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    O Grande Debate: como fica o governo Bolsonaro após a saída de Moro?

    Augusto de Arruda Botelho e Caio Coppolla debatem a saída de Moro do Ministério da Justiça e as acusações de que Bolsonaro tentou interferir na PF

    Da CNN, em São Paulo

    No Grande Debate da noite desta sexta-feira (24), Caio Coppolla e Augusto de Arruda Botelho discutiram a saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça, sob a alegação de que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tentou interferir politicamente em investigações da Polícia Federal

    Para Augusto, o dia é triste “pelo número de mortos e infectados pelo coronavírus, porque o índice de isolamento social diminui, e porque, no meio dessa crise de saúde pública, temos que lidar com uma crise política, a maior do atual governo”. O debatedor também citou o discurso de saída do ex-juiz. “O corajoso discurso de demissão de Sergio Moro pareceu o discurso de um homem que chegou no seu limite. Mas esse limite não pareceu alto demais? Onde estava esta indignação de Moro quando diversas denúncias de pessoas próximas ao presidente começaram a surgir? E quando surgiram as ligações de Bolsonaro com as milícias? E quando começaram a distribuir cargos para pessoas ligadas à Lava Jato?”, disse.

    Já Caio em sua fala inicial relembrou que o ato de nomear o diretor-geral da PF é prerrogativa do presidente, mas que ele abriu mão disso ao escolher Moro. “Ele [Bolsonaro] não manteve sua palavra, já que prometeu carta branca a Moro quando ele assumiu. Mais do que isso, rompeu seu compromisso com o eleitor, e a carta branca se tornou carta fora do baralho. A saída do ministro, um ícone mundial contra a corrupção, afeta o pilar da moralidade do governo”, disse.

    Augusto então comentou o discurso do presidente, e disse que, se fosse o seu advogado criminalista, o advertiria sobre deslizes cometidos. “Diria para ele que ele confessou crimes em seu pronunciamento. As manifestações e termos usados aproximam a conduta dele à prática de crimes. Ele confirma interferência no caso Marielle [Franco, vereadora carioca assassinada em 2018] ao dizer que mandou a polícia falar com Ronnie Lessa, depois diz que não investigaram os mandantes da facada, sendo que tiveram dois inquéritos sobre o assunto. Mostrar seu inconformismo porque o resultados das investigações não lhe agradaram é extremamente perigoso”, disse.

    Caio disse que “enxergava o governo federal sustentado nos pilares da moralidade e liberalismo”. “A saída de Moro afeta o pilar da moralidade, e agora temos também Guedes na berlinda”, diz Caio, referindo-se ao ministro da Economia. “Ao contrário do que está sendo tuitado por apoiadores, de que a extrema imprensa está fomentando intriga palaciana com Guedes, isso não condiz com a realidade. Os ataques a Guedes são de caráter populista e começaram antes da questão do Moro, portanto antecede os últimos fatos”, disse.

    A discussão das assinaturas

    A mediadora do debate, a apresentadora Carol Nogueira, lembrou da polêmica das assinaturas na demissão de Valeixo. Moro disse que não usou a assinatura digital no Diário Oficial da União, criando uma guerra de narrativas. 

    Para Augusto, essa é uma das questões mais graves, uma vez que o trecho do Diário Oficial que mostrava a exoneração foi publicado no Twitter de Bolsonaro antes da fala de Moro. “O presidente Bolsonaro, antes de saber da fala de Moro, publicou a foto do pedido de exoneração, grifando o termo “a pedido”, tentando dizer que foi Moro quem pediu a saída de Valeixo. De onde surgiu a iniciativa do afastamento de Valeixo? O escândalo está posto”, disse. Augusto também elogiou a celeridade da PGR em pedir a abertura do inquérito para analisar as denúncias de Moro, e que segundo ele, a investigação deve ser “rápida, isenta e transparente”.

    Caio concordou com Augusto sobre a velocidade dos atos, especialmente porque “estamos diante de versões tão contraditórias que isso gera uma necessidade de esclarecimento, e até coisas que podem parecer menores, como a expressão no Diário Oficial, vão nos ajudar a descobrir a questão moral, de quem está mentindo”, disse.

    Moro no STF?

    Carol intervém novamente no debate e relembrou da acusação de Bolsonaro de que Moro condicionou a troca na PF à sua indicação ao cargo de ministro no Supremo Tribunal Federal, o que o ex-juíz negou via Twitter.

    Para Augusto, o tema sempre esteve presente. Ele, porém, criticou como se deu a discussão. “Acho ruim essa troca via redes sociais, não é momento de as autoridades ficarem nesta troca de farpas, já há um inquérito instaurado. Ministro sabe que o momento de dizer a verdade é dentro da investigação”, afirmou.

    Caio disse achar legítima a forma de se expressar diante do estresse da situação. “Não vejo problema em usar redes sociais para prestar esclarecimento para a opinião pública, eles dependem da reputação para ter credibilidade”, disse.

    Qual o futuro do governo Bolsonaro?

    Questionados sobre como fica o governo Bolsonaro após a saída de Moro, Caio considera difícil de prever. “Os alicerces do governo foram rachados. Moro dava o lastro ético ao governo enquanto Guedes dá o pilar liberal. É um mistério o que vai ser do governo, ou do desgoverno”, disse.

    Augusto relembrou o que disse em outros debates, de que não era hora de impeachment, mas que mudou de opinião. “Nem o roteirista mais criativo poderia prever o que aconteceu hoje da forma que aconteceu. Antes disse ser contrário ao impeachment, hoje tenho bastante dificuldade em imaginar uma saída para o governo. Bolsonaro perdeu um de seus maiores alicerces e perdeu apoios importantes dentro e fora do Parlamento. Ele está isolado, como venho repetindo há dias”, disse.

    Argumentos finais

    Em sua fala final, Caio disse que queria “destacar a hombridade de Moro, que demonstrou integridade e desapego ao poder por questão de princípios”. “O presidente agiu contra suas palavras, o que deu legitimidade para a saída de Moro”, disse.

    Augusto citou o histórico do Bolsonaro, e disse que sua trajetória dava indícios de como seria sua presidência. “Presidente foi um deputado que em mais de 20 anos não apresentou um projeto relevante, elogiou torturadores, tem pronunciamentos que demonstram suas intenções autoritárias, e se viu direta e indiretamente em investigações sérias, graves, e que ainda não terminaram. O discurso de Moro é elogiável, mas não apaga o histórico do presidente. Não há nenhuma novidade no que ficamos sabendo hoje”, concluiu.

     

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