da velha política querem se articular? Para ter acesso a verbas, contratos públicos. A tensão entre governo e Congresso nasceu porque a nova administração não loteou cargos e colocou ministros com critério técnico. Luiz Henrique Mandetta é resultado disso”, disse.

    Já Augusto relembrou que Jair Bolsonaro chegou ao poder com alta popularidade, e que a situação se reverteu. “No meio de uma crise sem precedentes, é preciso deixar de lado diferenças ideológicas e picuinhas políticas. Espero que dê certo a articulação que Bolsonaro começa a fazer nesta semana”, disse. 

    Caio disse que é normal que a situação atual explica a queda na aprovação dos atos de Bolsonaro. “Diante de uma pandemia e saindo de uma severa crise econômica, é natural que a popularidade do presidente esteja baixa”, afirmou.

    A mediadora, Monalisa Perrone, citou no debate o fato de que os últimos dois presidentes que não tiveram diálogo com o Congresso, Fernando Collor e Dilma Rousseff, sofreram impeachment. Augusto então citou seu medo do que chamou de “demonização da política”, e afirmou que é um processo perigoso que pode dar espaço ao autoritarismo.

    “Evidente que tivemos histórico grave de corrupção em razão da Lava Jato, e a revolta popular criou se um ambiente de ódio e ojeriza à classe política, tratando ela como um ser único. Democracia tem erros que devem ser corrigidos dentro da própria democracia, não em discurso feito em carro de som. Qual o discurso das pessoas que criticam a política? Demonizar política abre espaço para o autoritarismo”, afirmou.

    Caio então fez uma defesa dos indignados, e disse entender as críticas feitas à classe política. Ele também criticou os mecanismos de perpetuação no poder. “Há pessoas no Congresso por conta de mecanismos de perpetuação do poder. Há diversas formas de se prevalecer lá, seja com curral eleitoral ou compra de votos. O Congresso não pode atuar flagrantemente contra desejos do país”, disse.

    Quanto à perpetuação de poder, Augusto afirmou que Bolsonaro está há quase 30 anos na vida pública, com três de seus cinco filhos com cargos legislativos. “Tenho dificuldade de imaginar o que mais representa a elite política do país do que a família Bolsonaro. Essa para mim é a representação de velha política”, disse.

    Caio afirmou que o presidente apresentou mudanças de atitude, e que agora está agindo diferente. “Pessoas podem evoluir. Bolsonaro era corporativista e votava até mesmo junto com o PT. Mas agora ele está à frente de um governo que não tem um escândalo de corrupção, é importante colocar isso na balança”, disse.

    A mediadora voltou a adicionar elementos ao debate e citou que dois ex-ministros de outros governos reclamaram que o Congresso mandava demais.

    Augusto afirmou, então, que Jair Bolsonaro vem sofrendo falta de coalizão até mesmo dentro de seu governo, com ministros chave. “Acho perigoso um presidente estar tão isolado. Mesmo na disputa entre a ciência de Mandetta e a não ciência de Bolsonaro, Guedes e Moro deram demonstrações claras que na disputa ficaram do lado da ciência. Isso desgastou ministros que são essenciais. Quem atrapalha as tentativas de melhorar o Brasil é Bolsonaro com suas atitudes diárias”, disse.

    Já Caio ressaltou o processo de “maturidade” do Congresso. “É possível mudar, mas é um processo doloroso como toda mudança. É uma maior independência, e ela traz maturidade, então prefiro um Congresso que grita a um Congresso comprado”, afirmou.

    Questionados se o Congresso é o problema da política brasileira, Caio disse que a pergunta é simplista por não abarcar outros problemas do sistema político. “O problema é sistêmico, de isonomia e igualdade no sistema eleitoral. Enquanto não tivermos uma reforma política, este país não vai avançar”, afirmou.

    Já Augusto voltou a citar o isolamento do presidente como um grande entrave para o avanço de pauta importantes para o Brasil. “Articulação vai além do problema do Executivo com o Congresso. Falta articulação dentro da própria equipe presidencial, e tenho que colocar a responsabilidade no presidente. Cabe a ele liderar e articular aquilo que ele julga necessário, instruído por uma equipe. O isolamento dele não é bom para ninguém”, disse.

    Argumentos finais

    Em sua fala final, Augusto elogiou o movimento recente de articulação do presidente, mas disse temer que talvez seja tarde. “A movimentação do presidente em tentar se aproximar é saudável e necessário, mas atrasado. O presidente perdeu tempo, mas espero que ele consiga recuperar o tempo perdido e consigamos aprovar medidas emergenciais para auxiliar a economia e a saúde. O momento não é de disputa, é de salvar vidas e a economia.”

    Já Caio afirmou que o amadurecimento foi mostrado também por Mandetta ao aceitar flexibilizar as medidas de isolamentos, e criticou a relação entre Congresso e Planalto. “Vemos muito maniqueísmo, e as coisas não funcionam desta maneira. Não se pode interpretar sempre mal as decisões do Executivo e bem as decisões do Legislativo. É preciso ter parcimônia e analisar com calma e isonomia.”

     

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