O Grande Debate: Bolsonaro acerta ao levar Nise Yamaguchi para gabinete?
Os debatedores ainda falaram sobre hidroxicloroquina no tratamento de pacientes com o novo coronavírus, David Uip e a prorrogação do isolamento
O Grande Debate desta quarta-feira (8) discute a decisão do presidente Jair Bolsonaro de trazer para o gabinete de crise uma médica defensora do uso da hidroxicloroquina no tratamento contra o novo coronavírus. A oncologista e imunologista Nise Yamaguchi indica que o medicamento seja usado já em casos mais leves da doença, conforme explicou à CNN na terça-feira (7).
A pergunta do debate de hoje para o advogado Thiago Anastácio e para a economista Renata Barreto é: Bolsonaro acerta ao trazer Nise Yamaguchi para gabinete de crise ou agrava a tensão com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta?
Além desse tema, os debatedores ainda falam sobre o uso da hidroxicloroquina no tratamento de pacientes com o novo coronavírus, a recuperação de David Uip, coordenador do Centro de Contingência do Coronavírus em SP e diagnosticado com a COVID-19, e a prorrogação do isolamento social.
Renata Barreto iniciou a discussão defendendo que a política deve ser deixada de lado. “Acho que a relação do [presidente] Jair Bolsonaro com o ministro [Luiz Henrique] Mandetta fica em segundo plano quando a gente fala de salvar vidas, então se é um esforço do presidente trazer pessoas que estão falando de evidências [da hidroxicloroquina]…”, disse.
A economista acrescentou que a medicação defendida por Nise já é utilizada. “Não sei porque o ministro Mandetta não quis trazer essas pessoas antes ou porque o Bolsonaro quis fazer isso sem falar com o Mandetta, mas os médicos já podem utilizar essa medicação de forma off label – ou seja, não está na bula, mas ele encontra essas evidências ali e faz uma prescrição baseada no histórico do paciente”.
Apesar da crítica, Renata volta a ressaltar que a prioridade é salvar vidas. “Então, acho que, apesar de todos os problemas de comunicação e as coisas erradas que faz o presidente Jair Bolsonaro, ele tem, sim, a preocupação – até porque isso vai cair na conta dele”, lembrou.
Por fim, a economista destacou a capacitação de Nise. “O mais importante, agora, é trazer pessoas capacitadas e fazer algo positivo para a população”, concluiu.
Para Thiago Anastácio, há vários aspectos possíveis para analisar a chegada de Nise ao gabinete. “Se estabelecermos que, de fato, há uma guerra [contra o vírus], trazer mais um soldado é sempre louvável. Temos um problema se o motivo é porque a doutora Nise é boa ou apenas porque ela concorda com aquilo que ele já tinha pré-concebido. E isso é importante para fazermos uma análise sobre as consequências”, destacou.
“A questão do ministro Mandetta é muito simples. Sabemos que os problemas não foram criados por ele, mas a partir de um problema de comunicação gravíssimo da Presidência da República, por exemplo o ministro da Educação [Abraham Weintraub], que parece não ter bom senso para o exercício da função”, exemplifica.
“O que temos, hoje, no Brasil é uma guerra, e a doutora Nise vem para somar, mas [fica a dúvida] sobre o porquê e qual a relação dela com o ministro da Saúde, que deveria ser fundamental”, finaliza.
Uso da hidroxicloroquina
Primeira a fazer os argumentos iniciais, Renata Barreto considera que este é um tema bastante polêmico, principalmente por ter pitadas de viés político, mas que, pelo que vê dos médicos que falam sobre o assunto, há efetividade no uso do medicamento – que, vale ressaltar, é utilizado apenas de forma clínica em combinação com a azitromicina, conforme explicou à CNN a médica Nise Yamaguchi.
“É interessante notar que o grande problema de tudo isso é a abordagem política e narrativa que se faz do uso ou da não utilização do remédio”, disse. “Sou leiga, não sou médica, sou economista, mas vendo as entrevistas dos médicos que falam bastante sobre este assunto, parece que é promissor este tratamento, principalmente nos casos antes de se tornarem graves”, acrescentou.
A economista afirma que não vê como “ser contra ou a favor se os médicos mesmos já dizem que estão utilizando e está sendo positivo”. “Acho que o que for possível utilizar para que essas pessoas não sofram e não cheguem a óbito, melhor”, defendeu. “Estamos em uma situação muito séria, de guerra, e é preciso usar todas as armas disponíveis”, concluiu Renata.
Thiago Anastácio concordou que “toda ajuda é válida nos momentos de grande crise”. “Nós sabemos que o vírus é um inimigo invisível, então nós temos que, de fato, ter à disposição um rol de medicamentos que, nas mãos dos médicos na linha de frente, deve, sim, ser usado – principalmente para pessoas em estado grave”, argumentou.
O advogado ainda citou as pesquisas da Fiocruz com o medicamento atazanavir, que, dentro dos ensaios laboratoriais, poderia ser mais eficaz do que a hidroxicloroquina. “Então, é mais um bom soldado nessa guerra. Obviamente, não podemos afirmar A, B ou C. São testes laboratoriais que estão sendo feitos, e depois, são pré-clínicos e clínicos. Nada sai do nada”, disse.
Por fim, ele defende que, apesar do respeito aos protocolos, os médicos devem ter um leque de possibilidades para o combate à COVID-19. “A urgência deve, sim, colocar à disposição dos médicos um leque de possibilidades, mas evidentemente não podemos ficar presos a manifestações de outrora, porque a doença é dinâmica”, encerrou.
Argumentos finais
Nos argumentos finais, Thiago defendeu mais diálogo e aceitação da ciência. “O que sempre faltou foi a aceitação por muitos setores da sociedades da ciência, do cientistas e das universidades”, disse. “Se nós passarmos por isso combatendo o vírus e dialogando com a sociedade, estaremos trilhando um caminho melhor”, completou.
“Não vejo Bolsonaro como um grande líder, mas espero que ele se torne um, porque isso me afeta diretamente. Espero que as pessoas também entendam que diálogo não é feito da direita para a direita nem da esquerda para a esquerda” refletiu. E concluiu: “O mundo é feito de diálogo, de debate e ideias – e mais do que isso: de ciência, porque senão voltamos para a Idade Média”.
Renata disse concluir que, depois da crise, muito terá que ser repensado, incluindo a politização das coisas e as relações institucionais. “A gente vai precisar rever a relação que o Brasil e o mundo têm com a China, que é uma ditadura comunista que suprimiu informações, e até mesmo com a ONU e a OMS, que são organizações supracionais”, defendeu.
Ela ainda acrescentou que é necessário separar as sugestões das pessoas. “Por um ódio, muitas vezes, irracional ao presidente as pessoas acabam negando a possibilidade de uma solução que veio não apenas dele, mas equipe dele”, considerou.
E concluiu: “Que sirva para a gente fazer essa reflexão em relação a como nos portamos em relação à política e como o mundo se porta com a China e as organizações supranacionais”, finalizou.