O Grande Debate: eleições devem ser adiadas por causa da pandemia?
Augusto de Arruda Botelho e Caio Coppolla debateram também o plano de reabertura da São Paulo, que nesta semana autorizou a volta das lojas de rua e shoppings
No Grande Debate da noite desta terça-feira (9), Caio Coppolla e Augusto de Arruda Botelho debateram a posição da Procuradoria-Geral da República (PGR) que defendeu a manutenção das datas previstas para as eleições municipais deste ano. Segundo a PGR, a adoção de um protocolo de segurança e a queda do número de casos permitem que se mantenha o calendário da justiça eleitoral.
Para Augusto, o Brasil ainda tem tempo hábil para decidir se devemos ou não adiar as eleições, relembrando que o atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Luís Roberto Barroso, vem se encontrando com epidemiologistas e outros profissionais ligados à saúde para entender em que situação o Brasil estará em outubro, data do primeiro turno. Apesar da situação estar em aberto, o advogado entende que as eleições podem ser adiadas dentro do prazo da lei eleitoral – quatro semanas – especialmente para não afetar candidatos com menor poder aquisitivo.
“Entendo que o adiamento de algumas semanas das eleições trará maior tempo hábil para que verdadeiras campanhas possam ser feitas. O que me preocupa seria uma campanha pautada por informações digitais. Com a sabida influência de fake news, campanha baseadas em disparos de notícias por WhatsApp e memes é tudo que nossa democracia não precisa,” disse Augusto.
“Dadas as informações e a evolução da pandemia no mundo, as datas devem ser mantidas, assim como disse a Ministério Público Eleitoral [MPE] em documento,” afirmou Caio, que se preocupa especialmente com o tempo entre a eleição e a diplomação de candidatos em caso de adiamento das eleições. “O MPE solicitou que se mantenha prazo razoável entre a votação e a posse dos candidatos. A pressa é amiga da corrupção e reduzir o período de análise das campanhas é abrir espaço para aumentar as ilegalidades.”
“Minha preocupação não é com o momento do voto, mas sim o tempo de campanha,” disse Augusto, que se mostrou preocupado com candidatos cuja base eleitoral é conquistada na campanha corpo a corpo, em caminhadas e conversas pessoais. “Não falo aqui do grande candidato, mas naquele que vem da periferia, que precisa do contato com sua base eleitoral e que será muito prejudicado durante a pandemia.”
Reabertura em São Paulo
O segundo tema do debate foi a reabertura econômica na cidade de São Paulo, que irá permitir o retorno de comércios de rua nesta quarta-feira (9), e os shoppings no dia seguinte, mesmo com o estado atingindo novos picos diários de contágio e mortes por Covid-19.
“O governo do estado de São Paulo parece agora ter dado um passo muito largo com a possível reabertura de lojas,” disse Augusto, que questiona a reabertura econômica neste momento e diz que caso a doença não seja controlada, uma segunda onda pode ser ainda pior. “Meu receio é que o governador João Doria (PSDB), pressionado pela opinião pública e setores da economia, reabra os negócios gerando uma segunda onda da doença. Apesar de ter bom nível de rede hospitalar, uma segunda onda seria muito ruim para a economia.”
“A Prefeitura de São Paulo concorre com a OMS [Organização Mundial da Saúde] em termos de desinformação,” disse Caio, que relembrou de diversas tentativas da prefeitura em aumentar o isolamento com medidas que tiveram que ser revistas logo após serem implementadas. Ele também questionou o fato do prefeito Bruno Covas (PSDB) ter ignorado protocolos de reabertura do Plano São Paulo, elaborado pelo governo estadual.
Augusto então se voltou para a taxa de contágio, considerado o indicador mais importante para a reabertura econômica, e disse que todas as grandes cidades do mundo começaram a reabrir quando este número estava abaixo de 0, enquanto que na capital este índice está acima de 1 há sete semanas. “São Paulo está há 7 semanas com a taxa de contágio superior a 1. A cidade está indo contra tudo aquilo que foi feito em metrópoles de porte semelhante ao redor do planeta.”
(Edição: André Rigue)