O Grande Debate: é a hora de fazer lockdown em São Paulo?
Augusto de Arruda Botelho e Caio Coppolla debatem também a situação de Regina Duarte na pasta da Cultura
O Grande Debate da noite desta quarta-feira (6) abordou dois temas. Primeiro, Caio Coppolla e Augusto de Arruda Botelho discutiram a situação da pasta da Cultura, que nos últimos dias viu a secretária especial Regina Duarte desprestigiada, e Dante Mantovani sendo nomeado como presidente da Funarte e exonerado no mesmo dia. Os dois debateram se Bolsonaro está usando a atriz para melhorar a imagem do governo. O segundo tema do debate foi a possibilidade de lockdown em São Paulo, medida estudada pelo prefeito Bruno Covas para combater o coronavírus.
Sobre a possibilidade de ampliar o isolamento em São Paulo, Bruno Covas disse que tudo dependerá do crescimento do número de casos de Covid-19 na cidade. Para Caio, essa medida é “absurda”.
“Prefeito da capital age como sucessor de Doria, e cogita fechamento de vias e fronteiras, paralisação industrial. O lockdown é versão piorada do isolamento vertical. É fácil fechar tudo, difícil é dar equipamentos de proteção para quem precisa. Difícil é separar pacientes com suspeita de coronavírus com outros com diagnóstico confirmado. Difícil é dar números corretos de UTI incluindo os leitos da rede privada. Parece impossível para o prefeito apresentar o modelo epidemiológico usado pela cidade. Antes de falar sobre lockdown, o prefeito poderia apresentar sua metodologia de cálculo”, diz Caio.
“Devemos então abrir economia, flexibilizar isolamento e contar os mortos? Discutir flexibilizar o isolamento é como discutir se a terra é plana”, sugere Augusto, que não vê a menor condição em abrir mão do isolamento neste momento em que o Brasil bate recordes diárias de mortes pela Covid-19. Ele discorda da visão de Caio sobre Bruno Covas e diz que o prefeito, mesmo enfrentando um agressivo câncer, faz grande trabalho no comando de São Paulo. “Bruno Covas é um herói que coloca em risco sua vida de forma responsável enquanto alguns insistem em dizer que o coronavírus é uma gripezinha. Bruno falou na coletiva que está buscando opções para não diminuir a atividade econômica e deixou claro que a decisão do lockdown vem da Secretaria da Saúde”.
“Há provas que a terra não é plana, em relação à pandemia temos apenas evidências”, diz Caio. Ele rebate a visão de Augusto de que não devemos flexibilizar a quarentena citando outros fatores a serem analisados, como calor e a disponibilidade de leitos de UTI, e criticou a preparação de São Paulo para a pandemia. “Não é possível que São Paulo não consiga se preparar para a pandemia. No início havia desordem nos hospitais de São Paulo, mercado negro de máscaras, médicos mostrando a chegada de novos respiradores que não eram novos”.
Sobre a questão da preparação de São Paulo para o coronavírus, Augusto lembra que não é exclusividade da capital paulista a falta de leitos e equipamentos para lidar com a Covid-19. “Não conseguir construir leitos de UTI a tempo não é exclusividade brasileira. Nova York vive uma calamidade pública, a Itália tinha que escolher quem vivia e morria em seus hospitais por falta de capacidade de atender a todos os enfermos. O grande desafio é evitar que todos peguem ao mesmo tempo e um estudo da USP diz que as disputas políticas têm contribuído para o descumprimento de medidas de isolamento, especialmente com um presidente que desestimula a fazer o isolamento. Eles ainda afirmam que os ganhos obtidos com a reativação da economia não compensariam por conta do aumento dos casos de infecção”.
A situação de Regina Duarte
No outro tema do debate, em sua argumentação, Caio relembrou a longa e ilibada carreira de Regina Duarte, lembrando que a situação de sua posse foi a pior possível, e que mesmo assim ela assumiu a função. “Óbvio que a presença de Regina Duarte melhora qualquer imagem de qualquer organização. Ela tem tudo que alguém pode sonhar, mas quantas pessoas arriscam a própria reputação naquilo que acredita? As circunstâncias em sua posse estavam contra ela, e assumiu a pasta ciente que toda a elite cultural tem aversão ao presidente. A verdade é Regina Duarte é vítima de sua própria grandeza”.
Para Augusto, a crise é menos sobre Regina e mais sobre as sucessivas crises do governo que, em sua visão, servem para abafar crises maiores. “Governo Federal tem dinâmica e estratégia clara. Na incapacidade de resolver suas crises, criam uma nova crise para a sociedade esquecer da anterior. Tivemos a mudança do Ministério da Saúde, a apresentação de um pacote econômico sem a presença do ministro da Economia, uma quase ruptura com o STF e a ingerência na PF. A crise de Regina Duarte é só mais uma. Ao invés de lutar contra a pandemia, o Governo Federal cria novas crises institucionais e deixa de apresentar soluções para a pandemia”.
“Regina tem longo histórico de serviços patrióticos para a nação”, diz Caio, que relembra a importância da atriz em diversos momentos da vida pública brasileira, seja em seus trabalhos na televisão, ou por seus posicionamentos na vida pública. “Regina fez Malu Mulher, imagem fundamental para a cultura brasileira, importante para desinvisibilizar a mulher e ajudar no empoderamento feminino. É até curioso ver as feministas de rede social não se colocando a favor dela. A atriz também alertou dos perigos de um partido com viés totalitário, que ao chegar no poder instaurou uma cleptocracia”.
Augusto concorda com a leitura de Caio da reputação ilibadas de Regina, e diz que a atriz “merece aplausos” por ter aceitado entrar em um governo que trata a cultura de maneira ideológica. “Governo Federal tem visão ideológica da cultura, rejeitando projetos e formas institucionais de fomentar a cultura. O governo cortou quase metade dos fundos do audiovisual, veta uma série de iniciativas que, pelo controle ideológico do governo, não são ideais”.
“Regina Duarte fez aposta de que o governo fará mudanças bem-vindas no Brasil”, rebateu Caio, que elencou algumas ações feitas pela secretária especial em seu mandato. “Regina fez uma série de flexibilizações de prazos para dar fluxo de caixa a artistas que estão com problemas financeiros. Regina faz uma ponte da austeridade de Brasília com a criatividade do Leblon em medidas como o Empréstimo Reembolsado, que propõe empréstimo com 1 ano de carência, juros mínimos e incentiva uma visão global da arte em que o artista precisa pensar em sua obra como financeiramente sustentável, trazendo visão liberal para a cultura”.