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    O Grande Debate: Caso Queiroz ameaça o governo Bolsonaro?

    Thiago Anastácio e Gisele Soares também falaram sobre exoneração de Abraham Weintraub, que entrou nos Estados Unidos após deixar o Ministério da Educação

    O Grande Debate da manhã desta terça-feira (23) abordou o impacto do caso envolvendo Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), para o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

    Preso na última quinta-feira (18), Queiroz é investigado em um inquérito que apura esquemas de corrupção na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), quando era funcionário no gabinete de Flávio, então deputado estadual.

    Ele foi encontrado em um imóvel do advogado Frederick Wassef, que defendia o senador e fez a defesa de Bolsonaro no caso Adélio Bispo. Em meio às suspeitas sobre os motivos de ter abrigado o investigado, Wassef deixou o caso de Flávio.

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    Na manhã desta terça, equipes do Batalhão de Choque da Polícia Militar, em apoio ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), fazem buscas em endereços ligados a parentes de Queiroz, em Belo Horizonte.

    Na edição matinal de O Grande Debate, o mediador, Rafael Colombo, questionou os advogados Thiago Anastácio e Gisele Soares sobre se o caso Queiroz é uma questão local sobre o Rio de Janeiro ou pode ameaçar o governo Bolsonaro.

    Gisele disse considerar que trata-se de “uma investigação que tem um objeto específico para fazer essa verificação na Alerj”, mas que “nada impede que, eventualmente, havendo novas constatações haja desdobramentos”.

    Anastácio divergiu e afirmou acreditar que “está bem claro que estamos com um problema muito sério se aproximando do Palácio do Planalto”.

    “Muito desse dinheiro já chegou ao Planalto, segundo constatações que foram verificadas lá trás, quando Queiroz repassou dinheiro para a conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e o próprio presidente disse que tinha sido um empréstimo que ele fizera a Queiroz. E nós sabemos de onde vem esse dinheiro de Queiroz”, defendeu.

    Gisele rebateu dizendo que “há 74 pessoas investigadas e valores muito mais altos do que os apurados em ligação direta de Bolsonaro com Queiroz” e citou o princípio da isonomia. “O que é importante é que todos sejam investigados com esse mesmo rigor”, disse ela.

    “Obviamente, também é preciso levar em consideração que Flávio Bolsonaro, sendo filho do presidente, certamente atrairá muito mais atenção do que outros investigados, mas é preciso que insistamos no princípio da isonomia, porque é preciso que sejam identificadas todas essas condutas e que esse dinheiro seja recuperado”, acrescentou.

    Viagem de Weintraub

    Os debatedores ainda abordaram a viagem do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub, que deixou o cargo na quinta-feira (18) e embarcou dois dias depois para os Estados Unidos, com passaporte diplomático.

    Segundo o MEC, ele se instalaria em Washington para ocupar uma diretoria no Banco Mundial, por indicação de Bolsonaro. 

    Para vários especialistas ouvidos pela CNN, Weintraub pode ter cometido ilegalidade ao entrar no país, que tem restrições a brasileiros por conta da Covid-19, se tiver usado o passaporte diplomático mesmo sabendo que seria exonerado do cargo. 

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    Nesta terça, Bolsonaro retificou a exoneração do ex-ministro e incluiu a informação de que a saída foi no dia 19 de junho, e não no dia 20, quando foi publicada a decisão em edição extra do Diário Oficial da União (DOU).

    Anastácio e Gisele responderam se a ida de Weintraub e um eventual favorecimento do governo brasileiro devem ser investigados. 

    Para a advogada, “as investigações de justificam se há fatos suspeitos”. “Nesse caso, precisamos ser muito criteriosos. Naquele momento que adentrou, ele não havia sido exonerado, portanto era um passaporte válido para isso”, defendeu ela.

    Gisele ainda classificou que são “os atos posteriores que trazem dúvida” e disse que o questionamento sobre os custos da viagem são relevantes. “Não pode ser paga com dinheiro público porque foi particular”, definiu. “A questão mais difícil de se responder é se houve favorecimento ou não, porque precisariam ser analisadas as motivações para a publicação da exoneração no sábado”, acrescentou.

    Anastácio pontuou que a viagem do ex-ministro “está com cheiro de fuga”. “Você pede demissão na quinta-feira enquanto está sendo acusado e investigado pela Suprema Corte do seu país, na sexta-feira está com passagem comprada e permanece no cargo, sai correndo do Brasil para sábado de manhã já estar em Miami? Essa história está estranha, e é preciso que se investigue isso”, defende.

    “Estou com medo de que estejamos vivendo uma segunda onda daqueles estertores do getulismo quando, para pegar Getúlio Vargas, queria se pegar o irmão dele – que, para mim, é Queiroz, pois acho que Weintraub é outra coisa”, completou.

    “Estamos com um problema sério sobre as circunstâncias políticas ao redor do presidente da República. Em regra, não teria nada de mais, mas a velocidade como feita está com característica de fuga”, concluiu.

    Considerações finais

    O Grande Debate: os advogados Thiago Anastácio e Gisele Soares
    O Grande Debate: os advogados Thiago Anastácio e Gisele Soares
    Foto: CNN (23.jun.2020)

    Em suas considerações finais, Gisele ressaltou a isonomia. “É preciso que todas as pessoas sejam tratadas de maneira igual, isso porque, havendo desigualdade, pode trazer uma conotação de perseguição”, avaliou

    “Então é muito importante que resgatemos esse princípio que está na Constituição. Todos devem pagar pelas suas ilicitudes de forma absolutamente igual”, finalizou.

    Anastácio disse considerar que “estamos em um país que precisa ser pensado de forma muito séria com base em projetos e não na personificação”.

    “O Brasil precisa caminhar de forma clara através do bom direito e da análise crítica e não de torcida organizada para que possamos construir o futuro nos trilhos da ética”, refletiu.

    (Edição: Sinara Peixoto)